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Até onde vão os juros altos? Entenda o cenário e aproveite as oportunidades

Até onde vão os juros altos? Entenda o cenário e aproveite as oportunidades

O atual cenário de juros elevados e o risco de aumento da meta de inflação devem ser considerados na hora de compor a carteira de investimentos. 

Todos esses elementos são foco da análise de Denys Wiese, estrategista da EQI Investimentos, e Stephan Kautz, economista-chefe da EQI Asset.

O encontro entre os dois faz parte do EQI Talks, a live semanal do Investidor Inteligente. 

Quer entender até onde vão os juros altos? Acompanhe alguns dos principais insights!

Expectativas de inflação sobem semana após semana 

No cenário da economia brasileira atual, apesar da taxa de juros estar em um patamar elevado de 13,75% a.a. desde agosto de 2022, a expectativa de inflação vem subindo, semana após semana, conforme é mostrado no gráfico abaixo:

Expectativa IPCA e Selic 2023 e 2024

expectativas IPCA e Selic para 2023 e 2023

“Podemos verificar que a expectativa atual do mercado é de que o IPCA feche o ano de 2023 em 5,78%, e 2024, em 3,93%. Na semana passada, a expectativa era mais baixa entre 5,74% e 3,90%. Na semana retrasada, mais baixa ainda, entre 5,49% e 3,84%”, aponta o estrategista da EQI Investimentos, Denys Wiese. 

Inflação segura queda dos juros

Puxada pelo temor quanto ao aumento da inflação, a expectativa mais atual do mercado para a Selic, conforme o Boletim Focus, também vem subindo. Hoje, é esperado que a taxa encerre 2023 em 12,50% e 2024, em 9,75% a.a. 

Wiese lembra ainda que a proposta do governo de aumentar as metas de inflação até 2026, conforme é previsto para acontecer na reunião do CMN (Conselho Monetário Nacional), é um outro fator que deteriora ainda mais as expectativas.

“Os juros necessários para levar o IPCA à meta serão menores no curto prazo. Porém, no longo prazo, tudo isso pode gerar inflação maior e juros maiores lá na frente. Não é uma medida que foi bem recebida pelo mercado”, avalia. 

Com inflação fora da meta, EQI Asset projeta manutenção de Selic a 13,75% em 2023

A EQI Asset, depois do comunicado duro do Copom em 01/02, alterou suas projeções. Agora, segundo a gestora, deveremos ter a manutenção por todo ano de 2023, finalizando em 13,75%. O início da queda deverá ocorrer somente em 2024, terminando em 10,5%.

“As expectativas de inflação estão bem acima para esse ano. Com isso, será o terceiro ano que o banco central não alcança a meta. Além dos choques vistos durante a pandemia nos últimos anos, agora, despontam também os descolamentos à frente. Até 2026, segundo o boletim Focus, já temos previsões acima de 3%”, aponta Stephan Kautz, economista-chefe da EQI Asset. 

De acordo com Kautz, se não fosse isso, as projeções da EQI Asset indicavam que havia espaço para corte de juros. 

“Estamos no momento com uma taxa projetada de 13,75% e antes da discussão de metas acontecerem, nossa projeção era início de queda no segundo semestre para próximo de 11,50% e, em 2024, para próximo de 10%”, reforça.

gráfico juros x inflação até 2024

Já a inflação projetada tem uma trajetória de continuidade de desaceleração, sai de 5,8% para 4,4% no final do ano que vem. 

“O custo da discussão sobre subir meta de inflação, intervenção no Banco Central e a incerteza quanto à âncora fiscal faz com que as expectativas de inflação subam e mantenha a taxa Selic alta. No final das contas, uma inflação fora de controle acaba afetando mais as pessoas com menor poder aquisitivo e contribuindo para o aumento da pobreza”, reforça o economista-chefe. 

“A discussão técnica sobre a possibilidade de aumento da meta de inflação e/ou uma convergência mais lenta para uma meta mais baixa é válida e está acontecendo no mundo inteiro. O problema é que, no Brasil, isso está acontecendo com o claro objetivo de obrigar o Banco Central a cortar os juros. Isso torna os juros mais baixos, mas de forma artificial”, reitera. 

Disputa entre governo Lula e Banco Central: quem está certo?

Se de um lado, o Banco Central quer responsabilidade fiscal para levar a inflação para a meta e do outro, o governo quer juros mais baixos para que a economia possa crescer, a dúvida comum é: “quem está certo”?

“A gente sabe que o ajuste fiscal e a independência do Banco Central resultam, com o tempo, na redução da inflação, estabilizando em patamares menores. A questão é mudar a meta de inflação somente para justificar o corte de juros”, aponta Kautz. 

Para ele, a medida abre espaço para a sustentação do ambiente de incertezas mais à frente. “Ninguém pode garantir que essa medida não se repetirá, o que traz ainda mais dúvidas sobre até onde os juros poderiam chegar”, justifica.

