A Coreia do Sul acusou formalmente a empresa chinesa de inteligência artificial DeepSeek de coletar e transferir dados pessoais de usuários locais para a China e os Estados Unidos, sem autorização. A conclusão veio após uma investigação conduzida pela Comissão de Proteção de Informações Pessoais (PIPC), a autoridade de proteção de dados do país.
A investigação resultou em um relatório detalhado divulgado na última quinta-feira (17). O documento aponta que, enquanto operava em solo sul-coreano, a DeepSeek violou leis locais de privacidade ao repassar dados a terceiros fora do país sem informar nem obter o consentimento dos usuários.
Transferência de dados da DeepSeek
Entre os dados transferidos estavam informações sensíveis, como prompts escritos pelos usuários em interações com o chatbot da empresa, além de dados sobre dispositivos, redes e aplicativos utilizados. Esses dados foram enviados, segundo a PIPC, a empresas na China e nos EUA. Um dos principais destinos foi a Beijing Volcano Engine Technology Co., plataforma em nuvem identificada como afiliada da ByteDance, empresa controladora do TikTok, embora a PIPC destaque que a Volcano Engine seja “uma entidade legal separada”.
A DeepSeek teria justificado o uso da Volcano Engine como parte de uma tentativa de melhorar a segurança e a experiência do usuário. No entanto, apenas a partir de 10 de abril a transferência de prompts de IA foi suspensa.
Medidas e consequências
Como resposta às violações, a PIPC recomendou uma série de ações corretivas. Entre elas, a destruição imediata dos dados já transferidos e a implementação de protocolos legais adequados para qualquer transferência futura de informações pessoais ao exterior.
Desde fevereiro, por recomendação da própria PIPC, o aplicativo da DeepSeek foi removido das lojas digitais sul-coreanas. A liberação para retorno só ocorrerá quando a empresa demonstrar conformidade com as normas locais de proteção de dados.
Preocupações globais com a DeepSeek
O caso da DeepSeek gerou repercussão além das fronteiras sul-coreanas. Governos como os de Taiwan, Austrália e Estados Unidos também impuseram restrições ao uso do aplicativo em dispositivos oficiais. A preocupação é agravada pela política chinesa que exige que empresas locais compartilhem dados com o governo da República Popular da China, o que levanta questionamentos sobre a segurança de dados fora do país asiático.
Apesar de críticas, a DeepSeek chamou a atenção do setor de IA no início de 2025 ao lançar o modelo de raciocínio R1, comparável em desempenho a modelos ocidentais, mesmo sendo desenvolvido com menos recursos e hardware mais simples.
Privacidade em xeque
O caso expõe um problema crescente: a fragilidade das fronteiras digitais diante do avanço acelerado da inteligência artificial. Em tempos de globalização tecnológica, práticas como as da DeepSeek reforçam a necessidade de regulamentações mais rígidas e cooperação internacional para proteger dados pessoais e garantir transparência nas relações digitais.
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