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Sanae Takaichi pode ser a primeira mulher premiê do Japão

Sanae Takaichi pode ser a primeira mulher premiê do Japão

O Japão está prestes a viver um momento histórico. O Partido Liberal Democrata (PLD), que governa o país há quase todo o período pós-Segunda Guerra, elegeu neste sábado (4) a conservadora Sanae Takaichi como sua nova líder — abrindo caminho para que ela se torne a primeira mulher premiê do Japão.

Aos 64 anos, Takaichi derrotou o ministro da Agricultura, Shinjiro Koizumi, filho do ex-primeiro-ministro Junichiro Koizumi, em um segundo turno da votação interna do PLD. Com a coalizão governista detendo maioria no parlamento, a votação marcada para o próximo dia 15 de outubro deve confirmá-la no cargo de primeira-ministra, substituindo o atual premiê Shigeru Ishiba.

A Bolsa de Tóquio registrou forte alta nesta segunda-feira (6), impulsionada pela reação dos mercados à escolha da ultraconservadora Takaichi como nova líder do governista PLD. O índice Nikkei avançou 4,75%, encerrando o pregão no recorde histórico de 47.944,76 pontos. O salto ocorreu em meio ao enfraquecimento do iene, que ultrapassou a marca de 150 por dólar — um movimento que tradicionalmente beneficia as exportadoras japonesas.

Futura primeira mulher premiê do Japão tem inspiração em Margaret Thatcher

Ex-ministra dos Assuntos Internos e da Segurança Econômica, Takaichi é uma das figuras mais conhecidas — e também controversas — da política japonesa. Conhecida por seu estilo firme, pela paixão pelo heavy metal e pelo conservadorismo nacionalista, ela já foi apresentadora de TV e é considerada uma herdeira política do falecido ex-premiê Shinzo Abe.

Inspirada em Margaret Thatcher, a “Dama de Ferro” britânica dos anos 1980, Takaichi defende uma política fiscal expansionista e já criticou abertamente os aumentos das taxas de juros promovidos pelo Banco do Japão. Sua proposta é retomar os pilares do “Abenomics”, estratégia econômica que combina grandes gastos públicos com política monetária ultra flexível — o que tem causado apreensão entre investidores, especialmente diante do alto endividamento do país.

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Segundo Naoya Hasegawa, estrategista-chefe da Okasan Securities, a vitória de Takaichi reduziu as chances de uma alta de juros neste mês, antes estimadas em 60%.

Desafios internos e externos

A primeira mulher premiê do Japão, caso seja confirmada no cargo, herdará um partido em crise e um país com sérios desafios econômicos. O PLD perdeu popularidade nos últimos anos, pressionado pela inflação persistente, estagnação dos salários e aumento do custo de vida.

“Ultimamente tenho ouvido vozes duras de todo o país dizendo que não sabem mais o que o PLD representa”, declarou Takaichi antes da votação final. “Essa sensação de urgência me impulsionou. Quis transformar a ansiedade das pessoas sobre o presente e o futuro em esperança.”

A nova líder também deverá lidar com a ascensão de partidos de oposição que atraem eleitores jovens com promessas de estímulos econômicos e restrições à imigração — uma mudança significativa no cenário político japonês.

Relações internacionais em foco

No campo diplomático, Takaichi promete revisar um acordo tarifário firmado com o presidente dos EUA, Donald Trump, que reduziu tarifas americanas em troca de investimentos bancados pelos contribuintes japoneses.

O embaixador dos Estados Unidos em Tóquio, George Glass, parabenizou Takaichi pela vitória, destacando a expectativa de “fortalecer a parceria Japão-EUA em todas as frentes”.

No entanto, suas posições nacionalistas devem gerar desconforto em países vizinhos. Takaichi é conhecida por visitar com frequência o santuário Yasukuni — local onde estão enterrados mortos da guerra e que, para China e Coreia do Sul, simboliza o passado militarista do Japão.

Com um estilo que divide opiniões e um discurso de mudança firme, Sanae Takaichi representa tanto uma ruptura histórica quanto uma incógnita política. Sua possível ascensão como primeira mulher premiê do Japão marca não apenas um novo capítulo na história do país, mas também um teste para o futuro da democracia japonesa em meio a ventos de conservadorismo e crise econômica.

Revisão da constituição pacifista

A nova líder do PLD reforçou sua posição de política externa firme, defendendo uma postura de linha dura em relação à China e propondo a revisão da constituição pacifista japonesa — em especial o Artigo 9, que impede o país de declarar guerra ou manter forças armadas com potencial ofensivo – postura que o país mantém desde o fim da Segunda Guerra Mundial.

Takaichi, ex-ministra da Segurança Econômica, é amplamente vista como uma aliada próxima de Taiwan, o que deve gerar desconforto em Pequim. O presidente taiwanês, Lai Ching-te, parabenizou a conservadora japonesa por sua eleição e a chamou de “amiga leal de Taiwan”, em publicação feita no sábado na rede X (antigo Twitter). Lai também expressou o desejo de “elevar as relações Taiwan-Japão a um novo patamar”.

Na semana passada, Takaichi também expressou ceticismo em relação ao atual acordo comercial entre Japão e Estados Unidos. Em entrevista à emissora Fuji TV, afirmou que uma “reformulação” do pacto não está descartada, referindo-se à promessa de investimento japonês de US$ 550 bilhões feita no âmbito do acordo firmado com o governo Trump.

As declarações reforçam o perfil assertivo da política, que combina nacionalismo, conservadorismo econômico e uma diplomacia mais independente — fatores que, segundo observadores, podem redefinir o papel do Japão no cenário internacional caso Takaichi seja confirmada como a primeira mulher premiê do Japão.