Olá, Investidor Inteligente!
Nos últimos 60 dias, os mercados de renda variável vêm sofrendo. O Ibovespa atingiu um pico em 26 de julho nos 122.560,38 pontos e, atualmente, se encontra na casa dos 114-115 mil pontos.

Fonte: Google Finance
E, quais são os motivos?
Dentre várias possibilidades, me parece que a alta dos juros longos nos EUA vem fazendo preço aqui no Brasil. Além disso, o cenário fiscal deu uma “balançada”.
Explico: é fato que o mercado não conta com um déficit zerado em 2024; os mais otimistas acreditam em um déficit de 0,5% do PIB e os mais pessimistas de 1% – apesar do governo manter as suas projeções em 0% do PIB.
Mas, conforme o tempo passa e as medidas de aumento de arrecadação não saem, o mercado fica cada vez mais preocupado. E, com tudo isso, o mercado veio abaixo!
Bom, esse é o cenário atual. E muitos investidores estão com a seguinte dúvida: é certo que a taxa Selic vai cair; mas talvez a queda não seja tão grande quanto a projetada 2 meses atrás. Diante disso, faz sentido e já é hora de comprar ações?
Infelizmente, não poderei afirmar se as ações vão subir ou vão cair nos próximos 6, 12, 24 ou 36 meses. É impossível sabermos de antemão o que irá acontecer.
Mas, podemos afirmar que os valuations estão bem descontados. Observe:

No gráfico acima, podemos ver o indicador P/L projetado para os próximos 12 meses (excluindo-se do cálculo a Petrobrás e a Vale, que distorcem o número).
Esse indicador é calculado ao dividir o preço da ação, pelo lucro anual por ação e, com isso, vamos obter o número de anos que determinada empresa demora para “se pagar”. Quanto menor é o número, mais baratas estão as ações.
No atual momento, o P/L da Bovespa (ex-Petro e Vale) é de 9,5 anos, bem abaixo da média de 12,3 anos. A nossa bolsa esteve descontada assim (nos últimos 20 anos) somente na grande queda da crise do Covid em 2020; e na crise do subprime americano em 2008.

Agora, neste outro gráfico, podemos ver qual é o rendimento projetado médio da nossa bolsa, descontados a taxa de juros de longo prazo. Seria o yield (retorno) ACIMA DA TAXA DE JUROS; é o prêmio adicional pelo risco de comprar ações.
Hoje, o retorno é de 5,2%, ao passo que a média é de 2,9%. E esse prêmio só esteve assim alto em 2020, novamente, na crise da Covid em 2020, quando tivemos sucessivos “circuit-brakes” em poucos dias.
Então, ao alocar no mercado de ações nesse exato momento, o investidor comprará ações a preços historicamente descontados, com uma alta taxa de retorno, em um ambiente de queda dos juros. Parece tentador, não?
Bom, mas antes de investir em ações, é necessário a gente fazer um alinhamento importante, para não cairmos no erro que muitos investidores cometem:
Focar no curto prazo, com uma lupa sobre o preço das ações!
Não vale a pena investir muito tempo selecionando ações ou se preocupando com sobes e desces do dia a dia da bolsa
Com a procura pelo mercado de ações aumentando, surgem também diversos “gurus”, “influencers”, “especialistas”, “analistas” etc, vendendo caminhos mágicos para o enriquecimento.
As estratégias propostas são as mais variadas, mas, geralmente, envolvem a compra de um curso, a contratação de um serviço “ultra especializado”, a compra e a leitura de relatórios detalhados mostrando a “fórmula” do sucesso etc.
A verdade é que a alta complexidade é sexy. O simples, muitas vezes, não vende!
Sim, o mercado de ações pode parecer bem complicado. Entender cada ação, cada setor, cada linha de um balanço é algo realmente complicado. Mas, a boa notícia é que não é necessário entender toda a complexidade do mercado de ações, para ganhar dinheiro.
Preferimos fazer o simples. Acompanhe comigo. Muito investidor adota o seguinte estilo de investimento em ações:
- Compra a ação A.
- A ação A subiu 10% (por exemplo) e o investidor a vende (põe o lucro no bolso).
- Aí compra a ação B.
- A ação B sobe 10%, e o investidor a vende, novamente com lucro.
- Compra a ação C.
- A ação C cai 10% e o investidor segura. Cai mais 10% e o investidor segura, ou compra mais. Cai mais 40%, e o investidor continua segurando, aguardando o retorno. Cai mais 50% e o investidor “desiste” dessa ação, ou em outras palavras, “deixa esse dinheiro para longo prazo”.
No fim, esse investidor acredita piamente que escolheu a ação errada, ou não soube tomar a decisão “na hora certa”, no “timing correto”.
A grande verdade é que é muito difícil de se obter bons resultados “pulando” de ação para ação, como no exemplo acima.
No estudo elaborado por Brinson, Hood and Beebower (1986), chamado “Determinantes para a Performance do Portfólio”, foi demonstrado que apenas 2% do retorno de um investidor se dá pela capacidade de ele fazer um bom market timing. 4% da rentabilidade é adquirida através da boa seleção das ações e os outros 94% do retorno estão relacionados à qualidade de sua alocação (investimento em várias classes de ativos de forma diversificada). Observe a figura abaixo:

Mas então, como investir em renda variável?
Primeiro, alocar o % correto em RV, de acordo com o seu perfil.
Segundo, se o investidor é gestor profissional e/ou tem bastante tempo para acompanhar e estudar, é possível de se montar uma boa carteira de ações e geri-la com competência. Mas, lembre-se: a escolha das ações corresponde a apenas 4% do sucesso do seu portfólio, segundo o estudo apresentado anteriormente.
Para o investidor normal, que não é um gestor profissional de ações, a dica é fazer o simples: escolher bons fundos de ações. Deixar esses 6% de responsabilidade determinante para o sucesso (2% do timing + 4% da seleção das ações) para gestores profissionais! Eles dedicarão 100% do tempo para lhe trazer o maior retorno possível, com o menor risco possível.
É válido pontuar que existem diferentes maneiras de ter sucesso com investimentos, mas todas elas envolvem dedicação absoluta, diversificação, disciplina e uma mente probabilística.
A maior parte do retorno de uma carteira, não vem do market timing nem da seleção das ações.
Outro estudo, realizado pela Fisher Investments, demonstra o mesmo raciocínio.

Ele afirma que 70% do retorno de uma carteira pode ser atribuído a alocação, classe certa na hora certa. 20% do retorno pode ser atribuído a sub-alocação dentro das classes – decidir sobre o país, setor, capitalização (large vs. small), valuation (value x growth) no caso das ações; e duração, emissor, qualidade do crédito, se é tributável ou não no caso do investimento em renda fixa. E, por fim, apenas 10% do retorno pode ser atribuído a seleção dos ativos dentro da sub-alocação.
Então, caro Investir Inteligente, se você optar por iniciar ou aumentar a sua alocação em ações, faça da forma correta, para o seu perfil de investidor.
Conte conosco!
Por Denys Wiese, estrategista da EQI Investimentos
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