A Moody’s Ratings elevou o rating de crédito da Eletrobras (ELET3) nesta segunda-feira (19), destacando os avanços na execução da estratégia corporativa da companhia. A avaliação de crédito de base (BCA) subiu de ba3 para ba2, enquanto os ratings de Family Rating Corporativo de Longo Prazo (CFR) e da dívida sênior não garantida em moeda estrangeira foram elevados de Ba2 para Ba1. A perspectiva permanece estável.
A elevação reflete evidências de que a Eletrobras segue implementando sua estratégia de forma sustentável, com foco na rentabilidade, além da resolução de disputas com o governo relacionadas à privatização. A Moody’s também avaliou positivamente a manutenção de uma posição de liquidez robusta, suficiente para cobrir os investimentos esperados sem a necessidade de refinanciamentos relevantes nos próximos três a cinco anos.
Como uma emissora com ligação ao governo (Government Related Issuer – GRI), a nota Ba1 da Eletrobras incorpora a análise de default conjunto (Joint Default Analysis) da Moody’s, que considera: o BCA elevado para ba2, a permanência da alta correlação de risco de crédito com o governo federal (Ba1 com perspectiva positiva), e uma expectativa moderada de apoio extraordinário em caso de necessidade. A classificação CFR um nível acima do BCA se justifica pela expectativa de apoio do governo, que detém 45,7% das ações ordinárias da empresa.
Eletrobras (ELET3): Moody´s tem expectativa de melhoria contínua
Após a privatização em junho de 2022, a Eletrobras colocou em prática um plano de simplificação corporativa, com foco em redução de custos e exposição a riscos. A empresa reduziu os empréstimos compulsórios de R$ 26,2 bilhões para R$ 13,1 bilhões entre junho de 2022 e março de 2025. No mesmo período, o número de sociedades de propósito específico (SPEs) sob seu controle caiu de 81 para 62.
Além disso, a Eletrobras promoveu cortes significativos em despesas com pessoal, materiais, serviços e outros (PMSO), que passaram de R$ 10 bilhões em 2022 para R$ 7,6 bilhões em 2024 — uma redução de 24%. A Moody’s espera novas reduções de 7% até 2026. Em julho de 2024, a incorporação da Furnas Centrais Elétricas S.A. foi concluída, trazendo sinergias operacionais e benefícios fiscais.
A alavancagem também caiu. O índice dívida líquida/EBITDA passou de 6,6x em dezembro de 2022 para 4,4x em dezembro de 2024. A expectativa é de melhoria contínua, com a geração de caixa operacional antes do capital de giro (CFO pre-WC) sobre a dívida líquida superando os atuais 14,3% e alcançando mais de 20%, enquanto a cobertura de juros permanecerá acima de 2,0x nos próximos três anos. Apesar disso, contingências de R$ 13,1 bilhões e garantias fora do balanço de R$ 25,4 bilhões limitam maiores avanços no perfil de crédito da companhia.
A Moody’s também destacou a gestão de liquidez da Eletrobras como prudente. Em março de 2025, a empresa contava com R$ 30,3 bilhões em caixa e equivalentes, além da expectativa de monetização de R$ 639 milhões com recebíveis de debêntures e R$ 3 bilhões com a venda de ativos térmicos. Isso garante que a Eletrobras possa operar pelos próximos 24 meses sem necessidade de recorrer ao mercado de dívida, exceto por oportunidades pontuais de gestão de passivos. Em 2024, a empresa captou mais de R$ 30 bilhões aproveitando spreads menores, o que alongou o perfil de vencimentos e reduziu o custo médio da dívida — atualmente com spread de apenas 0,1% sobre a taxa interbancária.
O relatório também ressaltou melhorias na governança, com a resolução de uma arbitragem com o governo federal sobre os direitos de voto na empresa. Em fevereiro de 2025, foi firmado um acordo pelo qual o governo conquistou três cadeiras no conselho de administração (de um total de 10), enquanto a Eletrobras ficou isenta de novos aportes no projeto Angra 3, estimado em até R$ 20 bilhões. Em contrapartida, a empresa irá subscrever R$ 2,4 bilhões em debêntures da Eletronuclear, que serão usados na extensão da vida útil da usina Angra 1.
Ainda assim, a Eletrobras mantém R$ 3,2 bilhões em garantias relacionadas a Angra 3. A Moody’s considera que o acordo reduz incertezas e riscos de governança, limitando o suporte financeiro da companhia à subsidiária não consolidada em até R$ 5,6 bilhões.
O acordo, contudo, não antecipou o cronograma de amortização das obrigações da Conta de Desenvolvimento Energético (CDE), no valor de R$ 37 bilhões, assumidas pela Eletrobras na privatização, e que seguem sendo consideradas como dívida nos ajustes da agência.
Por fim, a Moody’s destaca que a perspectiva estável reflete a expectativa de que a Eletrobras manterá sua forte liquidez e posição dominante no setor de geração de energia elétrica no Brasil, com presença relevante também na transmissão, o que assegura estabilidade de receitas nos próximos 12 a 18 meses.
Balanço no 1TRI25
A Eletrobra encerrou o primeiro trimestre de 2025 com prejuízo líquido de R$ 354 milhões, revertendo o lucro de R$ 331 milhões registrado no mesmo período de 2024. Em relação ao quarto trimestre do ano passado, quando a companhia havia apurado lucro de R$ 1,11 bilhão, o resultado também representa uma queda expressiva.
Segundo o balanço divulgado pela empresa, o desempenho negativo foi influenciado principalmente pela retração do EBITDA e pelo aumento nas despesas financeiras.
O EBITDA totalizou R$ 4,32 bilhões entre janeiro e março deste ano, queda de 6,5% na comparação anual e de 14,1% frente ao trimestre imediatamente anterior (R$ 5,03 bilhões). A margem EBITDA também encolheu, passando de 53% no primeiro trimestre de 2024 para 41,5% no mesmo período de 2025.
Já o EBITDA regulatório — que desconsidera efeitos não recorrentes — somou R$ 5,49 bilhões, representando uma leve retração de 3,7% em relação ao primeiro trimestre do ano passado.