Conforme ele reitera, os juros mais altos afetam o crescimento da economia. “Nossa projeção para o PIB de 2024 era de que houvesse alguma recuperação, a partir de um possível corte de juros no segundo semestre de 2023”, avalia. 

Contudo, de acordo com o economista, é preciso verificar que o efeito de uma política monetária e a decisão sobre os juros acontece no horizonte de 9 a 12 meses.

“Em 2022, o resultado oficial do PIB deve ficar próximo a 3%, com uma taxa de desemprego mais baixa comparada aos últimos anos. Isso indica que havia uma pressão de demanda e a economia precisava desacelerar para que a inflação viesse para baixo”. 

Dessa forma, o especialista da EQI Asset conclui que dar mais estímulos à economia, nesse momento, seria como desfazer o trabalho feito até aqui.

Inflação vem em tendência de queda 

A linha azul do gráfico mostra que a inflação vem desacelerando e no núcleo – de onde são retiradas discrepâncias causadas por grandes choques de oferta e sazonalidade – apesar de estar em um patamar alto, já é possível ver uma desaceleração também.

“Desde novembro de 2022 estamos vendo inflação mais baixa, mas por um motivo bom, como é possível ver no núcleo, que capta a queda de itens mais relevantes para a economia melhor que o IPCA”, explica o economista.

gráfico IPCA x núcleo nos últimos 12 meses

Queda da inflação vem e diversos subgrupos 

Conforme o economista aponta, no gráfico abaixo, é possível ver que existem quedas de um modo generalizado, quando a inflação é analisada por subgrupos. 

“No mapa de calor é possível perceber na parte mais escura a subida da inflação. Já na parte clara, é possível ver menos pressões inflacionárias nos últimos meses. Mostra que a política monetária atual está funcionando”.

Mapa de calor inflação – janeiro 2022 a fevereiro 2023 

Queda da inflação vem e diversos subgrupos 
Conforme o economista aponta, no gráfico abaixo, é possível ver que existem quedas de um modo generalizado, quando a inflação é analisada por subgrupos. 

“No mapa de calor é possível perceber na parte mais escura a subida da inflação. Já na parte clara, é possível ver menos pressões inflacionárias nos últimos meses”.
Mapa de calor inflação - janeiro 2022 a fevereiro 2023

Como a reforma tributária e a âncora fiscal impactam na economia?

Na visão de Stephan Kautz, ambas são necessárias, mas para efeito de curva de juros, a âncora fiscal é mais importante.

“Quando for possível verificar a trajetória da dívida pública, será possível ver o risco ao longo do horizonte, seja quanto ao tamanho da dívida, seja quanto aos estímulos fiscais. Isso afeta as perspectivas de crescimento, que por sua vez, afeta as perspectivas de inflação e de juros”. 

O economista recorda que hoje não temos uma âncora fiscal. “A PEC da Transição trouxe apenas a obrigação do governo apresentar até o final de agosto a regra que substituirá o teto de gastos. Há uma expectativa de que o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, antecipe essa apresentação para março ou abril”, completa.

Quanto à reforma tributária, a PEC 45, proposta que está hoje na Câmara dos Deputados, de autoria do economista Bernad Appy – hoje integrante da equipe de Haddad – é excelente, na opinião de Kautz. 

“Ela traz a simplificação de impostos. Porém, deve ser neutra em termos de arrecadação, o que não traria efeitos contracionistas ou estimulativos para a economia. O prazo de implementação da reforma varia entre 6 a 8 anos, ou seja, não deve fazer efeito imediato na política monetária”, comenta.

Juros x inflação: prefixados, IPCA+ ou pós-fixados?

De acordo com o estrategista da EQI, existem duas forças atuando nos juros e na inflação no Brasil hoje. A primeira, é o andamento do ciclo econômico, onde agora, com a inflação mais baixa comparada há 12 meses atrás, deveria ter como consequência sucessivos cortes da Selic. 

“Se essa força se sobrepor, há a preferência por investimentos em renda fixa prefixada, com vencimento longo”, explica.

A segunda força, de acordo com o estrategista, diz respeito às atitudes do governo Lula quanto à capacidade de apresentar uma âncora fiscal. Isso reduziria a expectativa de inflação para 2023 e 2024, permitindo a queda dos juros. 

“Se essa segunda força se intensificar, a preferência seria por pós- fixados e juros curtos”, aponta.

representação gráfica juros longos e juros curtos

“Não sabemos quem vai ganhar a disputa entre juros longos e curtos, por isso, é bom comprar um pouco de cada tipo, incluindo o IPCA+ que tende a nos proteger em qualquer um dos casos”. explica Wiese.

Os juros e os investimentos: como investir em cada ciclo da economia

O ciclo econômico é criado pelos Bancos Centrais, que através da manipulação das taxas de juros, criam um “efeito sanfona” na economia. 

Juros para baixo estimulam o PIB e geram inflação. Para conter a inflação, o BC sobe juros, e diminui o PIB. E assim acontece, várias e repetidas vezes.

