A Petrobras ($PETR4) tem se destacado no radar dos investidores nas últimas semanas por dois fatores centrais: o avanço sobre a Margem Equatorial, considerada a “nova joia da coroa” do setor de petróleo brasileiro, e a possibilidade de retomada dos dividendos extraordinários. Para os analistas da EQI Research, Felipe Paletta e Nícolas Merola, ambos os pontos reforçam uma perspectiva mais positiva para a estatal, mesmo diante de um cenário externo desafiador.
Segundo os especialistas, os desdobramentos do leilão de blocos exploratórios realizado em junho representaram um passo relevante para o futuro da companhia. “A Margem Equatorial hoje tem o mesmo papel que o pré-sal teve lá atrás: sustentar o crescimento da Petrobras no longuíssimo prazo”, afirmou Merola durante conversa no EQI+, plataforma de conteúdos da casa de análise.
Aposta estratégica na Margem Equatorial
O leilão promovido pela ANP em 17 de junho ofertou 172 blocos de exploração em cinco bacias sedimentares. O foco do mercado, no entanto, esteve concentrado na Margem Equatorial, região que compreende a costa Norte e Nordeste do Brasil. Desse total, 63 blocos estavam localizados nessa faixa — e 19 receberam propostas.
A Petrobras, em consórcio com a ExxonMobil (XOM; $EXXO34), garantiu 10 desses 19 blocos, desembolsando cerca de R$ 580 milhões em bônus. Apesar da cifra expressiva, os analistas destacam que o valor representa apenas uma fração do plano de investimentos da estatal, que prevê US$ 3,1 bilhões apenas para essa frente nos próximos cinco anos.
“O movimento mostra a intenção da empresa de buscar novos vetores de produção para além do pré-sal, especialmente considerando que a Petrobras deve atingir seu pico de produção em 2029”, pontuou Merola.
Após essa data, os campos maduros devem começar a declinar, e os projetos da Margem Equatorial, cuja entrada em operação é estimada para a próxima década, devem entrar como substitutos naturais.
Apesar da ambição do projeto, o caminho ainda encontra entraves, como a falta de licença ambiental para a exploração.
“A licença do Ibama ainda não foi aprovada, e isso gera incerteza. Mas há uma pressão política relevante, inclusive do governo Lula, para acelerar esse processo, como aconteceu com o pré-sal no passado”, comentou Paletta.
Outro fator que reacendeu o interesse dos investidores em Petrobras foi a volta à mesa das discussões sobre dividendos extraordinários. Após resistir à ideia no primeiro trimestre — sob o argumento de que novos investimentos tornariam o caixa mais restrito — o governo federal passou a pressionar pela liberação dos proventos, o que animou o mercado.
“Esse lobby do governo foi um dos pontos que ajudaram nosso trade relativo no último mês”, explicou Paletta, referindo-se à decisão da EQI Research de reduzir a posição em PRIO ($PRIO3) e manter Petrobras na carteira. Segundo ele, a estatal mostrou maior resiliência em meio ao recuo do petróleo e às incertezas globais.
A expectativa é que, mesmo com um cenário menos favorável para o preço da commodity, a Petrobras consiga manter um Dividend Yield superior a 12% ao ano, sem contar os possíveis extraordinários.
“Com o petróleo entre US$ 60 e US$ 70, a empresa ainda tem fôlego para remunerar bem seus acionistas”, reforçou Merola.
Pressões externas limitam otimismo
Apesar das boas notícias, os analistas da EQI Research alertam que o cenário internacional pode limitar os movimentos mais agressivos da Petrobras.
A retomada da produção de petróleo nos Estados Unidos, impulsionada por discursos do presidente Donald Trump (“Drill baby, drill”), e os sucessivos aumentos de oferta por parte da Opep, sobretudo pelos Emirados Árabes, contribuem para manter o Brent sob pressão.
Além disso, o fortalecimento do real frente ao dólar tem comprimido a receita da estatal em moeda local, já que o petróleo é cotado em dólar. Isso pesa tanto sobre os resultados quanto sobre a capacidade de distribuição de dividendos extras, especialmente se os preços da commodity não se recuperarem de forma consistente.
“A CEO Magda Chambriard chegou a dizer que está de ‘dedos cruzados’ torcendo por um petróleo mais alto. Isso mostra que a companhia ainda depende de um cenário externo mais favorável para dar passos mais ousados”, destacaram os analistas.
A EQI Research vem ajustando gradualmente sua exposição ao setor de petróleo ao longo de 2025. No início do ano, a carteira contava com 25% de participação no setor, que foi reduzido para 15% — sendo 10% em Petrobras e 5% em PRIO.
No último mês, os analistas decidiram vender parte da posição em PRIO, mantendo a fatia de Petrobras diante da menor alavancagem da estatal à volatilidade do petróleo.
“A Petrobras performou melhor que PRIO, especialmente durante a recente guerra dos dividendos, o que validou nossa estratégia”, comentou Paletta.
Mesmo com os desafios externos — como a queda do petróleo, o câmbio valorizado e a incerteza ambiental —, a EQI Research vê um cenário estruturalmente mais positivo para a Petrobras.
A entrada da Margem Equatorial no portfólio exploratório e a possibilidade de dividendos extraordinários reacendem o otimismo com a estatal.
“A companhia está olhando para o futuro com clareza e responsabilidade, aproveitando um momento de solidez financeira para construir o próximo ciclo de crescimento. Isso é o que o investidor de longo prazo quer ver”, conclui Merola.
Veja a conversa na íntegra:
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