A taxa de desocupação medida pela PNAD Contínua no trimestre encerrado em março de 2025 ficou em 7%, dentro da expectativa do mercado de 7% e uma leve alta em relação aos 6,2% registrados no trimestre anterior, mas ainda inferior aos 7,9% do mesmo período de 2024. Apesar do crescimento trimestral, este foi o menor índice de desocupação da PNAD já registrado para um primeiro trimestre desde o início da série histórica da pesquisa, superando o desempenho de março de 2014 (7,2%).
Essa variação positiva na taxa de desocupação foi impulsionada pelo aumento de 13,1% na população desocupada em comparação ao trimestre anterior, o que representa mais 891 mil pessoas em busca de trabalho. Ainda assim, o número total de desocupados segue 10,5% abaixo do registrado no mesmo período do ano passado, o que confirma a tendência de melhora do mercado de trabalho.
Taxa de desocupação impacta o desempenho geral
Outro fator que influenciou o aumento da taxa de desocupação da PNAD foi a retração de 1,3% na população ocupada, que corresponde a menos 1,3 milhão de trabalhadores em relação ao trimestre anterior. Apesar da queda, o nível de ocupação ainda está 2,3% acima do registrado no primeiro trimestre de 2024, evidenciando um saldo positivo no comparativo anual.
Os empregos sem carteira assinada foram os mais afetados: houve queda de 5,3% nesse segmento, com destaque para setores como Construção, Serviços Domésticos e Educação. Já os trabalhadores com carteira assinada permaneceram estáveis, totalizando 39,4 milhões de pessoas.
Setores econômicos mostram desempenho misto
Na comparação trimestral, nenhum setor de atividade teve aumento na ocupação. A Construção registrou a maior queda proporcional (5,0%), seguida por Alojamento e Alimentação (3,3%) e Serviços Domésticos (4,0%). O setor público também foi afetado, com redução de 1,6% no contingente de ocupados.
Por outro lado, em relação ao mesmo período de 2024, houve recuperação em setores como Indústria Geral (3,3%), Comércio (3,1%) e Transporte (4,4%). A Administração Pública também cresceu (4,0%), com destaque para as áreas de saúde e educação.
Rendimento médio atinge novo recorde
Apesar da oscilação no emprego, o rendimento médio real dos trabalhadores alcançou R$ 3.410, o maior valor da série histórica iniciada em 2012. Houve crescimento de 1,2% em relação ao trimestre anterior e de 4,0% na comparação anual. Entre os setores com maior avanço na renda estão Agricultura, Construção e Serviços Públicos.
O mercado de trabalho brasileiro continua apresentando sinais de força, mesmo diante de uma leve alta na taxa de desemprego em março, segundo avaliação de Stephan Kautz, economista-chefe da EQI Asset. Para ele, tanto os dados da PNAD Contínua quanto os números do Caged indicam que o cenário ainda é positivo e longe de qualquer deterioração estrutural.
“A taxa de desemprego subiu no mês, mas, quando ajustada sazonalmente, permanece estável em 6,5%, o menor nível dos últimos anos”, afirmou o economista. Na visão de Kautz, a estabilidade nesse patamar reforça a resiliência do mercado de trabalho, que segue apertado.
Além disso, ele destaca a alta na ocupação e o avanço da renda real, que continua crescendo cerca de 4% acima da inflação — mesmo com a aceleração recente dos preços ao consumidor, que já se aproxima de 5%. “Os salários nominais estão entre 9,5% e 10%, o que mostra um mercado ainda aquecido”, observou.
Sobre o Caged, Kautz reconhece que o resultado bruto foi mais fraco, mas atribui essa desaceleração a fatores sazonais, como o Carnaval e a concentração de feriados durante o mês. “O resultado ainda foi bastante forte, fazendo a média por dias úteis”, disse. Segundo ele, todos os setores registraram alta nas admissões, e os salários de contratação também voltaram a subir.
Para o economista, não há sinais de contração relevante no mercado de trabalho. A leitura, portanto, é de que os números mais fracos refletem efeitos pontuais e não indicam uma mudança na tendência. Ainda assim, ele faz um alerta: o aumento da renda real e a retomada da alta nos preços de serviços são fatores que podem reacender preocupações do Banco Central. “O mercado de trabalho no Brasil continua forte, não tem necessariamente ainda um repasse claro para a inflação, mas a gente já vê os serviços subindo nos últimos meses e o aumento da renda continua bastante robusto”, concluiu.
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