Como viver de renda?
Compartilhar no LinkedinCompartilhar no FacebookCompartilhar no TelegramCompartilhar no TwitterCompartilhar no WhatsApp
Compartilhar
Home
/Economia
Notícias
Presidente do BC pode ser exonerado? Entenda as regras do mandato

Presidente do BC pode ser exonerado? Entenda as regras do mandato

As reiteradas críticas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva à política monetária adotada pelo Banco Central deixam no ar o questionamento sobre a dificuldade na relação do governo com o presidente do BC, Roberto Campos Neto, que foi escolhido pelo governo anterior e tem mandato até 2024. A possibilidade de ter o presidente do BC exonerado até existe legalmente, mas requer aprovação do Congresso e seria um teste a mais para Lula e a fidelidade de sua base de apoio.

A Lei Complementar 179/2021 regulamenta a autonomia do Banco Central e estabelece mandato de quatro anos para o presidente da instituição, sempre no meio do mandato do presidente da República. Em seu artigo 5º, a lei prevê condições de exoneração antecipada para o presidente e os diretories do BC:

  • I – a pedido;
  • II – no caso de acometimento de enfermidade que incapacite o titular para o exercício do cargo;
  • III – quando sofrerem condenação, mediante decisão transitada em julgado ou proferida por órgão colegiado, pela prática de ato de improbidade administrativa ou de crime cuja pena acarrete, ainda que temporariamente, a proibição de acesso a cargos públicos;
  • IV – quando apresentarem comprovado e recorrente desempenho insuficiente para o alcance dos objetivos do Banco Central do Brasil.

Nos três primeiros casos, o afastamento é imediato e por decisão monocrática. Já no caso do inciso IV, que poderia ser acionado pelo governo para pedir a demissão de Campos Neto, o processo seria bem mais complexo e burocrático.

Presidente do BC exonerado: entenda o processo

O primeiro fator complicador para um afastamento por “desempenho insuficiente” é que o termo é extremamente subjetivo. Uma possível justificativa poderia ser o fato de que o BC sob Campos Neto não conseguiu cumprir a meta de inflação nos últimos dois anos.

Por ora, no entanto, ninguém no Planalto admite abertamente recorrer a esta possibilidade e o líder do governo no Senado, Jacques Wagner (PT-BA), já disse que Lula, apesar das críticas, vai respeitar o mandato de Campos Neto.

De toda forma, não bastaria uma simples vontade de Lula de demitir Campos Neto. Para reduzir o risco da pressão política, a lei estabelece que o pedido de exoneração por “desempenho insuficiente” teria de partir do CMN (Conselho Monetário Nacional), cujo presidente é o ministro da Fazenda, Fernando Haddad – e do qual Campos Neto também faz parte.

Depois, esse pedido seria levado à Presidência da República e de lá passaria por uma sabatina no Senado, onde precisaria de aprovação por maioria simples (pelo menos 41 votos).

Presidente do BC exonerado: necessidade de negociação política

Se eventualmente tentasse levar à frente um pedido de exoneração de Roberto Campo Neto, o governo precisaria incluir essa pauta em uma lista grande de demandas que precisam de apoio no Congresso, onde a base de apoio se mostrou sem muita folga – basta ver que Rodrigo Pacheco foi eleito presidente do Senado com 49 votos, exatamente o número necessário para aprovação de uma Proposta de Emenda Constitucional.

As pautas urgentes do governo junto ao parlamento, ambas com necessidade de mudança constitucional (ou seja, 49 votos no Senado e 308 na Câmara), são:

  • Novo arcabouço fiscal – Haddad prometeu enviar “até abril” ao Congresso a proposta da nova regra fiscal em substituição ao teto de gastos, criticado por Lula desde a campanha e também nos discursos de posse;
  • Reforma tributária – Haddad e a ministra do Planejamento, Simone Tebet, já disseram que a proposta de mudança no sistema de impostos será feita de forma fatiada, com discussão inicial para a tributação de consumo e depois sobre a renda. As duas, de qualquer forma, devem monopolizar os debates no mínimo até o fim deste ano.

Além disso, o governo já manifestou interesse em modificar a Lei de Estatais, de forma a liberalizar a entrada de políticos e dirigentes partidários na direção e no Conselho Administrativo das empresas estatais, o que também requer aprovação nas duas casas do Congresso – neste caso, por maioria simples.

No primeiro governo Lula, críticas vinham do vice

A tensão entre as decisões de política monetária do Banco Central e os membros do governo não são novidade nos governos petistas. Nos primeiros mandatos de Lula (2003-2010), as queixas sobre as altas de juros vinham sobretudo do vice-presidente, José Alencar, em direção ao então presidente do BC, Henrique Meirelles – na época, escolhido por Lula justamente como sinalização ao mercado.

O mercado, aliás, já emitiu sinais de que pode se deixar afetar com um eventual processo, já que só as críticas de Lula já provocaram certo tumulto nas cotações.

A ata do Copom (Comitê de Política Monetária) liberada nesta terça-feira (7) a respeito da reunião da semana passada, que manteve a Selic em 13,75%, diz que a ausência do teto de gastos impede flexibilizações na política monetária, que podem acontecer depois que o governo definir uma nova política fiscal.

“A revisão do arcabouço fiscal diminui a visibilidade sobre as contas públicas para os próximos anos e introduz prêmios nos preços de ativos e impacta as expectativas de inflação”, afirma o Copom.

Por ora, a impressão de analistas especializados é que o governo parece disposto a gastar energia em mais uma disputa no Congresso e com a opinião pública. Desta forma, Lula vai conviver com a gestão de Campos Neto, com eventuais críticas que não deverão ir além disso.

Em 1º de março, Lula poderá fazer suas duas primeiras nomeações para a diretoria do Banco Central, que é composta por oito membros, com duas trocas por ano.  À exceção do ano inicial, as demais trocas são feitas a cada ano, a partir de 1º de janeiro. Já o novo presidente só poderá ser nomeado em 1º de janeiro de 2025.

Quer aprender a proteger seus investimentos da volatilidade eventual provocada pelo risco de ter o presidente do BC exonerado? Preencha este formulário e um assessor da EQI Investimentos vai entrar em contato para tirar suas dúvidas.