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Decisão de investimento: o investidor na panela de água fervendo

Decisão de investimento: o investidor na panela de água fervendo

Todo mundo já ouviu a lenda urbana sobre o sapo na água quente. Segundo a história, se você colocar um sapo em uma panela com água fervendo ele imediatamente vai saltar para fora e salvar a própria vida.

Mas, se você colocar o mesmo sapo na mesma panela com água fria, acender o fogo e começar a esquentar a água, o sapo vai se acostumando com o desconforto que vem aos poucos e vai acabar cozido. 

As razões que levariam alguém a tentar jogar um sapo em água fervendo são misteriosas, provavelmente para nosso próprio bem. E sim, a história é baseada em uma lenda, pois na verdade os sapos rapidamente saltam para fora da panela nos dois casos. 

Mas a história, se não descreve o comportamento dos batráquios, é uma excelente analogia para o comportamento humano. E se a capacidade de se adaptar a praticamente qualquer condição permitiu aos humanos ocupar todo o planeta, também nos causa alguns dissabores. Por exemplo, na hora de investir. 

O caso mais típico é a capacidade de nos adaptarmos quando o cenário que esperávamos não se concretiza e os investimentos que fizemos perdem valor. A reação racional nestes casos seria (ou deveria ser) reavaliar se o cenário que imaginamos continua válido e então decidir se é hora de desistir ou de perseverar. 

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Mas o que acontece na prática não é isso. Enquanto a água ao redor esquenta e esquenta, o investidor imagina (e torce para) que o novo ambiente seja algo apenas passageiro e, desconsiderando o incômodo, começa a encontrar novas razões para manter a decisão de investimento original. 

Decisão de investimento: a quem interessa o preço médio?

Todos ficamos na água tempo demais ou testemunhamos um conhecido que, apesar de todos os sinais e avisos, insiste em ser cozido. Seguramos as ações da empresa de telecomunicações que está sempre a um passo de sair da recuperação judicial (mas que nunca acontece). Ou compramos mais ações da resseguradora que teve problemas no passado, mas que agora vai decolar, pois um famoso investidor começou a comprar. Ou aumentamos a posição naquele varejista cuja capitalização de mercado é menor do que o valor dos estoques (que estes estoques ainda não foram pagos e, portanto, não são formalmente dela, não parece nunca ser mencionado). 

Frases como “só vendo quando o preço voltar para cima do meu preço médio”, ou “quanto mais cai, mais eu compro para diminuir meu preço médio” são normalmente indicadores de que a água ao seu redor está fervendo.

As decisões de investimento são sempre tomadas olhando para o futuro, não para o passado. O seu preço médio de aquisição só interessa para o seu contador apurar o seu imposto de renda, não para informar suas decisões.

A melhor forma de evitar cair nessa armadilha do “sapo na água fervendo” é ter um processo de investimentos sólido, em que você, reconhecendo que o futuro é incerto, trabalha com probabilidades e revisa estes julgamentos quando as condições iniciais mudam. De forma simples, tente sempre responder a pergunta: “se eu não tivesse essa ação, eu compraria hoje?”. Mas o processo de investimentos é o assunto da nossa próxima coluna. Até semana que vem! 

Por Luís Fernando Moran, head da EQI Research