Nesta sexta-feira (24) completa-se um ano da guerra da Ucrânia. Com ela, que é o maior conflito armado em solo europeu desde o fim da Segunda Guerra Mundial, houve algumas mudanças importantes no campo geopolítico, bem como a economia mundial.
Há exatos 365 dias as primeiras tropas russas entraram em solo ucraniano com o pretexto de “assegurar a paz e a independência” de regiões pró-Rússia e que se rebelaram contra o governo de Kiev. Depois disso, a Rússia – um dos principais parceiros comerciais do Brasil – ficou isolada tanto política quanto economicamente.
Mas, antes de chegar no cenário atual, vamos entender o contexto de como tudo começou.
Um ano da guerra da Ucrânia: o cenário
As tensões entre Rússia e Ucrânia jamais foram recentes. Remontam ao período soviético, quando os dois formavam uma só nação, a União Soviética. No começo, logo após a revolução russa, houve uma tentativa de organizar um estado independente ucraniano com a dissolução do império russo.
Porém, os bolcheviques esmagaram essa tentativa de estado soberano e criaram a República Socialista Soviética da Ucrânia, mantendo então os ucranianos sob as ordens do regime de Moscou.
A independência da Ucrânia só se tornou possível décadas depois, com o fim da URSS. No dia 24 de agosto de 1991, o país se juntou às demais repúblicas soviéticas que declararam sua separação de Moscou. Porém, o estado ucraniano só se viabilizou de forma efetiva em 1 de dezembro daquele mesmo ano, quando um referendo popular aceitou a independência com 93% dos votos favoráveis. Estava formada a Ucrânia moderna, o que incluía a península da Criméia, que anos depois seria palco de mais tensões entre russos e ucranianos, com a anexação por parte da Rússia em 2014.
A Ucrânia e o gás
Um dos principais produtos de exportação russa para a Europa sempre foi o gás natural. E com o fim do regime soviético, aos poucos os países do Ocidente foram fechando contratos de fornecimento de gás com a estatal russa Gazprom para compra do insumo, principalmente para aquecimento residencial.
Depois, com o novo governo de Moscou sob a atual bandeira russa, países da Europa e do resto do mundo passaram a importar petróleo russo. Mas o gás sempre foi o artigo de maior consumo europeu. O problema é que o principal gasoduto que abastece o continente – de propriedade da estatal russa – corta exatamente o território ucraniano. Portanto, a primeira parada do gás sempre foi a Ucrânia e depois a Europa como um todo.
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Por diversas vezes, o governo de Moscou ameaçou interromper o fornecimento para a Europa via esse gasoduto, principalmente próximo da chegada do inverno europeu, quando o consumo aumenta de forma significativa. O resultado foram preços mais elevados na venda.
Para contornar essa situação, a Alemanha e a Rússia fizeram um acordo para construir uma nova via de escoamento de gás para a Europa, mas passando pelo Mar do Norte e chegando em solo alemão. Esse é o projeto Nordstream, que acabou sendo atropelado pela guerra, porque teve sua construção concluída justamente no ano passado.
Aliás, em 2022, a Gazprom informou que as exportações russas de gás caíram 45,5% com relação ao ano anterior para países fora do antigo bloco soviético. As vendas externas passaram de 185,1 bilhões de metros cúbicos para 100,9 bilhões de metros cúbicos.
Para driblar as perdas, o governo do presidente Vladimir Putin tenta ampliar sua venda de gás para a China. O país está lançando o projeto de exploração de gás na Sibéria e ainda planeja a construção do gasoduto Força Siberiana para levar gás até a China, via Mongólia.
Levantamento da Folha de S.Paulo mostrou que os prejuízos causados à infraestrutura na Ucrânia após um ano de guerra é de US$ 138 bilhões e o Produto Interno Bruto (PIB) da Rússia encolheu 2,5%, ao passo que na Ucrânia tombou 35%.
