Após 18 anos de aquisições e reestruturações, a Marfrig ($MRFG3) parece estar próxima de se tornar uma gigante global em proteínas, segundo diz relatório do BTG Pactual ($BPAC11). A companhia anunciou a incorporação da totalidade da BRF ($BRFS3), consolidando-se como o terceiro maior grupo de proteínas do mundo, atrás apenas da JBS ($JBSS3), da qual já foi sócia, e da americana Tyson — além do WH Group, da China. As recomendações para as ações das companhias seguem neutras por ora.
O negócio, revelado nesta quinta-feira (15), marca a união definitiva entre duas das maiores empresas de alimentos do país. A operação prevê a troca de ações: para cada papel da BRF, os acionistas receberão 0,8521 ação da Marfrig. Ambas as empresas também anunciaram dividendos substanciais — R$ 3,5 bilhões pela BRF (R$ 2,20 por ação) e R$ 2,5 bilhões pela Marfrig (R$ 2,94 por ação). A transação ocorrerá após o pagamento desses proventos, com as ações já negociadas ex-dividendos.
Aos acionistas da BRF que optarem por não participar da fusão, será oferecido o valor de R$ 19,89 por ação, conforme avaliação independente. Para isso, é necessário manter os papéis ininterruptamente entre 15 de maio e o fechamento da transação, previsto para o fim de julho. Caso todos os minoritários aceitem a proposta, a Marfrig emitirá 639 milhões de novas ações, formando uma empresa combinada na qual os antigos minoritários da BRF deteriam 43% de participação — reduzindo a fatia do atual controlador da Marfrig de 72% para 41%.
Incorporação da BRF dá diversificação à Marfrig
O relatório do banco de investimentos diz que a incorporação cria uma companhia mais diversificada, com presença relevante em carne bovina, suína e de frango, e com uma base global de operação. A Marfrig passará a ter um portfólio mais equilibrado, com 38% da receita vinda de alimentos processados. Simulações apontam para uma alavancagem entre 3,6x e 4,5x dívida líquida/EBITDA, dependendo da adesão dos minoritários à fusão.
As sinergias operacionais e, sobretudo, fiscais, são um dos principais atrativos da operação. A companhia projeta ganhos recorrentes de R$ 805 milhões por ano com integração logística, cadeia de suprimentos e receitas cruzadas. Além disso, estima um benefício fiscal com valor presente líquido de R$ 3 bilhões, a maior parte capturada nos primeiros três anos após a fusão.
No lado operacional, os resultados das empresas no primeiro trimestre de 2025 ajudam a explicar o momento. A BRF surpreendeu positivamente: EBITDA ajustado de R$ 2,75 bilhões — acima das estimativas — e lucro líquido de R$ 1,1 bilhão. O bom desempenho foi puxado por margens mais fortes, menores despesas financeiras e sólida geração de caixa. No Brasil, a margem EBITDA de 17,1% foi a maior já registrada para um primeiro trimestre pela empresa.
Já a Marfrig enfrentou desafios, especialmente nos EUA. A National Beef registrou o pior resultado de sua história, com EBITDA de apenas R$ 35 milhões (margem de 0,2%), impactada pela menor disponibilidade de gado e a sazonalidade do inverno. Na América do Sul, no entanto, os números foram melhores, com aumento de volumes e margens saudáveis, sinalizando equilíbrio regional.
Novo patamar
Com a fusão, a nova Marfrig assume outro patamar, segundo o relatório. A expectativa é de maior estabilidade operacional, diversificação de receitas e avanço na governança. A possibilidade de uma futura listagem internacional também volta ao radar — um plano acalentado desde o IPO original, em 2007.
Apesar do valuation ainda representar um prêmio em relação à JBS, analistas acreditam que a combinação pode destravar valor à medida que os resultados consolidados comecem a refletir a nova estrutura.