O ano de 2024 foi desafiador para os investidores que possuem ações da Vale ($VALE3) em suas carteiras. Até meados de dezembro, os papéis da companhia acumularam uma queda superior a 25%.
O desempenho da mineradora foi influenciado pela crise política envolvendo a sucessão do CEO Eduardo Bartolomeo, que dividiu o conselho administrativo em dois grandes blocos: de um lado, as instituições que representam os interesses do governo federal; do outro, os principais investidores privados da empresa.
Além disso, o governo Lula tentou emplacar a nomeação do ex-ministro da Fazenda, Guido Mantega, tanto para a presidência da companhia quanto para o conselho administrativo.
Apesar de um ano comparativamente fraco para o minério de ferro, algumas empresas do setor, a exemplo da Gerdau ($GGBR4) e da Gerdau Metalúrgica ($GOAU4), conseguiram capturar melhor momentos de ganhos do que a Vale.
Para ajudar os investidores a decidir o que fazer com as ações da Vale em 2025, o portal EuQueroInvestir reuniu as principais informações sobre o desempenho da empresa em 2024 e as perspectivas para o próximo ano.
Entenda a crise política na Vale
A crise de sucessão na presidência da Vale, que se desenrolou ao longo de 2024, revelou divisões no Conselho de Administração da mineradora e destacou tensões entre interesses políticos e corporativos.
Após meses de impasse, o desfecho veio em setembro, com a decisão de manter Eduardo Bartolomeo no cargo até o final daquele ano, enquanto o processo para escolha de seu sucessor seria conduzido com apoio de consultorias especializadas.
O conflito começou no início de 2024, quando o Conselho de Administração, composto por 13 membros, se mostrou dividido:
- De um lado, conselheiros ligados ao governo federal e a acionistas como a Previ (fundo de pensão do Banco do Brasil ($BBAS3)) e a Bradespar ($BRAP4) defendiam a substituição de Bartolomeo. Esse grupo buscava alinhar a Vale a prioridades do governo, como a internalização de etapas produtivas realizadas no exterior e um papel mais ativo no desenvolvimento econômico do país.
- De outro, conselheiros independentes e representantes de investidores estrangeiros, como BlackRock e Mitsui, argumentavam pela recondução de Bartolomeo, apontando os riscos de politização e a necessidade de manter a estabilidade da companhia.
O representante da Cosan ($CSAN3), Luiz Henrique Guimarães, manteve-se neutro durante as votações, contribuindo para a dificuldade em se chegar a uma maioria.
O impasse ganhou contornos políticos mais acentuados em fevereiro de 2024, quando o governo Lula tentou emplacar o ex-ministro da Fazenda Guido Mantega como presidente da Vale. A proposta foi apresentada pelo ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, mas encontrou forte resistência dentro do Conselho.
Daniel Stieler, presidente do colegiado, e Ollie Oliveira, líder dos conselheiros independentes, alertaram sobre os riscos à credibilidade e à governança da empresa. Em março, após críticas públicas e pressões internas, o governo recuou da indicação de Mantega.
O impasse foi resolvido em setembro de 2024, quando o Conselho decidiu pela prorrogação do mandato de Eduardo Bartolomeo até o final do ano, com um planejamento para transição em 2025.
O processo sucessório foi delegado a uma consultoria internacional, que elaboraria uma lista tríplice de candidatos alinhados aos desafios estratégicos da mineradora, como sustentabilidade e mineração de baixo carbono.
Bartolomeo também concordou em atuar como advisor durante 2025, garantindo continuidade em projetos-chave e apoio à nova liderança.
A indefinição durante o primeiro semestre de 2024 contribuiu para uma queda de mais de 15% nas ações da Vale até julho, refletindo a insegurança dos investidores sobre a governança da companhia.
Com o anúncio da prorrogação do mandato de Bartolomeo e o início de um processo sucessório estruturado, o mercado reagiu positivamente.
Em agosto, enfim, a Vale anunciou que Gustavo Pimenta será o próximo presidente da companhia. A escolha foi realizada de forma unânime pelo Conselho de Administração, após “rigoroso processo de seleção conduzido por uma empresa de padrão internacional”, conforme informou a mineradora.
Pimenta assumirá o cargo em 1º de janeiro de 2025, enquanto o mandato de Eduardo Bartolomeo, atual presidente, termina em 31 de dezembro deste ano. Atualmente, Pimenta ocupa o posto de vice-presidente executivo de Finanças e Relações com Investidores da Vale.
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Minério de ferro e a economia chinesa
Em 2024, o minério de ferro apresentou uma valorização superior a 15% até o início de dezembro, sustentando um cenário positivo, apesar de não alcançar os 55% registrados em 2023. Ainda assim, a Vale, não conseguiu aproveitar esse movimento de alta devido a desafios operacionais e ao cenário macroeconômico.
A trajetória do minério de ferro em 2024 foi marcada por forte volatilidade, em grande parte devido à instabilidade econômica da China, que representa mais de 70% da demanda global pela commodity.
A crise imobiliária no país, agravada por problemas de grandes incorporadoras como Evergrande e Country Garden, reduziu a confiança no mercado e afetou a oferta de novos projetos.
Apesar disso, o governo chinês conseguiu implementar uma série de estímulos econômicos que sustentaram a recuperação do minério de ferro. As principais medidas incluem:
- Cortes nas taxas de juros: O Banco do Povo da China reduziu taxas para estimular a liquidez.
- Apoio ao setor imobiliário: Regras de crédito foram flexibilizadas, e construtoras em dificuldades receberam acesso a linhas especiais de financiamento.
