Apesar dos sinais de desaceleração da economia global, os mercados de ações continuam surpreendendo com fortes valorizações. O movimento intriga analistas, mas ganha uma explicação em um fenômeno batizado de “turquenização” — termo que tem se consolidado entre investidores internacionais.
O que é turquenização?
A expressão remete à experiência da Turquia em 2021. Na época, o governo Erdogan interveio no Banco Central, expandiu fortemente a base monetária e gerou um cenário de inflação galopante. Como consequência, os títulos de renda fixa locais entraram em colapso: até mesmo papéis de curtíssimo prazo perderam grande parte do valor.
Nesse contexto, os investidores turcos buscaram refúgio no mercado acionário. O que parecia improvável ocorreu: a bolsa turca prosperou, mesmo diante de inflação e instabilidade macroeconômica. Esse comportamento passou a ser conhecido como “turquenização”: a migração de capital em massa para a renda variável como forma de preservar patrimônio.
O espelho atual: EUA e grandes companhias
Segundo Marink Martins, analista internacional da EQI Research, o mesmo padrão começa a se observar em economias desenvolvidas, especialmente nos Estados Unidos.
“Há sinais claros de desaceleração econômica global, com revisões negativas recordes no payroll norte-americano e até mesmo rebaixamentos de rating em países centrais, como a França. Ainda assim, os índices acionários seguem nas máximas históricas”, observa Martins.
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O que explica o fenômeno? A preferência crescente por ações de grandes companhias. O diferencial de risco entre títulos do Tesouro americano e títulos corporativos de empresas com grau de investimento está em níveis historicamente baixos, indicando forte demanda por ativos privados. Paralelamente, o mercado de treasuries de longo prazo vive um mercado baixista prolongado.
“Trata-se de uma mudança estrutural na percepção de proteção patrimonial”, explica o analista.
O Brasil na rota da turquenização
Para Martins, esse movimento tende a chegar também ao Brasil. Apesar das incertezas fiscais e políticas, o país ainda é considerado barato em termos de valuation da bolsa e tem uma base acionária relativamente pequena.
“Quando a preferência global por renda variável ganhar tração por aqui, o potencial de valorização será expressivo. A bolsa brasileira pode se beneficiar tanto do capital estrangeiro quanto da entrada de investidores locais em busca de proteção patrimonial”, afirma.
A turquenização marca uma mudança de paradigma: em vez de buscar segurança na renda fixa, investidores passam a enxergar nas ações a melhor defesa contra cenários macroeconômicos adversos. Se a tendência observada nos EUA se confirmar no Brasil, os próximos anos podem reservar oportunidades relevantes na bolsa de valores, especialmente para quem estiver posicionado em grandes companhias com balanços sólidos.
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