Quais são os setores que se beneficiam com a alta de juros no Brasil e nos EUA?
Depois da chamada “Super Quarta”, na qual os bancos centrais do Brasil e dos Estados Unidos anunciaram suas novas taxas de juros, tudo ficou dentro do esperado.
Sem surpresas, o Federal Reserve (Fed) confirmou as expectativas e elevou as taxas de juros dos Estados Unidos em 0,25% – maior aumento desde 2018.
E a medida para controlar a inflação americana segue com apostas na manutenção de altas consecutivas nos próximos meses.
Por aqui, conforme também já era esperado, o Copom, subiu a Selic em mais 1% – para 11,75%.
O choque de preços dos combustíveis e de itens que impactam a cesta básica como o trigo deve continuar pressionando o IPCA.
Com isso, o mercado já espera algo em torno de 13% a 13,5% na taxa básica de juros ao final de 2022.
Nesse cenário, quais são os setores que mais se beneficiam? Vamos te mostrar.

Escalada da Selic. Fonte: Banco Central
Altas nos juros do Brasil e dos EUA não surpreendem mercado
O principal pano de fundo que resultou em ambas as decisões desta super quarta foi a inflação.
No Brasil, a inflação ao consumidor, medida pelo IPCA, superou os dois dígitos em 2021 e, atualmente, segue em 10,54% no acumulado de 12 meses até fevereiro.
Enquanto nos Estados Unidos, o acumulado do mesmo período bateu 7,9%, maior desde janeiro de 1982.

Projeções para o IPCA e Selic. Fonte: BTG
Guerra pode estender aperto monetário
O presidente do Fed, Jerome Powell, adotou um tom pessimista ao explicar o contexto da elevação da taxa de juros norte-americana, citando a guerra da Ucrânia como um dos principais fatores para a elevação da inflação.
Além disso, adiantou que, nas próximas reuniões, outros aumentos virão.
Por aqui, em seu comunicado, o Copom observou que no cenário externo, o ambiente se deteriorou substancialmente.
O conflito entre Rússia e Ucrânia levou a um aperto significativo das condições financeiras e ao aumento da incerteza em torno do cenário econômico mundial.
Já no cenário nacional, a inflação seguiu surpreendendo negativamente, tanto nos componentes mais voláteis, como nos itens associados à inflação subjacente.
“O Copom considera que, diante de suas projeções e do risco de desancoragem das expectativas para prazos mais longos, é apropriado que o ciclo de aperto monetário continue avançando significativamente em território ainda mais contracionista”, cita parte do texto.
Ciclo econômico: de Selic a Fed, como o aumento da taxa de juros nos EUA pode afetar o Brasil?
Os Banco Centrais atuam em uma rotina de ciclos econômicos – ora estimulando, ora desacelerando o crescimento.
Para estimular – diferentemente do passado – o dinheiro injetado na economia não mais é feito por meio da circulação de mais papel moeda. Mas, sim, acrescentando dígitos nas contas dos bancos, via open market.
Com essa entrada “ilusória” de recursos, empresários e consumidores passam a produzir e consumir mais. No entanto, não é possível manter este alto consumo por muito tempo. Logo em seguida vem o movimento de contenção.
Para desacelerar, os BCs sobem os juros, retirando dinheiro de circulação, o que encarece e reduz o crédito. Finalizando, assim, um ciclo.
“O ciclo econômico é exatamente esse sobe e desce que a economia faz. O banco central ‘imprime’ dinheiro, aumenta a liquidez, com redução dos juros. E, depois, é obrigado a fazer exatamente o oposto, para conter a inflação. Ele é obrigado a matar a atividade econômica por um certo tempo. E como os juros altos mataram a atividade econômica, começa, então, um novo ciclo de estímulo”, ensina Denys Wiese, Head de Renda Fixa da EQI Investimentos.
Aumento dos juros: final do ciclo econômico para Brasil e EUA
Com relação à fase do ciclo econômico, o Brasil, atualmente, está para entrar em um momento de recessão, que será seguido de um novo estímulo na economia.
Isso deve se dar pela troca da sequência de altas nos juros por quedas consecutivas, começando a partir de 2023, apontam os analistas.
Já os EUA ainda estão finalizando a fase expansionista, iniciando agora um movimento de subida de juros, com contração da atividade.

Fases do ciclo econômico. Fonte: EQI Investimentos
Setores mais impactados pela alta dos juros
Os setores mais “castigados” pela subida dos juros são aqueles compostos por empresas “alavancadas”: isso significa as que possuem dívidas.
Isso acontece porque o custo com as despesas cresce, diminuindo os lucros, conforme explica o head de renda fixa.
“Tem setores da economia que precisam tomar muitos empréstimos para que o retorno venha no futuro. São as chamadas empresas “growth” (crescimento). Essas empresas tendem a não ir tão bem em cenário de juros altos (como o que estamos vivendo agora). Paga-se muitos juros e os resultados são muito baixos”, avalia o especialista.
Na prática, os setores que dependem de mais renda da população vão sentir mais este momento de alta da Selic: como a construção civil.
Isso porque juros mais altos aumentam o custo financeiro no mercado imobiliário, e afetam a demanda por imóveis no curto e médio prazo.
Além disso, outro segmento diretamente afetado com inflação mais alta é o de bens de consumo.
Isso acontece, pois com recursos mais escassos, a renda das famílias passa a ser direcionada para bens essenciais.