- Investimentos em infraestrutura: Pequim intensificou projetos de grande porte, como ferrovias e redes de energia, que demandam aço e, consequentemente, minério de ferro.
Segundo a EQI Research, embora as medidas de estímulo sejam importantes, o impacto delas na economia real ainda gera dúvidas. A casa de análises destaca que há uma mudança estrutural no modelo de crescimento chinês, com a expansão acelerada de infraestrutura ficando no passado.
Além disso, o setor de construção civil enfrenta uma crise de confiança agravada pelo excesso de capacidade acumulado nos últimos anos, o que torna difícil superar a situação sem grandes traumas.
Apesar dos estímulos, o otimismo em relação ao minério de ferro e ao aço é limitado, dada a incerteza sobre a recuperação econômica sustentável da China. “A época de expansão acelerada em infraestrutura já ficou para trás, e o setor de construção civil enfrenta uma crise de confiança derivada de excessos de capacidade difíceis de superar sem maiores traumas“, destaca a EQI Research.
Para 2025, as projeções para a economia chinesa apontam um crescimento mais moderado, com estimativas de um aumento de 4,5% no PIB.
O mercado aguarda novos pacotes de estímulos, especialmente voltados ao consumo interno, mas as tensões comerciais com os Estados Unidos, que incluem barreiras tarifárias e restrições tecnológicas, permanecem como riscos adicionais para a demanda de minério de ferro.
E agora? O que fazer com as ações da Vale?
Diante do cenário todo acima, o que fazer com as ações da Vale? O BTG Pactual ($BPAC11) tem uma recomendação neutra com os ativos da mineradora adotando uma postura mais cautelosa para os papéis.
O preço-alvo é de R$ 60 com potencial de valorização de apenas 6,8%.
Segundo os analistas do BTG, apesar de algumas melhorias recentes no cenário, a companhia ainda enfrenta desafios macroeconômicos e riscos operacionais.
O BTG aponta que a Vale tem progressos em algumas frentes importantes. As negociações relacionadas à Samarco, um ponto crítico desde o desastre ambiental de 2015, mostram sinais de avanço. Há expectativas de um desfecho melhor do que o antecipado pelo mercado, o que poderia reduzir as incertezas jurídicas e financeiras que pairam sobre a empresa.
Ademais, a sucessão de liderança na mineradora, de acordo com os analistas do BTG, também parece estar sendo conduzida de forma ordenada, o que contribui para a confiança na governança corporativa da companhia.
“O desempenho operacional continua a ser uma questão fundamental para os investidores, mas esperamos que a administração continue reduzindo os riscos da empresa no futuro (estimativa de produção de minério de ferro para 2024 de 310-320 Mt está bem encaminhada)”, avalia o BTG.
Do ponto de vista de valuation, o banco de investimentos cita que as ações da Vale continuam descontadas, mas não apresentam um grande potencial de retorno. Por outro lado, os investidores encontram nos dividendos um atrativo significativo, com yields próximos de 12%, um diferencial relevante para quem busca renda passiva em um contexto de juros elevados no Brasil.
Além do BTG, o Morgan Stanley decidiu cortar a recomendação da Vale de “compra” para “neutra” devido a preocupações com o cenário econômico da China. O banco também revisou para baixo o preço-alvo dos ADRs (recibos de ações negociados nos EUA), de US$ 14,50 para US$ 11,30. Segundo o relatório, a desaceleração global coloca uma pressão adicional nas operações de mineradoras, sobretudo diante da menor participação da China no impulsionamento do mercado.
Segundo o banco americano, a desaceleração do crescimento global e a deterioração das condições na China, maior consumidora mundial de minério de ferro, aumentam as preocupações sobre a demanda pela commodity. Com a economia chinesa menos proativa em impulsionar o consumo interno, mineradoras como a Vale tendem a enfrentar maior volatilidade e dificuldade em sustentar margens lucrativas.
Segundo o relatório, a desaceleração global coloca uma pressão adicional nas operações de mineradoras, sobretudo diante da menor participação da China no impulsionamento do mercado.
Para Felipe Reis, estrategista da EQI Research, o ano de 2024 foi ruim para o minério de ferro e, consequentemente para as ações da Vale. Por isso, a casa de análise continua cética sobre uma reviravolta em 2025.
“A economia chinesa perdeu dinamismo e não consegue manter as mesmas taxas de crescimento do passado. Especialmente nos setores intensivos em consumo de aço, como construção civil e infraestrutura, a nosso ver o cenário segue preocupante. De fato, nos primeiros dez meses de 2024 a produção de aço bruto chinesa recuou em 3% versus o mesmo período de 2023. Com a demanda chinesa estagnada, cremos que aumentos de oferta planejadas por parte dos principais produtores podem fazer que os preços do minério cedam para abaixo dos US$ 100 por tonelada em 2025”, afirma.
“De uma maneira mais ampla, vemos riscos consideráveis de uma nova onda de protecionismo tarifário liderado pelos EUA (agora com Trump como presidente) atingir vários setores exportadores da economia chinesa, aumentando ainda mais os desafios para uma retomada econômica forte do país”, complementa.
Com tal perspectiva de China e preços de minério, ele diz, fica comprometido também qualquer tipo de otimismo maior com as ações da Vale no curto prazo. “A empresa não trará uma grande expansão de volumes de minério de ferro em 2025 e continuará e enfrentar desafios em sua unidade de metais básicos (cobre e níquel)”, finaliza.
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