O início de 1999 foi marcado por um período emblemático para a economia brasileira. O país, que até então seguia um modelo de âncora cambial, abandonou esse sistema em 15 de janeiro do mesmo ano, passando então a operar em regime de câmbio flutuante.
A repercussão da medida do governo atingiu instantaneamente diversos elementos da economia, de modo que a desvalorização cambial, a inflação e a taxa de juros foram as mais impactadas.
No mercado financeiro, a Bolsa de Valores brasileira passou por um período de grande oscilação em um curto espaço de tempo, indo do pânico à euforia em questão de dias.
O que foi?
O Plano Real, implementado em 1994, foi eficaz em controlar o grave problema da inflação no país, no entanto, para se manter sustentável no longo prazo, uma série de políticas econômicas precisavam ser implementadas.
Entretanto, como essas medidas foram relegadas a segundo plano, ao longo dos anos houve um grave acúmulo de problemas estruturais na economia brasileira.
Ao manter a moeda nacional sobrevalorizada o país passou a registrar um forte crescimento de déficits comerciais ao mesmo tempo em que enfraquecia a indústria.
Desse modo, como era mais fácil importar, já que o dólar era mais barato, setores importadores foram fortalecidos em detrimento dos setores exportadores.
Na prática, o país estava economicamente fragilizado, com menores taxas de crescimento do PIB associado a um processo de “desindustrialização” nacional.
Ao mesmo tempo, com a taxa Selic alta, o déficit nas contas do governo era cada vez maior. O desemprego também era crescente, passando de 5,3% para quase 8% no momento mais profundo da crise cambial.
Para manter o sistema de câmbio fixo funcionando, o governo precisava injetar bilhões de dólares para sustentar a força da moeda brasileira.
No entanto, a crise no mercado internacional forçaria o governo a romper com esse sistema cambial atrelado ao dólar.
A crise asiática de 1997, seguida da crise russa de 1998, provocaram uma queda brusca no preço das commodities exportadas pelo Brasil, além de reduzir o crédito externo e consequentemente dificultar a captação de dólares no exterior.
Com isso, manter o câmbio brasileiro sobrevalorizado seria uma tarefa ainda mais árdua para o governo brasileiro.
Diante disso, após as eleições presidenciais de 1998, o governo brasileiro iniciou os preparativos para a desvalorização do Real, que viria a ocorrer em janeiro de 1999.
Desvalorização
No dia 13 de janeiro de 1999, o presidente do Banco Central, Francisco Lopes, anunciou a criação de uma nova modalidade de controle cambial, bem como alteração do piso e do teto do câmbio para R$1,20 e R$1,32, respectivamente.
O intuito do governo com essa medida era cessar a intensa saída de dólares do país e evitar uma maior redução das reservas internacionais.
No entanto, a medida foi ineficaz e no mesmo dia o dólar atingiu o teto da banda, obrigando o governo a vender dólares para se manter dentro dos parâmetros estabelecidos. A situação se repetiu no dia seguinte, de modo que em 15 de janeiro de 1999, as reservas internacionais estavam muito baixas, em US$ 32 bilhões.
Temendo que a redução das reservas internacionais se intensificasse, o governo decidiu liberar o câmbio. Na prática, o valor do dólar passaria a ser determinado em função do mercado e não mais de forma artificial.
Com isto, o dólar teve sucessivas altas, chegando a ser negociado a R$ 2,13, no dia 29 de janeiro de 1999.
Em menos de 15 dia o dólar disparou 61%, saltando de R$ 1,32 para R$ 2,13.
A cotação do dólar permaneceu oscilando entre R$ 1,73 e R$ 1,98 em 1999 e 2000, terminando o ano de 1999 cotado a R$1,789 e o ano de 2000 em R$ 1,956.
Repercussão na economia
A liberação do cambio desencadeou uma série de impactos na economia brasileira como a redução do déficit da balança comercial (de US$ 6,5 bilhões em 1998 para US$ 1,2 bilhão em 1999).
Além da redução da taxa Selic de 45% ao ano, em março de 1999, para 19% ao ano, em dezembro de 1999.
A inflação, cujo patamar era de 1,78% em 1998, saltou para mais de 20% em 1999.
No mercado financeiro, a Bolsa de Valores registrou fortes oscilações em questão de dias.
Entre os dias 13 de janeiro e 14 de janeiro, de 1999, a Bolsa de Valores precisou acionar o circuit breaker e interromper suas atividades.
No dia 13 de janeiro a Bolsa acionou o primeiro circuit breaker (C.B) e fechou em queda de 5,05%, após despencar 10,78%. Já no dia 14 de janeiro (2º C.B), a Bolsa fechou em queda de 9,97%, após despencar 10,09%. Em sentido contrário, no dia 15 de janeiro a Bolsa brasileira registrou forte correção e chegou a avançar mais de 30% no dia, mas fechou o pregão no zero a zero, aos 5.057 pontos.