Em 2023, os dividendos globais atingiram um novo recorde, com as empresas pagando US$ 1,11 bilhão ao longo do ano. Apesar disso, muitas companhias gastaram menos com programas de recompra de ações, conforme mostra o último estudo anual da Janus Henderson, divulgado na quarta-feira (24).
Segundo a gestora britânica, o total pago em dividendos foi US$ 181 bilhões menor do que em 2022, em uma queda significativa de 14,% em relação ao ano anterior. Com esse movimento, a queda na recompra de ações queda ocorre a partir de uma base de comparação muito alta, e deixa o total anual ainda bem acima dos níveis pré-pandemia.
Recompra de ações: empresas dos EUA foram as maiores compradoras em 2023
As empresas dos Estados Unidos foram as maiores compradoras de suas próprias ações, com um total de US$ 773 bilhões em 2023, o que representa US$ 7 em cada US$ 10 globalmente.
No entanto, as norte-americanas também causaram uma redução desproporcionalmente maior. As recompras nos EUA recuaram US$ 159 bilhões no ano passado, em uma queda de 17% em relação ao ano anterior.
As empresas de tecnologia dos EUA reduziram mais ainda sua recompra de ações, com US$ 69 bilhões a menos do que no ano anterior. Entre elas, Microsoft (MSFT; MSFT34) e Meta (META; $M1TA34) reduziram as operações em quase um terço, e a Apple (AAPL; AAPL34) em um sétimo.
Houve, ainda, grande encolhimento em boa parte do setor de saúde norte-americano e entre as instituições financeiras, embora não em todo o setor bancário.
No geral, nos EUA, o número de empresas gastando menos em recompras de ações superou as que estão gastando mais em uma proporção de 1,8 para 1. Ainda assim, o valor das recompras foi 1,2 vez maior do que o valor dos dividendos pagos pelas empresas dos EUA, segundo estudo da Janus Henderson.
Reino Unido também tem recompras significativas
As empresas no Reino Unido foram as maiores compradoras de suas próprias ações, com as companhias representando US$ 1 em cada US$ 17 do total global em 2023.
As compras de US$ 64,2 bilhões foram apenas 2,6% menores em relação ao ano anterior, e equivalem a 75% dos dividendos pagos.
A Shell (SHEL) é a maior compradora de fora dos EUA de suas próprias ações, respondendo por quase um quarto do total do Reino Unido. Mesmo assim, em 2023 a companhia reduziu bastante o movimento — da mesma maneira que BP, BAT, Lloyds e várias outras grandes blue chips do Reino Unido. Aumentos significativos de HSBC, Barclays e outras quase compensaram esses cortes, resultando em apenas uma pequena queda geral para o ano.
Na Europa também há uma tendência forte para recompras de ações. Em toda a região, o total pago aumentou 2,9%, para US$ 146 bilhões, em 2023. Na mesma base, houve um aumento subjacente de 20% nos dividendos.
As recompras atingiram um nível recorde na Itália, impulsionadas pela Unicredit e Stellantis; na Espanha, com Santander (SANB11), Iberdrola e Telefónica (TLNC34); Noruega, pela Equinor; e Bélgica, com AB-Inbev (ABUD34) e KBC. França, Suíça e Holanda, apesar de não atingirem níveis recordes, viram o maior valor de suas ações recompradas.
A maior queda foi na Suíça, onde a maioria das empresas reduziu a recompra de ações. A Nestlé teve o maior impacto, quase reduzindo pela metade seu programa para US$ 5,8 bilhões.
Grande parte de empresas europeias aumentou seu programa de recompra em 2023 na mesma força do crescimento de dividendos no período.
ACOMPANHE NOSSO CANAL DE NOTÍCIAS NO WHATSAPP
Região Ásia-Pacífico segue em queda
Empresas na Ásia-Pacífico, excluindo o Japão, são as menos propensas a conduzir programas de recompra de ações, segundo o estudo.
A grande queda ano a ano de 40% reflete principalmente as menores recompras de ações pelos grandes bancos da Austrália, superando, inclusive, os aumentos em Hong Kong e Coreia do Sul.
De todos os setores, as empresas de telecomunicações, bancos e veículos recompraram a maior parte das ações na região.
Tecnologia, saúde e serviços financeiros
Em nível setorial, tecnologia, saúde e serviços financeiros registraram as maiores reduções, com o maior impacto observado entre as empresas dos EUA.
No entanto, as recompras são altamente concentradas: pouco mais da metade das empresas no índice da Janus Henderson, composto por 1,2 mil empresas, recompraram ações em 2023, mas apenas 45 delas responderam por metade do total anual gasto globalmente.
Ben Lofthouse, chefe de Renda Global de Ações da Janus Henderson, explica que muitas empresas usam recompras como válvula de escape. “É uma maneira de devolver capital excedente aos acionistas sem criar expectativas para dividendos que podem não ser sustentáveis a longo prazo. Isso é especialmente apropriado em indústrias cíclicas como petróleo ou bancos.” Essa flexibilidade explica por que as recompras são mais voláteis do que os dividendos. Mas isso também significa que não há evidências reais de que as recompras estejam substituindo os dividendos.
Além disso, taxas de juros mais altas têm desempenhado um papel relevante na queda das recompras de ações, de maneira que quando a dívida é barata, faz sentido para as empresas pegarem mais emprestado (desde que de forma prudente) e usar os recursos para aposentar capital próprio caro, disse Lofthouse.
“Com as taxas em máximas de vários anos, esse cálculo é mais sutil; algumas empresas estão pagando dívidas nesse momento, usando dinheiro que de outra forma teria ido para recompras. Mas muito poucas estão cortando dividendos“, reforçou.