A história do Pão de Açúcar é também a história de um sonho que atravessou o Atlântico. O protagonista dessa trajetória é o português Valentim dos Santos Diniz, que desembarcou no Brasil em 1929, aos 17 anos, fugindo da instabilidade econômica de sua terra natal. Com pouco dinheiro e muita disposição, encontrou no país uma oportunidade de recomeço — e acabou construindo um dos maiores grupos varejistas da América Latina.
Em 1948, Valentim inaugurou a Doceira Pão de Açúcar, na Avenida Brigadeiro Luís Antônio, em São Paulo. O nome, inspirado no famoso cartão-postal carioca, era uma homenagem ao Brasil, país que o acolheu. A doceria se tornaria o embrião de uma revolução silenciosa no comércio brasileiro.
Na década de 1950, enquanto o país vivia o início da industrialização e da urbanização acelerada, uma novidade chegava ao mercado: o conceito de supermercado. A ideia de o cliente se servir sozinho — sem balcões nem atendentes intermediando a compra — causava estranheza, mas representava eficiência e economia. Valentim enxergou ali o futuro do varejo.
Pão de Açúcar: em 1959, surge o primeiro supermercado
Em 14 de abril de 1959, foi inaugurado o primeiro supermercado Pão de Açúcar, justamente em frente à doceria original. A partir dali, o grupo cresceu de forma vertiginosa. Na década seguinte, adquiriu concorrentes como a rede Sirva-se e abriu dezenas de novas lojas. Em 1971, em Santo André, nasceu o Jumbo, um dos primeiros hipermercados do Brasil, marcando a entrada definitiva da empresa no grande varejo.
Nos anos 1980, o grupo diversificou suas operações com formatos inovadores como Sandiz (lojas de departamento), Peg & Pag (bricolagem) e Minibox (mercearias de desconto). Em 1981, consolidou suas operações sob a Companhia Brasileira de Distribuição (CBD), mas logo percebeu a necessidade de voltar ao essencial — o supermercado. No final da década, os hipermercados Jumbo foram transformados em lojas Extra, numa estratégia de reposicionamento que preparou o terreno para os anos seguintes.
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A década de 1990 foi marcada pela ascensão de Abilio Diniz, filho de Valentim, à presidência. Sob sua liderança, o grupo foi o primeiro do varejo brasileiro a abrir capital na Bolsa de Nova York, em 1997, e realizou uma série de aquisições estratégicas — entre elas, Barateiro, Sé, Sendas e Ponto Frio. Foi também o início da parceria com o grupo francês Casino, que se tornaria sócio e, anos depois, controlador da empresa.
Com o novo milênio, o Pão de Açúcar consolidou-se como GPA, um conglomerado multiformato que reunia supermercados, atacarejos e redes de eletroeletrônicos como Casas Bahia e Pontofrio, por meio da Via Varejo. O grupo também lançou iniciativas pioneiras, como o Pão de Açúcar Delivery, primeiro supermercado virtual do país, e o programa de fidelidade Pão de Açúcar Mais, com descontos personalizados para cada cliente.
Pão de Açúcar e o Casino
O século XXI, no entanto, também trouxe transformações profundas. Em 2013, após disputas societárias, Abilio Diniz deixou o controle do grupo, que ficou sob comando do Casino. Nos anos seguintes, o GPA passou por reestruturações, vendeu sua participação na Via Varejo e, em 2021, encerrou a operação dos hipermercados Extra, vendendo parte das lojas para o Assaí Atacadista.
A história do grupo francês começa em 1999, ao adquirir 25% de participação na rede brasileira, possibilitando a troca de know-how entre as duas redes. O acordo previa que os franceses pudessem ter a opção de assumir o controle do Pão de Açúcar, o que de fato ocorreu a partir de 2012. Mas tudo ocorreu após uma disputa entre Abílio Diniz e o controlador do Casino na época, o empresário francês Jean-Charles Naouri.
Isso porque Diniz havia tentado um acordo com o Carrefour – grande rival do Casino na França. Diante disso, os novos controladores do Pão de Açúcar decidiram optar em elevar sua fatia e ter o controle da empresa, como estava previsto no acordo de associação.
Em 2024, um novo capítulo começou: após um aumento de capital de R$ 704 milhões, o grupo francês Casino reduziu sua participação para 22,5%, abrindo espaço para uma nova fase de governança e retomada da autonomia brasileira.
Essa redução de participação do Casino se deu porque a rede francesa enfrentou um grave crise, podendo quase que fechar as portas. A questão forçou a saída de Naouri e a venda da rede para um grupo do leste europeu. Como consequência, o Casino reduziu sua participação por aqui.
Hoje, o Pão de Açúcar segue como uma marca símbolo de tradição, qualidade e inovação no varejo nacional. Mais de sete décadas após a inauguração da pequena doceria, o nome criado por um jovem português em busca de oportunidades ainda brilha nas fachadas das lojas — como um lembrete de que grandes histórias nascem de sonhos simples, mas de visão extraordinária.
A principal marca
Com mais de seis décadas de história, o Pão de Açúcar consolidou-se como uma das principais redes de supermercados premium do país, reconhecida por oferecer uma experiência de compra diferenciada, que combina qualidade, conveniência e inovação.
A marca, pertencente ao Grupo Pão de Açúcar (GPA), foi uma das pioneiras no varejo nacional ao introduzir atendimento especializado em setores como vinhos, cafés e queijos, além de incorporar conceitos de saudabilidade e sustentabilidade em suas operações.
Em 1995, tornou-se também referência em transformação digital ao lançar o primeiro e-commerce de alimentos do Brasil. Cinco anos depois, inaugurou o Pão de Açúcar Mais, o primeiro programa de relacionamento do varejo nacional, reforçando sua vocação para a fidelização de clientes e o uso de tecnologia para personalizar a experiência de compra.
Em 2014, o grupo ampliou sua atuação com o lançamento do Minuto Pão de Açúcar, formato de loja de proximidade voltado a consumidores que buscam conveniência e praticidade. As unidades oferecem uma seleção de produtos adaptada às necessidades de cada região, tornando as compras do dia a dia mais ágeis e acessíveis.
Já em 2021, nasceu o Pão de Açúcar Fresh, bandeira voltada para o segmento de alimentação fresca e perecíveis, com foco em frutas, verduras, legumes, peixaria, açougue, sushi e padaria. A proposta é atender ao público que prioriza produtos naturais e de alta qualidade, reforçando o compromisso da marca em oferecer opções saudáveis e variadas para os consumidores brasileiros.
Ao longo dos anos, o Pão de Açúcar manteve-se fiel à visão de seu fundador, unindo tradição e modernidade para oferecer uma jornada de compra que vai do básico ao sofisticado, acompanhando as transformações do consumo e o estilo de vida de seus clientes.
