A Americanas (AMER3) atacou diretamente o ex-CEO Miguel Gutierrez e os membros que ocuparam cargos da diretoria até o fim de 2022, imputando a eles a responsabilidade pela fraude contábil de cerca de R$ 20 bilhões revelada no início deste ano, no período de 11 dias em que Sérgio Rial ocupou o comando da varejista.
Como parte de sua defesa em processo movido pelo Bradesco (BBDC4), a empresa entregou à Justiça a cópia de um planilha em que, segundo ela, há “mais evidências de que a antiga diretoria omitia informações sobre a existência de risco sacado”, operação de crédito que não foi registrada nos balanços da empresa. Segundo a Americanas, a planilha “escondia o volume real das dívidas existentes com os bancos nesta categoria de empréstimo”.

Ao apresentar a planilha reproduzida acima, a empresa diz ainda que uma falsa visão positiva “sobre as finanças da companhia foi transmitida pelo próprio Miguel Gutierrez a analistas de mercado, em call sobre os resultados do terceiro trimestre de 2022, em 11.11.2022, inclusive indicando uma alavancagem bem menor que a real”, escreveu a empresa em petição judicial.
Em outro trecho, o ataque a Gutierrez é ainda mais duro: o ex-CEO da empresa é chamado de “fraudador”, “que por anos construiu um patrimônio pessoal vultoso, fabricando resultados fictícios às custas de credores, fornecedores, funcionários e acionistas”.
Na semana passada, reportagem do site NeoFeed apontou que os controladores da Americanas e outros executivos já sabiam da complicada situação financeira da varejista, por meio de e-mails, conversar por WhatsApp e planilhas.
O Bradesco acusa o trio de controladores da empresa, Jorge Paulo Lemann, Carlos Alberto Sicupira e Marcel Telles, de ter conhecimento prévio da crise antes da divulgação das fraudes, em 11 de janeiro deste ano. O banco pediu uma perícia judicial para vistoriar os e-mails dos gestores da empresa em busca de informações, mas essa ação foi suspensa na semana passada depois que a Americanas alegou que a Kroll, empresa de investigações indicada para a perícia, tinha contratos com o Bradesco em outros processos e, por isso, haveria conflito de interesses
O Bradesco envolveu os controladores em ação judicial para evitar que eles vendessem bens que poderiam ser usados na quitação de dívidas da Americanas. Outros bancos, no entanto, reclamam nos bastidores de que a instituição estaria tentando se beneficiar e atravessar o processo de recuperação judicial da empresa, que ainda não foi aprovado na Justiça.
“A Americanas lamenta que a instituição esteja se valendo da falsa narrativa trazida pelo principal acusado de ter conduzido a fraude na empresa para fazer acusações infundadas e desprovidas de provas”, afirmou a Americanas (AMER3) em comunicado à imprensa.