A recente aprovação pela Câmara dos Deputados do projeto que amplia a isenção do Imposto de Renda trouxe perspectivas concretas sobre como economizar com o novo IR se tornará realidade para milhões de brasileiros. A proposta, que aguarda tramitação no Senado e sanção presidencial, promete alterar significativamente o cenário tributário nacional a partir de janeiro de 2026, elevando o teto de isenção de R$ 3.036 para R$ 5 mil mensais.
Economia real: quanto fica no seu bolso?
A nova regra do Imposto de Renda estabelece um mecanismo de desoneração que beneficia de forma escalonada diferentes faixas salariais. Para ilustrar o impacto prático dessas mudanças, é fundamental analisar cenários específicos que demonstrem a economia efetiva mensal e anual.
Contribuintes com renda mensal de R$ 3 mil já se encontram na faixa de isenção atual, portanto não experimentarão alterações em sua tributação. Essa parcela da população, que representa os rendimentos até dois salários mínimos, permanece contemplada pelas regras vigentes desde ajustes anteriores.
Para quem recebe R$ 5 mil mensais, a mudança representa isenção total do Imposto de Renda. A economia mensal alcança R$ 334,51, resultando em ganho anual de R$ 4.356,89 quando computado o décimo terceiro salário. Esse montante equivale a quase 90% de um salário mensal adicional, representando impacto financeiro significativo no planejamento orçamentário anual.
Faixa intermediária: desconto progressivo até R$ 7.350
A proposta aprovada introduz um conceito inovador de desconto progressivo para rendimentos entre R$ 5.001 e R$ 7.350. Esse mecanismo evita o efeito negativo de perda abrupta do benefício, garantindo que a transição entre faixas seja gradual e justa. O sistema estabelece percentuais decrescentes conforme a renda aumenta, partindo de 75% de desconto para quem ganha R$ 5.500 até 25% para rendimentos de R$ 6.500.
Profissionais com salário de R$ 5.500 receberão desconto de 75% sobre o que seria devido, gerando economia anual de R$ 3.367,68. Já para quem recebe R$ 6 mil, o desconto cai para 50%, resultando em ganho de R$ 2.350,79 ao ano. Na faixa de R$ 6.500, o benefício diminui para 25%, proporcionando economia anual de R$ 1.333,90. Essa gradação evita a chamada armadilha da faixa tributária, onde um pequeno aumento salarial poderia resultar em perda líquida de renda.
Para rendimentos de R$ 7 mil mensais, a economia ainda será relevante, totalizando cerca de R$ 600 anuais. Importante ressaltar que contribuintes com renda de até R$ 7.350 permanecem com as alíquotas progressivas tradicionais de 7,5%, 15%, 22,5% e 27,5%, mas recebem o desconto adicional sobre o imposto calculado. Acima desse valor, o benefício deixa de existir completamente.
Para rendimentos de R$ 8 mil mensais, que ultrapassam o teto de R$ 7.350 estabelecido para o desconto progressivo, não haverá alteração na tributação. Esses contribuintes continuarão seguindo a tabela progressiva tradicional do IR, sem qualquer redução em seus descontos mensais. É importante destacar que economizar com o novo IR será privilégio exclusivo daqueles cuja remuneração se enquadre nas faixas beneficiadas pela reforma.
Compensação fiscal: tributação dos rendimentos elevados
Para viabilizar financeiramente a ampliação da isenção, estimada em R$ 25,8 bilhões de impacto aos cofres públicos em 2026, o projeto estabelece contrapartidas através da tributação progressiva de rendimentos superiores. A medida introduz alíquota de até 10% sobre ganhos anuais acima de R$ 600 mil, atingindo o percentual máximo para rendimentos a partir de R$ 1,2 milhão anuais.
A mudança mais significativa para investidores e empresários de alto patrimônio diz respeito à tributação de lucros e dividendos. Atualmente isentos, esses rendimentos passarão a sofrer incidência de 10% quando a distribuição mensal para um mesmo sócio ultrapassar R$ 50 mil. Essa alteração representa mudança estrutural no modelo tributário brasileiro, historicamente favorável à renda de capital em detrimento da renda do trabalho.
O projeto estabelece salvaguardas para evitar bitributação excessiva, limitando a cobrança total sobre dividendos a 34% para empresas convencionais e 45% para instituições financeiras. Profissionais que já recolhem a alíquota máxima de 27,5% do IR em folha não serão atingidos pela nova cobrança, preservando a progressividade do sistema tributário sem criar sobreposições de impostos sobre a mesma base de rendimento.
Panorama ampliado: mais de 26 milhões de isentos
Caso sancionado integralmente, o Brasil contabilizará mais de 26,6 milhões de contribuintes isentos do Imposto de Renda, representando aproximadamente 65% do total de declarantes. Esse contingente inclui os atuais 15,2 milhões já isentos, acrescidos de quase 2 milhões beneficiados por legislação recente e os 10 milhões que ingressarão na faixa de isenção com a nova proposta. A magnitude desses números evidencia o alcance social da medida e seu potencial impacto na redistribuição de renda e no poder aquisitivo das classes médias.
Para o público de alta renda, compreender essas transformações transcende o interesse pessoal direto. As mudanças no Imposto de Renda sinalizam reorientação da política fiscal brasileira, com possíveis desdobramentos para planejamento patrimonial, estratégias de remuneração empresarial e distribuição de lucros. Acompanhar a tramitação no Senado e eventuais alterações ao texto será fundamental para ajustar estratégias financeiras antes da vigência prevista para janeiro de 2026.
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