Roberto Campos Neto está prestes a deixar o cargo de presidente do Banco Central (BC) neste ano, e o diretor de Política Monetária da autarquia, Gabriel Galípolo, é o nome mais cotado para sucedê-lo. Em entrevista ao jornal O Globo, Campos Neto destacou a importância de seu sucessor ser julgado pelas decisões técnicas, e não por suas escolhas pessoais, como a cor da camisa que veste ou os eventos que participa. Ele frisou que a proximidade com o governo ou agentes políticos faz parte do trabalho, mas que isso não deve comprometer a autonomia do BC.
As colocações se referem às críticas que recebeu de pessoas do governo e do próprio presidente Luiz Inácio Lula da Silva por ter ido às urnas em 2022 vestindo a camisa da seleção brasileira de futebol (marca dos apoiadores de Jair Bolsonaro) e ter participado de eventos com membros do governo anterior – vale dizer que Campos Neto foi indicado ao cargo por Bolsonaro.
Roberto Campos Neto: mercado projeta alta da Selic, mas economistas não
Durante a entrevista, Campos Neto abordou diversos temas, incluindo as especulações sobre uma possível alta de juros. Segundo ele, o Comitê de Política Monetária (Copom) não deu orientações claras sobre a próxima reunião, mas ele observou que o cenário internacional melhorou significativamente nas últimas semanas. Enquanto o mercado aposta em um aumento das taxas, Campos Neto reforçou que os economistas ainda não preveem tal movimento para este ano.
Ele também revelou que o Banco Central esteve perto de intervir no câmbio, mas a decisão de não intervir se mostrou acertada, já que o mercado se estabilizou. Campos Neto explicou que, embora tenha havido momentos de volatilidade, o BC preferiu aguardar, evitando uma intervenção que poderia ter causado disfuncionalidades em outros mercados.
Forte espírito de equipe no BC
Sobre as críticas que o BC recebeu ao longo de seu mandato, Campos Neto disse que as recentes reuniões do Copom foram marcadas por um forte espírito de equipe e que o ambiente interno é mais coeso do que nunca. Ele também abordou as críticas feitas pelo presidente Lula, afirmando que prefere focar nas entregas de sua gestão e deixar as críticas políticas de lado.
Uso da camisa da seleção
Um dos pontos mais polêmicos da entrevista foi a pergunta sobre sua escolha de usar uma camisa da seleção brasileira no dia de uma votação. Campos Neto admitiu que hoje teria agido de forma diferente, mas ressaltou que a autonomia do Banco Central é provada por suas ações ao longo do tempo, não por gestos simbólicos.
Quem será o sucessor de Campos Neto?
Em relação ao futuro, Roberto Campos Neto enfatizou que não está preocupado com a perda de poder, mas sim com a continuidade das políticas e do trabalho do BC. Ele destacou que, independente de quem assuma o cargo, o próximo presidente do Banco Central deve ser firme e técnico, sabendo resistir às pressões e críticas inevitáveis.
Ao final, ele reforçou que seu maior desejo é que seu sucessor, seja Gabriel Galípolo ou outro nome, seja avaliado pelas decisões técnicas que tomar, e não por questões pessoais.