O novo CRA da MBRF (MBRF3) — companhia formada pela fusão entre Marfrig e BRF — chega ao mercado combinando rentabilidade agressiva, rating máximo (AAA) pela S&P e isenção de Imposto de Renda para pessoa física, em uma oferta de R$ 2 bilhões aberta ao investidor geral.
O título, atrelado a uma das maiores empresas de alimentos do planeta, chama a atenção pela combinação rara de risco baixo, taxas competitivas e potencial de ganho de capital em um cenário de queda de juros.
A junção desses fatores motivou a redação do EuQueroInvestir a preparar um guia completo sobre o CRA da MBRF. A ideia é oferecer ao investidor um panorama claro e didático sobre o título, seus riscos, suas oportunidades e, principalmente, entender se esse investimento realmente faz sentido para diferentes perfis de risco.
Antes de tudo: o que é, afinal, um CRA?
Antes de mergulhar na oferta da MBRF, vale reforçar um conceito essencial: o que exatamente é um CRA — e por que esse tipo de título vem atraindo cada vez mais investidores, especialmente aqueles que buscam retornos acima dos produtos bancários tradicionais.
O CRA, Certificado de Recebíveis do Agronegócio, funciona como um “empréstimo” que o investidor concede, de maneira indireta, a empresas ligadas ao setor do agronegócio. Em vez de captar recursos em bancos ou emitir dívidas tradicionais, essas empresas podem transformar seus recebíveis — valores que elas têm a receber, ligados à cadeia do agro — em títulos de investimento. Uma securitizadora organiza essa estrutura e emite o CRA para os investidores.
Pense no CRA como uma ponte:
- de um lado, está uma empresa do agro que precisa financiar sua operação;
- de outro, está o investidor buscando rentabilidade e isenção de IR;
- no meio, a securitizadora estrutura esse encontro e administra o fluxo de pagamentos.
Embora tecnicamente seja um título do agronegócio, muitas grandes companhias — como exportadoras de proteína, alimentícias e processadoras — utilizam esse instrumento para financiar atividades que se conectam ao agro em algum ponto da cadeia.
Por que esse tipo de título chama atenção?
Uma das maiores vantagens do CRA é a isenção de Imposto de Renda para pessoa física, o que impulsiona muito a rentabilidade líquida. Outro ponto relevante é a diversidade de indexações: o investidor pode escolher entre remunerações atreladas ao CDI, à inflação (IPCA) ou prefixadas, permitindo adequar o título ao seu horizonte de investimento e ao cenário de juros.
Por outro lado, é importante reconhecer as desvantagens. Por não contar com garantia do FGC, o risco de crédito da empresa emissora importa bastante. Além disso, a liquidez é mais limitada, e a marcação a mercado pode gerar oscilações importantes — principalmente em títulos longos, que oscilam mais quando a curva de juros se move.
Assim, ao avaliar um CRA, o investidor deve ir além da taxa: é fundamental analisar quem está emitindo o título, o prazo e o risco do negócio. É exatamente por isso que a oferta da MBRF ganhou tanta relevância no mercado.
CRA da MBRF: o que o investidor precisa saber sobre a oferta
O CRA da MBRF surge em um momento importante para a companhia recém-integrada — resultado da combinação entre Marfrig e BRF, duas gigantes do setor de proteínas com atuação global e robustez financeira reconhecida. O grupo nasce com operação diversificada entre carne bovina nos EUA e no Brasil e as linhas de aves, suínos e processados da BRF, além de sua presença marcante no setor Halal.
A oferta total é de R$ 2 bilhões, aberta a investidores em geral e com investimento mínimo acessível de R$ 1 mil. O grande destaque está no rating AAA atribuído pela S&P, um patamar reservado apenas às empresas com risco de crédito muito baixo e histórico consistente de geração de caixa. A isenção de IR completa o apelo do título.
Uma estrutura para diferentes perfis de investidor
As cinco séries do CRA foram desenhadas para atender desde o investidor que busca algo mais conservador — como a série atrelada ao CDI — até aquele que aceita maior volatilidade em troca de maior prêmio e potencial de ganho de capital, como as séries longas indexadas ao IPCA ou às NTN-Bs.
A primeira série, com remuneração de 101,50% do CDI, tem duração de 4,5 anos e amortização bullet, funcionando como um título de risco baixo e retorno competitivo. Já as séries intermediárias e longas combinam indexadores duplos (como NTN-B + spread ou IPCA+ spreads elevados, sempre prevalecendo a taxa maior), criando um colchão de proteção para o investidor.
Nas séries de 20 e 30 anos, o prêmio é expressivo: além dos spreads generosos, o alongamento da duration amplia o potencial de valorização caso a curva de juros continue cedendo — embora também aumente a sensibilidade a oscilações de mercado no curto prazo.
Essa estrutura híbrida se tornou um dos pontos mais elogiados por analistas de renda fixa, pois concentra tanto proteção quanto potencial de retorno em instrumentos de risco controlado.
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Por que a MBRF importa — e por que isso pesa no risco do título
Entender o que está por trás do CRA é tão importante quanto olhar para a taxa. E, no caso da MBRF, a companhia passou a reunir atributos que ajudam a explicar por que a S&P atribuiu rating máximo à operação.
A BRF, por si só, já é uma das maiores empresas de alimentos do mundo, com marcas líderes como Sadia, Perdigão, Qualy e forte atuação internacional — especialmente em mercados Halal, Ásia e Oriente Médio. Em 2024, registrou R$ 63,5 bilhões em receita líquida, margem EBITDA de 17,4% e alavancagem controlada em 0,54x, reflexo de uma recuperação operacional consistente.
Do lado da Marfrig, a empresa traz a força de sua operação bovina nos Estados Unidos — responsável por quase metade da receita global da MBRF — além da presença no Brasil e acesso consolidado a mercados internacionais. A fusão reduziu a dependência de uma única proteína ou região, criando um portfólio equilibrado e mais resistente a ciclos.
Hoje, a MBRF está presente em 117 países, seja com operação própria ou exportação, e tem acesso amplo a financiamentos no Brasil e no exterior. A expansão recente da operação Halal, por meio da joint venture com a saudita PIF, deu nova escala e fortaleceu margens futuras.
Esse conjunto de fatores reduz riscos típicos do setor — como volatilidade de preços, ciclos de proteína e riscos geográficos — e melhora a previsibilidade dos resultados. Por outro lado, a companhia ainda é afetada pela ciclicidade do agronegócio e, no curto prazo, pode sentir a normalização do ciclo avícola, que tende a pressionar spreads.
O que diz a EQI Research sobre o CRA da MBRF
O analista João Neves, especialista em renda fixa da EQI Research, destaca que o CRA da MBRF combina grau de risco reduzido, fundamentos sólidos e taxas competitivas, especialmente nas séries de duration mais longa — que podem capturar ganhos relevantes se a curva de juros continuar em trajetória de queda.
Ele reforça que, apesar da robustez financeira da companhia, é essencial que o investidor acompanhe a dinâmica dos ciclos de proteína e a sensibilidade das séries longas a movimentos de mercado, fatores que podem gerar volatilidade de curto prazo.
A análise completa, com cenários detalhados, recomendações e a avaliação final sobre se vale a pena investir no CRA da MBRF, está disponível no app EQI+, onde a equipe da EQI Research apresenta um diagnóstico aprofundado série a série.