Em que setores investir em cada fase do ciclo econômico. Reprodução/EQI Investimentos
Setores que mais se beneficiam com a subida da Selic
“As empresas mais estabilizadas, que não precisam tomar tantos recursos, que possuem demanda e já apresentam resultados são as mais resilientes a um cenário de alta dos juros”, explica o Denys Wiese.
Essas companhias, chamadas de empresas de “value” (valor), são justamente as representantes da “velha economia”, como bancos, exportadoras de commodities, setor elétrico, saneamento e setor de alimentos.
Pós-super-quarta: dólar e euro, o que tem mais chances de acontecer?
De acordo com Alexandre Viotto, head de câmbio e comércio exterior da EQI Investimentos, “por mais que a tendência, sob ‘condições normais de temperatura e pressão’ seja de valorização do real, não é possível ‘cravar uma tendência para a nossa moeda’”.
“Tudo o que não temos agora são condições normais, bem longe disso. E não podemos esquecer do que acontece no ‘Velho Continente’, epicentro das preocupações de todos os investidores hoje em dia.
Hoje, o dólar está se valorizando frente às demais moedas por causa da insegurança causada pela guerra. “No entanto, isso não tem acontecido em relação ao real por questão dos juros altos praticados aqui”, pondera Denys Wiese,
“Quando olhamos para a questão da taxa de juros, há uma tendência de valorização de médio e longo prazo do dólar e do euro, mas existem muitas outras influências a serem consideradas.
Um cenário mundial de juros mais altos tende a drenar recursos das economias mais frágeis para as economias mais fortes. Assim que os EUA aumentarem os juros, os investidores irão para o Tesouro americano”, sinaliza Wiese.
Brasil: o preferido entre os países emergentes?
Segundo Wiese, os fundos que investem em países emergentes estão preferindo o Brasil frente aos seus concorrentes por “WO” – termo utilizado no mundo dos esportes para atribuir uma vitória a um competidor quando o adversário está impossibilitado de competir ou quando não existem adversários.
“O Brasil está ganhando das economias dos demais países semelhantes devido às questões particulares de cada estado: a Rússia está em guerra, a China está com muita intervenção estatal e vem verificando uma fuga de capitais, a Turquia está próxima à zona do conflito”, comenta.
Mas, a principal questão é a alta do juros.
“O Brasil está em uma subida forte da Selic e, talvez, encerre o ano acima de 12 ou 13% ao ano. Isso, com certeza, tem atraído capital para cá e permite que o real se valorizasse frente ao dólar. O Brasil também é um grande exportador de commodity, e a disparada no preço atrai mais divisas para cá”, avalia.
Final de ciclo econômico: commodities tendem a se beneficiar
As commodities tendem a se valorizar no final de um ciclo de expansão. Principalmente, quando começa a aparecer a inflação. E os países emergentes podem se beneficiar, porque a grande maioria é exportador de commodities, conforme explica o especialista da EQI.
“Globalmente, o dinheiro em circulação aumentou muito nesses últimos anos, principalmente, após o início da pandemia. Todas as economias ocidentais inflaram suas bases monetárias, e esse dinheiro foi escoando pela economia. Com mais recursos girando, as pessoas compram mais e as commodities são altamente demandadas. Somado a isso, as sanções impostas à Rússia – uma grande produtora e exportadora de commodities -, que a retiram do comércio mundial, diminui a oferta e, naturalmente, os preços tendem a ser ainda mais pressionados”, esclarece Wiese.
Alta da Selic: o que acontece com os investimentos?
Como já citado, com a subida de juros nos EUA, começando agora e podendo durar por anos, é esperada uma migração de capital para os títulos do tesouro de lá, considerados os ativos mais seguros do mundo.
Logo, haverá menos liquidez em mercados emergentes de maior risco, como o Brasil.
Além disso, juros mais altos nos EUA forçam juros mais altos no Brasil. E isso impacta diretamente nos investimentos.
Impactos da alta da Selic na renda fixa
As alterações da taxa Selic têm um impacto especialmente interessante sobre o mercado de renda fixa.
Quando a curva de juros encontra-se em um ciclo de alta , os papéis pós-fixados apresentam melhores rendimentos.
Isso acontece porque eles são diretamente atrelados ao CDI, que é um reflexo da taxa Selic. Assim, quanto mais alta a taxa estiver, mais esses títulos renderão e estarão valorizados.
Impactos da alta da Selic na renda variável
O mercado de renda variável sofre os efeitos da alta na taxa Selic, com uma migração do capital para a renda fixa.
Neste momento, os investidores devem fazer gerenciamento de risco da carteira de investimentos, alocando mais em ativos seguros e conservados e uma menor quantidade ativos mais agressivos.
Nesse sentido, as ações de empresas de valor, ou seja, já constituídas e que dependem menos de empréstimos, ganham destaque.
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