Na Cúpula dos Brics realizada no Rio de Janeiro, os países-membros — que juntos representam cerca de 40% da população mundial — anunciaram uma proposta ousada: que os países sejam pagos pela geração de dados utilizados por sistemas de inteligência artificial (IA).
A iniciativa coloca o Brics no centro de um novo debate global que liga tecnologia, soberania digital e justiça econômica. A proposta também mira diretamente nas grandes empresas de tecnologia, conhecidas como big techs, que hoje lucram com dados sem retribuir aos seus países de origem, segundo informações do Blog Andreia Sadi.
Dados como nova commodity global
A lógica apresentada pelo Brics é clara: dados não são apenas insumos neutros ou resíduos digitais em IA. Eles são ativos valiosos, comparáveis a commodities como petróleo, soja ou minério. E como tais, deveriam ser tratados como fonte legítima de riqueza. A proposta busca transformar o atual modelo, onde os países do Sul Global apenas fornecem dados, para um em que eles sejam compensados financeiramente por essa geração.
Assim como as especiarias impulsionaram a economia nos séculos XV e XVI, e o agronegócio move a economia atual, os dados — especialmente os gerados por populações diversas e em grande escala — são o motor da IA moderna. Reconhecê-los como tal é um passo estratégico para garantir soberania digital e estimular o desenvolvimento em países historicamente excluídos dos lucros da revolução tecnológica.
Direitos, transparência e remuneração justa
O documento conjunto que deve ser divulgado pela cúpula do Brics também enfatiza a necessidade de proteger direitos autorais e de propriedade intelectual diante do uso não autorizado por algoritmos de IA. O bloco pede mecanismos que garantam remuneração justa para os detentores das informações e transparência sobre a coleta e uso dos dados.
Hoje, não se sabe com exatidão que tipo de dados são utilizados nos treinamentos de grandes modelos de IA. Isso cria um ambiente de exploração desigual, onde países em desenvolvimento fornecem o “petróleo bruto” — seus dados — sem jamais verem retorno sobre isso.
Consenso entre os líderes e foco temático
Fontes diplomáticas brasileiras confirmaram que há consenso entre os membros do bloco sobre o teor da declaração. A inteligência artificial será tratada em uma declaração temática à parte, sinalizando sua importância estratégica. Outros temas prioritários incluem financiamento para o combate às mudanças climáticas e estratégias para erradicar doenças da pobreza.
O encontro também discutirá temas sensíveis, como o apoio à ampliação do Conselho de Segurança da ONU e o tom das declarações sobre conflitos geopolíticos envolvendo membros do bloco, como o Irã.
Ausências e encontros bilaterais
Apesar da relevância dos temas, a cúpula está esvaziada. O presidente da Rússia, Vladimir Putin, não compareceu devido ao mandado de prisão do Tribunal Penal Internacional. Xi Jinping, da China, também cancelou a vinda após desconfortos diplomáticos. Ainda assim, o presidente Lula se reunirá com líderes como Narendra Modi (Índia), Abiy Ahmed (Etiópia) e Prabowo Subianto (Indonésia), fortalecendo laços bilaterais.
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