Em entrevista à BandNews FM nesta terça-feira (12), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva falou sobre as medidas que o governo federal adotará para mitigar os efeitos da taxação de 50% imposta pelos Estados Unidos sobre produtos brasileiros. O destaque da entrevista foi a confirmação da assinatura, prevista para esta quarta-feira (13), da Medida Provisória (MP) que cria uma linha de crédito de R$ 30 bilhões para empresas afetadas pelo chamado “tarifaço” americano.
“O amanhã vou assinar a MP que cria linha de crédito de R$ 30 bilhões para empresas que tiverem prejuízo com tarifaço”, afirmou Lula, reforçando que o governo pretende com a medida proteger os setores impactados. “Ninguém vai ficar desamparado; vamos cuidar dos trabalhadores; vamos achar novos mercados”, garantiu.
Além da linha de crédito, o plano de contingência incluirá compras governamentais e um programa de conteúdo nacional para estimular a produção interna, além de atenção especial ao setor do café. “Vamos cuidar da questão do café com carinho”, afirmou.
Críticas à política tarifária dos EUA e postura de Trump
Lula classificou a justificativa norte-americana para a taxação como “mentirosa”, pois, segundo ele, os EUA alegam um déficit comercial com o Brasil que não corresponde à realidade.
“Não deveria ser o Trump que deveria estar taxando o Brasil, mas o contrário”, criticou, acrescentando que o ex-presidente americano tem agido com “anormalidade” e “trato de superioridade” em questões econômicas, chegando a chamá-lo de “imperador do mundo”.
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O presidente brasileiro ressaltou a importância de preservar a relação histórica entre os dois países, defendendo que o diálogo seja mantido “como chefes de Estado, sem viés político, mas defendendo interesses de países”.
Reforma nas relações comerciais e valorização do comércio em moedas locais
Sobre a dependência do dólar nas transações comerciais, Lula defendeu uma mudança estrutural.
“Nós não podemos ficar dependendo do dólar, que é moeda de um único país”, disse.
Ele sugeriu a negociação direta com países como a China nas moedas locais, brasileiras e chinesas.
“Tudo que significa mudança é complicado, tem muita resistência”, disse, mas reafirmou: “Nós podemos discutir nos BRICS uma moeda de comércio entre nós; não recuo dessa ideia. Precisa alguém me convencer de que estou errado”.
Acordo Mercosul-União Europeia em discussão
Na entrevista, Lula comentou as divergências com o presidente francês Emmanuel Macron sobre o acordo comercial entre Mercosul e União Europeia.
“Conversei com Macron; temos divergências sobre acordo UE/Mercosul. Acho um erro do Macron; é uma bobagem ser contra”, declarou.
O presidente planeja ainda contato com a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, para cobrar uma posição mais favorável ao Mercosul, lembrando que a UE cedeu “com facilidade para o Trump” e questionando por que não faria o mesmo com o bloco sul-americano.
Exploração de terras raras: iniciativa para agregar valor à mineração
Lula anunciou a criação de um conselho subordinado à Presidência da República para discutir a exploração das terras raras brasileiras. Ele ressaltou que o Brasil deve agregar valor aos seus minérios localmente:
“Se alguém quiser nosso minério, vamos produzir aqui os materiais com esses minérios. Vamos usar isso como forma desse país ter um salto de qualidade”.
Sobre o interesse americano nas terras raras, o presidente enfatizou que essa pauta deve ser discutida em mesas de negociação, “não com taxação”.
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