O mercado vive um momento de incertezas e, ao mesmo tempo, de oportunidades na Renda Fixa. Com a inflação mostrando sinais de arrefecimento e a expectativa de cortes na taxa básica de juros (Selic) ainda em 2025, surge a dúvida: este pode ser o último momento para investir em títulos com taxas elevadas?
Segundo João Neves, analista de Renda Fixa da EQI Research, a combinação de inflação mais baixa e economia desacelerando cria um ambiente favorável para que o Banco Central (BC) reduza os juros nos próximos meses.
“Estamos vendo uma série de dados positivos, como o IPCA-15 abaixo do esperado, preços de alimentos cedendo e uma economia mais fraca. Tudo isso pressiona para baixo as expectativas de inflação e abre espaço para cortes na Selic”, explica.
Estados Unidos e diferencial de juros
Além do cenário doméstico, a política monetária americana também entra na conta. O Federal Reserve (Fed) deve iniciar os cortes nos juros já em setembro, o que permitiria ao Brasil reduzir sua taxa sem perder a atratividade para investidores estrangeiros, mantendo o diferencial de juros favorável e, assim, evitando pressões sobre o câmbio.
“Com juros caindo lá fora e aqui também, mas mantendo o prêmio de risco, o Brasil continua sendo atrativo para o capital internacional. Esse é um ponto crucial para não comprometer o câmbio e manter a estabilidade econômica”, reforça Neves.
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Impacto nos títulos de renda fixa
Para os investidores, o principal recado é claro: os títulos prefixados são os mais beneficiados nesse cenário, pois suas taxas atuais já embutem a inflação esperada e podem gerar ganhos adicionais quando os juros efetivamente caírem.
“Hoje, ainda é possível encontrar títulos prefixados próximos de 14% ao ano. Se os juros caírem, esses títulos se valorizam, e quem comprou antes da queda pode ter ganhos expressivos. Mesmo que o corte não ocorra de imediato, o carrego — ou seja, a taxa que o título paga se mantido até o vencimento — já é muito interessante”, explica o analista.
Janela de oportunidade pode estar se fechando
Para Neves, o momento exige planejamento. “Se você esperar para montar a carteira apenas quando o corte de juros for anunciado, provavelmente terá perdido a melhor parte do movimento. A ideia é ir construindo a carteira aos poucos, aproveitando as taxas atuais”, recomenda.
Apesar da preferência pelos prefixados de curto e médio prazo, os títulos atrelados ao IPCA também seguem relevantes para quem busca proteção contra uma eventual piora da inflação no futuro ou tem objetivos de longo prazo, como aposentadoria ou educação dos filhos.
“Não é que o IPCA+ deixou de ser interessante. As taxas reais continuam entre as maiores dos últimos 20 anos. A diferença é que o ganho potencial com a queda dos juros é mais pronunciado nos prefixados”, conclui.