Dados da The Economist mostram ainda que as sanções nos Estados Unidos contra pessoas ou empresas chegam a 1.948; a Suíça, tradicionalmente neutra em qualquer conflito, já aplicou 1.777 sanções; o Canadá realizou 1.590; e a Grã-Bretanha, 1.414. A União Europeia como um todo aplicou 1.390 sanções.
Como ficaram as commodities
Com esse conflito, as commodities enfrentaram uma verdadeira gangorra. O preço do petróleo foi o que mais sofreu. Em janeiro de 2022, no período pré-guerra, o barril tipo Brent – referência utilizada pela Petrobras (PETR3; PETR4) para formação dos preços dos combustíveis – estava na casa dos US$ 85. No dia 31 daquele mês, quando já ocorriam rumores sobre uma possível invasão russa, o barril atingiu a casa dos US$ 90.
No dia da invasão, em 24 de fevereiro de 2022, chegou a US$ 99. Mas foi a partir do dia 28 que o barril deu um salto, superando a barreira dos US$ 100. Em 8 de março do ano passado, chegou a atingir US$ 127,98. Depois disso, manteve alguns meses na casa dos US$ 100. Com o prolongamento do conflito por mais tempo do que o esperado, o Brent cedeu de volta à casa dos US$ 90. Na quinta-feira (23), fechou a US$ 82,21.
As ações de empresas petroleiras acompanharam essa escalada do petróleo. Em 28 de outubro, as ações PETR3 por exemplo atingiram o pico de R$ 35,78, sendo o preço mais elevado desde 19 de novembro de 2009 – na época da crise do subprime – quando chegou a R$ 43,90.
Os BDRs da Exxon (EXXO34), uma das maiores petroleiras do mundo, atingiu seu pico em 25 de novembro do ano passado, chegando a R$ 82,99. Dois meses antes esteve em R$ 56,09, disparando em seguida.
Como ficou a geopolítica
Os Estados Unidos e Europa promoveram várias sanções à Rússia. A China, que tentou ao longo destes 365 dias manter-se distante quanto possível do conflito, apresentou plano de paz, divulgado nesta sexta-feira (24).
De acordo com o planejamento, os chineses propuseram a parada das tropas russas onde elas estão hoje, inclusive em território ucraniano e um pedido para que o Ocidente encerre as sanções.
Porém, o plano foi rejeitado pela Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), aliança militar que tem os Estados Unidos, França e Grã-Bretanha como alguns dos principais aliados.
No último dia 21, em seu discurso que marcou o aniversário da guerra, Putin informou que suspenderia a participação russa do controle de armas nucleares, firmado com os Estados Unidos em 2010, conhecido como Novo Start.
No Brasil, desde o começo do conflito, o então presidente Jair Bolsonaro buscou não tomar nenhuma posição, preferindo a neutralidade, já que a Rússia é um dos principais parceiros comerciais brasileiros.
Postura semelhante foi tomada pelo seu sucessor, Luiz Inácio Lula da Silva, que tem se limitado a dizer que a paz precisa ser alcançada na região. Mas também sem condenar a invasão, evitando bater de frente o parceiro.
O Brasil, aliás, sofreu intensamente no ano passado com a alta dos preços dos combustíveis por conta da alta do petróleo. O governo Bolsonaro buscou amenizar o impacto, com um pacote que incluiu o congelamento da cobrança de ICMS – Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços – sobre a gasolina e o diesel, para baratear os custos.
Com relação ao envolvimento brasileiro atual, o presidente norte-americano Joe Biden teria conversado com Lula sobre o Brasil ter uma postura mais participativa sobre o conflito. Recentemente, na Organização das Nações Unidas (ONU), o Brasil foi favorável a uma resolução do órgão internacional que condenava a invasão russa.
Desde o começo do conflito, os EUA já enviaram cerca de 73 bilhões de euros em ajuda financeira à Ucrânia. A União Europeia, com um todo, já mandou quase 29 bilhões de euros, segundo levantamento do G1.
Porém, passado um ano, o conflito na Ucrânia, o maior embate após a Segunda Guerra e o que reviveu as tensões da Guerra Fria parece não ter data para acabar.
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