Ciclo econômico atual – fevereiro de 2023 

ciclo econômico atual - fevereiro 2023

Dessa forma, Denys Wiese explica como o investidor deve escolher os melhores ativos para cada etapa:

Queda de juros

“Quando estamos iniciando a fase de queda dos juros, o certo é pré-fixar as taxas, para aproveitá-las antes que os juros caiam. No mercado de ações, deve-se investir em ações de crescimento (growth)”.

Meio do ciclo – juros ainda baixos

“Nesta fase é indicado comprar os pós-fixados e continuar com as ações growth”. 

Início da subida de juros 

“Nesta fase é importante se posicionar em juros pós-fixados e ações de valor (empresas mais estabilizadas)”. 

Queda dos juros

“Neste cenário, é recomendado voltar para os pré-fixados, IPCA+ e comprar ações de valor”. 

Até onde vão os juros altos, afinal?

Para o economista-chefe da EQI Asset, a resposta para a trajetória dos juros está nas mãos do governo. 

“Ajudaria a cair os juros se ao invés de subir a meta de inflação para 4,5%, o governo subisse algo em torno de 3,5%. Ou se houver uma discussão mais técnica, o mercado pode reagir bem, entendendo que não haveria um descontrole inflacionário significativo. Assim, o Banco Central poderá cortar os juros um pouco mais cedo”, reforça.

Outra questão-chave, segundo ele, é a âncora fiscal. “Se tivermos aceno positivo, que estabilize a dívida pública ao longo do tempo, não há motivos para ficarmos com juros altos por tanto tempo”, complementa.

De modo geral, Kautz acredita que existem caminhos para dissolver a situação atual e cortar juros ainda este ano. 

“A inflação já vem dando sinais de melhora, o PIB deste ano deve desacelerar. Além disso, caso a inflação global venha para baixo também pode ajudar o câmbio nesse movimento”, completa. 

Melhor renda fixa em 2023 pode não ser a mesma em 2024

Juros altos: sinônimo de oportunidades em renda fixa, mas é preciso se atentar à estratégia de rebalanceamento da carteira. Isso porque, muitos investidores compram a melhor classe atualmente, e não entendem o porquê as outras classes não estão acompanhando o rendimento.

O motivo, segundo Wiese, é que a classe que deverá ter a melhor performance em 2023 é a renda fixa pós-fixada, contudo isso pode não se confirmar em 2024. 

“No curto prazo, esta classe irá render mais, mas no médio/ longo, pode render menos. O CDI está em 13,65%, ao acrescentar 2,5%, o pós-fixado em questão sai rendendo 16,49%.

Já quanto ao IPCA+, ao pegarmos o IPCA esperado para 2023 de 5,74%, segundo o Focus, e acrescentarmos 8% dos juros reais, temos o resultado de 13,14% a.a. Se olharmos só esse ano, o investidor sente-se levado a comprar somente investimentos pós-fixados”, argumenta.

Mas, o estrategista avalia que o cenário pode mudar. Nessa mesma projeção, com os indicadores de hoje, o CDI+ deve render 12,13%, segundo o Focus, a Selic estaria em 9,50% no final de 2024 e o CDI 0,10% abaixo. 

“O IPCA+ vai render 12,21%, considerando 3,9% de IPCA previsto e o prefixado continuará a render 13,25%. Ou seja, já é esperado que o pós-fixado pode perder o posto de melhor investimento em renda fixa já no próximo ano. Mas, isso não é certo, há sempre a incerteza”, pondera Denys Wiese.

Juros altos e renda variável: é hora de investir na bolsa?

Com juros altos e perspectivas que fiquem em patamar elevado por um bom tempo, acessar a rentabilidade da renda variável, em 2023, exige estratégia. 

Para o investidor da bolsa, Wiese recomenda a criação de duas carteiras: uma mais agressiva e outra defensiva. O tamanho do montante aplicado, segundo ele, varia de acordo com o perfil do investidor

E como devem atuar as duas carteiras em uma estratégia de investimento na bolsa? 

Para Wiese, se trata de uma questão lógica: comprar quando está barato e vender quando está caro. 

“Quanto mais barata estiver a bolsa, mais exposição a risco podemos ter, a partir da carteira agressiva. Quanto mais cara estiver a bolsa, menos exposição a risco, e mais exposição da carteira defensiva”, calcula.

Segundo ele, quando o investidor da bolsa não possui estratégia, pode ficar confundido no calor do momento. 

“Todo investidor é levado ao erro, quando deixa pra tomar a decisão sob uma enxurrada de notícias que reforçam o que está acontecendo”, argumenta. 

Um bom exemplo acontece quando as ações estão em baixa e as notícias são todas ruins e não encorajam o investidor a comprar. Já quando as ações estão em alta, as notícias são todas boas e não encorajam o investidor a vender.

“Quem deixar para decidir na hora, será levado a ‘comprar caro e vender barato’. E é justamente por isso, que o investidor desavisado e mal instruído acaba perdendo muito dinheiro com o mercado de ações.

Afinal, até onde vão os juros altos? Entenda agora o cenário para aproveitar melhor as oportunidades.

Se você perdeu a live, pode assistir aqui: