O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central decidiu, nesta quarta-feira (5), manter a taxa básica de juros, a Selic, em 15% ao ano. A decisão, unânime, reflete a avaliação de que o cenário econômico — tanto externo quanto doméstico — segue marcado por incertezas elevadas e expectativas de inflação acima da meta.
Em comunicado divulgado após a reunião, o Copom afirmou que a manutenção da Selic é “compatível com a estratégia de convergência da inflação para o redor da meta ao longo do horizonte relevante de política monetária”.
O colegiado, presidido por Gabriel Galípolo, destacou que a política monetária “deve permanecer em patamar significativamente contracionista por período bastante prolongado” para garantir a estabilidade de preços.

Copom mantém Selic: ambiente externo segue incerto
O comitê avaliou que o ambiente internacional continua desafiador, especialmente por conta da condução da política econômica nos Estados Unidos e das tensões geopolíticas que têm impactado as condições financeiras globais. Diante desse quadro, o Banco Central afirmou que países emergentes precisam agir com “particular cautela”.
Inflação ainda acima da meta
No cenário doméstico, o Copom reconheceu uma moderação no ritmo de crescimento da atividade econômica, embora o mercado de trabalho siga aquecido. As leituras mais recentes de inflação mostraram algum arrefecimento, mas ainda permanecem acima do centro da meta, de 3% ao ano.
Segundo o comunicado, as expectativas de inflação captadas pela pesquisa Focus estão em 4,5% para 2025 e 4,2% para 2026, ambas acima da meta. Para o segundo trimestre de 2027 — horizonte considerado relevante para a política monetária — a projeção do próprio Copom é de 3,3%, no cenário de referência.
Riscos seguem elevados
O colegiado apontou que os riscos para a inflação continuam mais altos que o usual, tanto no sentido de alta quanto de baixa. Entre os riscos de alta, estão a possibilidade de desancoragem prolongada das expectativas de inflação, a resiliência dos preços de serviços e uma depreciação cambial persistente. No lado oposto, o Banco Central cita a chance de desaceleração mais forte da economia doméstica, queda nas commodities e recuo mais intenso da atividade global.
O Copom também afirmou estar acompanhando os efeitos da imposição de tarifas comerciais pelos Estados Unidos ao Brasil e o impacto da política fiscal doméstica sobre a condução da política monetária e os ativos financeiros.
Postura vigilante
Em tom considerado conservador, o comitê reforçou que manterá a Selic no nível atual por tempo prolongado e que não hesitará em retomar o ciclo de ajustes caso a trajetória de convergência da inflação seja ameaçada.
“O cenário atual, marcado por elevada incerteza, exige cautela na condução da política monetária”, destacou o comunicado.
A decisão foi unânime e contou com os votos de Gabriel Muricca Galípolo (presidente), Ailton de Aquino Santos, Diogo Abry Guillen, Gilneu Francisco Astolfi Vivan, Izabela Moreira Correa, Nilton José Schneider David, Paulo Picchetti, Renato Dias de Brito Gomes e Rodrigo Alves Teixeira.
Para Stephan Kautz, economista-chefe da EQI Investimentos, a decisão veio sem surpresas e reforça a postura cautelosa da autoridade monetária.
“A comunicação não trouxe grandes mudanças, com alguns detalhes mais ‘dove’”, afirmou Kautz. Segundo ele, o Banco Central reconheceu sinais de moderação no crescimento econômico e algum arrefecimento da inflação, “mas que ainda permanece acima da meta”.
O economista destacou que a projeção de inflação para o horizonte relevante — o segundo trimestre de 2027 — recuou em 10 pontos-base, para 3,3%, enquanto a estimativa para 2026 seguiu estável, em 3,6%.
Além disso, o Copom indicou que a atual taxa de juros é suficiente para conduzir a inflação à meta, mas manteve o alerta de que pode voltar a elevar a Selic se considerar necessário. “Assim, o Copom manteve uma comunicação dura, com alterações apenas marginais na direção de uma flexibilização monetária”, avaliou Kautz.
Para ele, o início do ciclo de cortes de juros deve ocorrer apenas no próximo ano. “Continuamos esperando que o ciclo de cortes se inicie em janeiro de 2026, porém a comunicação dura de hoje aumenta a chance de uma postergação para março”, concluiu.
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