Os preços do café sobem nas principais bolsas internacionais nesta terça-feira (21), impulsionados por temores sobre oferta e pela possibilidade de novas tarifas comerciais sobre o produto. O movimento acendeu um alerta em toda a cadeia do agronegócio, que teme um novo ciclo de instabilidade global no mercado de commodities agrícolas.
Em Nova Iorque, o contrato dezembro/25 subiu 1,81%, atingindo 413,55 cents por libra-peso, enquanto os contratos futuros de março, maio e julho de 2026 também registraram altas expressivas, acima de 2%. Na Bolsa de Londres, o avanço foi semelhante, com o contrato novembro/25 encerrando o dia em US$ 4.620 por tonelada, alta de 2,25%.
O aumento ocorre num contexto de estoques em baixa e incertezas comerciais. Segundo dados da ICE, os estoques de café arábica recuaram para o menor nível em 19 meses, somando apenas 467 mil sacas. Esse desequilíbrio entre oferta e demanda reforça a escalada de preços e preocupa torrefadores e importadores, principalmente nos Estados Unidos.
Estoques em queda e retração de compradores ampliam o impacto
Além do aperto na oferta, o mercado sofre os efeitos diretos das novas tarifas aplicadas pelo governo norte-americano. Compradores dos EUA estão cancelando contratos com exportadores brasileiros, depois da decisão de Washington de impor uma tarifa de 50% sobre o café não torrado vindo do Brasil.
A medida afeta diretamente o fluxo comercial, já que cerca de um terço do café cru importado pelos EUA tem origem brasileira. Com isso, torrefadores americanos buscam alternativas em outros países produtores, como Vietnã e Etiópia, mas enfrentam limitações logísticas e de qualidade.
Especialistas afirmam que o impacto deve se estender ao consumidor final, com possível alta nos preços do café nos mercados interno e externo. Segundo analistas da Barchart, o cenário atual lembra os choques de oferta de 2021, quando problemas climáticos e gargalos logísticos elevaram os preços a níveis recordes.
Governo brasileiro tenta reverter tarifaço e reduzir tensões
O vice-presidente Geraldo Alckmin afirmou nesta quarta-feira (22) que reverter o tarifaço do café é uma das prioridades da diplomacia econômica brasileira. Em reunião com representantes do setor, Alckmin garantiu que o governo está negociando com os Estados Unidos para suspender a sobretaxa de 50% aplicada ao produto.
Segundo ele, o “plano A” do Brasil é obter uma suspensão temporária das tarifas enquanto as negociações para um acordo comercial avançam. O vice-presidente afirmou que o pedido já foi formalmente entregue ao secretário de Estado americano, Marco Rubio, e reforçado pelo chanceler Mauro Vieira.
O “plano B”, caso não haja avanço imediato, seria incluir o café na lista de produtos isentos de tarifa — anexo criado pelo governo americano para bens considerados “recursos naturais indisponíveis” nos EUA. O documento inclui itens como ferro, carne e ligas de aço, todos relevantes para a pauta de exportações do Brasil.
Marcos Matos, presidente do Cecafé, disse que o café está no topo da lista de prioridades: “O presidente em exercício afirmou que o café é prioridade tanto para o Brasil quanto para os Estados Unidos. Se o produto for incluído na lista de exceções, passará a ser totalmente isento de tarifas.”
Enquanto isso, o setor cafeeiro brasileiro aguarda a decisão americana, ciente de que o desfecho das negociações pode determinar o rumo dos preços internacionais do café nos próximos meses.
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