O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, anunciou neste domingo (21) que desistirá da corrida presidencial de 2024, uma decisão surpreendente após semanas de pressão para que o democrata abandonasse a disputa contra Donald Trump. Com a desistência de Biden, a vice-presidente Kamala Harris surge como uma das principais candidatas para assumir a candidatura democrata. Mas, afinal, quem é e o que pensa a provável substituta de Biden?
Kamala Harris, de 59 anos, é filha de mãe indiana e pai jamaicano, e a primeira mulher a ocupar a vice-presidência dos EUA. Sua candidatura tem o apoio de Joe Biden. Em uma postagem nas redes sociais, Biden declarou seu “total apoio e endosso para que Kamala seja a candidata de nosso partido este ano” e acrescentou: “Democratas, é hora de nos unirmos e derrotarmos Trump. Vamos fazer isso.”
Harris respondeu dizendo que fará “tudo ao meu alcance para unir o Partido Democrata – e unir nossa nação – para derrotar Donald Trump e sua agenda extrema”.
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Quem é Kamala Harris
Nascida em 20 de outubro de 1964, Kamala Harris, atual vice-presidente dos Estados Unidos, pode se tornar a primeira mulher a liderar a Casa Branca. Filha de uma pesquisadora em oncologia e de um professor de economia de ascendência jamaicana, Harris nasceu em Oakland, Califórnia.
Formada em Direito e Ciências Políticas, ela atuou como procuradora da cidade de São Francisco e, posteriormente, do estado da Califórnia. Entre 2017 e 2020, ela serviu como senadora pelo estado.
Harris lançou sua pré-candidatura à presidência para as eleições de 2020 e chegou a liderar algumas pesquisas dentro do Partido Democrata. No entanto, perdeu apoio e desistiu da corrida por falta de recursos financeiros.
Sua experiência como promotora frequentemente a colocou em conflito com os grupos mais à esquerda do partido, que enxergam o sistema de justiça criminal como um meio de perpetuar desigualdades. Ainda assim, Harris é considerada uma moderada dentro do Partido Democrata.
Ela tem uma postura firme em questões econômicas, tendo desempenhado um importante papel nas negociações por indenizações de instituições financeiras em razão da crise das hipotecas de 2008. Além disso, Harris é defensora de programas sociais e apoia a ampliação da ação estatal na promoção dessas iniciativas.
Origem do seu nome
Em 2016, durante sua campanha para o Senado, um vídeo ensinou como pronunciar corretamente o nome de Kamala Harris: “Kâma-la”. No prefácio de seu livro de memórias, “The Truths We Hold” (2019), Harris explica que seu nome significa “flor de lótus”, um símbolo importante na cultura indiana.
O atual candidato do Partido Republicano, Donald Trump, pronunciou o nome de Kamala incorretamente várias vezes. Em 2020, ele afirmou que ela mesma “não o pronunciava corretamente”.
Popularidade de Kamala
Pesquisas recentes indicam que Harris poderia se sair melhor que Biden em uma disputa contra Trump. Democratas influentes já sinalizaram que a atual vice-presidente é a melhor opção para liderar a chapa do partido.
No entanto, Harris enfrenta problemas de popularidade, apesar da visibilidade de seu cargo. A maioria dos americanos tem uma visão negativa dela, assim como do atual e do ex-presidente. Segundo uma pesquisa da FiveThirtyEight, 37,1% dos eleitores aprovam Harris e 49,6% desaprovam. Esses números se comparam a 36,9% de aprovação e 57,1% de desaprovação para Biden, e 38,6% de aprovação e 53,6% de desaprovação para Trump.
Apoiadores da vice-presidente destacam uma pesquisa recente da CNN que sugere que ela se sairia melhor do que Biden na disputa contra Trump nas eleições de novembro. Em um confronto direto, Harris aparece apenas dois pontos atrás do republicano, enquanto Biden ficaria seis pontos atrás.
A pesquisa, realizada antes do atentado contra Trump, também indicou que Harris teria um desempenho melhor do que Biden entre eleitores independentes e mulheres. Desde que a Suprema Corte revogou o direito constitucional ao aborto em 2022, Harris se tornou a principal voz do governo Biden em direitos reprodutivos, uma questão que os democratas estão apostando para ajudá-los a vencer a eleição de 2024.
Luta pelas Liberdades Reprodutivas
Durante seu mandato como vice-presidente, Kamala Harris focou em várias iniciativas importantes e desempenhou um papel central em algumas das conquistas mais elogiadas do governo Biden.
Ela liderou a campanha “Luta pelas Liberdades Reprodutivas”, defendendo o direito das mulheres de tomarem decisões sobre seus próprios corpos.
Harris destacou os danos causados pela proibição do aborto e pediu ao Congresso que restaurasse as proteções do caso Roe v. Wade, que garantiam o direito ao aborto nos EUA até serem revogadas pela Suprema Corte em 2022.
Lei de Redução da Inflação
Ela também se destacou com seu voto para aprovar a Lei de Redução da Inflação e o Plano de Resgate Americano, que forneceu financiamento emergencial para enfrentar a pandemia de COVID-19, incluindo pagamentos de auxílio. Além disso, seu voto de desempate foi definitivo para a confirmação do juiz Ketanji Brown Jackson na Suprema Corte.
Kamala Harris estabeleceu um recorde histórico ao dar o maior número de votos de desempate de qualquer vice-presidente na história do Senado, demonstrando um dos poderes essenciais de seu cargo.
Biden e Harris
A primeira aproximação entre Kamala Harris e Joe Biden ocorreu durante as negociações com os bancos em 2011. Naquela época, Beau Biden, filho do então vice-presidente, era o procurador-geral de Delaware, enquanto Kamala ocupava o mesmo cargo na Califórnia. Os dois se tornaram grandes amigos.
“Havíamos construído uma relação de apoio mútuo”, escreveu Harris sobre Beau Biden em seu livro de memórias de 2019. “Durante períodos difíceis, quando eu estava sob intenso ataque, Beau e eu conversávamos todos os dias”, relembra Harris, “às vezes várias vezes ao dia”.

No entanto, em 2019, quando Harris era pré-candidata à presidência, ela teve um sério desentendimento com Joe Biden durante um debate entre os postulantes democratas. Harris afirmou que não considerava Biden racista, “mas foi doloroso ouvi-lo falar sobre dois senadores dos Estados Unidos que construíram sua reputação e carreira na segregação racial”.
Essa declaração, referindo-se a menções antigas de Biden a parlamentares contrários ao fim da segregação racial nas escolas americanas, gerou tensão. “Eu estava preparado para todos me atacarem”, disse Biden à CNN na ocasião. “Mas não para a pessoa que me atacou do jeito que me atacou. Ela conhecia Beau, ela me conhece.”
Embora ambos afirmem que as desavenças foram superadas, essas tensões foram consideradas até os momentos finais antes do anúncio da escolha de Kamala Harris como vice-presidente.