William Waack, jornalista e comentarista da CNN Brasil, foi um dos grandes destaques da Money Week 2025, evento promovido pela EQI Investimentos.
Durante o painel que debateu o atual choque entre as potências — Estados Unidos e China — e o papel do Brasil no meio do fogo cruzado, Waack trouxe uma perspectiva profunda sobre o cenário internacional, em conversa com Stephan Kautz, economista-chefe da EQI Asset.
Ao iniciar o painel, Kautz pontuou que “o mundo atual está mudando. Diversos organismos internacionais não têm a mesma representatividade, e vemos uma tentativa de mudança da globalização para os interesses pessoais de cada país.”
O cenário atual foi descrito como inédito e potencialmente decisivo para as próximas décadas, uma espécie de “Guerra Fria 2.0”, como definiu William, especialista em análises geopolíticas.
William Waack na Money Week: o fim da ordem liberal
O diagnóstico parte da constatação de que a globalização, como a conhecíamos, está dando lugar a decisões cada vez mais guiadas por interesses políticos e estratégicos, e não mais por uma lógica puramente econômica. O reflexo disso aparece nas tensões comerciais, nas disputas por hegemonia e no desmantelamento de cadeias produtivas globais.
Segundo Waack, o grande paradoxo da nova desordem mundial está justamente no papel dos Estados Unidos. O país que construiu e liderou a ordem liberal baseada em valores como democracia, livre mercado e direitos humanos, tornou-se agora o principal agente de sua desconstrução.
“O mundo em que estamos vivendo hoje dá razão aos historiadores que afirmam que não há racionalidade econômica — não é isso que está em jogo. O que está em jogo é a manutenção do poder.” , disse.
A ascensão da China e o novo dilema brasileiro
Com a ascensão da China ao papel de potência revisionista, o tabuleiro geopolítico global se reconfigura. Pequim desafia a liderança americana e oferece a outros países, como o Brasil, a oportunidade de tomar partido.
“A China acredita que o mundo liderado pelos EUA está em decadência. Ela está disposta a competir em todos os campos. Mas ao fazer isso, também nos obriga a uma escolha difícil: de que lado estamos?”, questionou Waack.
A posição do Brasil é especialmente delicada. Como país continental, com escassa capacidade de projeção de poder e distante de grandes conflitos religiosos, étnicos ou militares, o Brasil vive uma posição relativamente confortável, mas também vulnerável.
“Se por um lado estamos longe das zonas de conflito, por outro temos dificuldade em entender o impacto que essas disputas globais têm sobre nós.”
O maior risco, segundo Waack, não está nas tarifas comerciais em si, como o recente tarifaço imposto pelos EUA a produtos brasileiros, mas no simbolismo político dessas medidas.
“O maior problema do tarifaço contra o Brasil não é a medida em si, mas o fato político que ela revela: o governo americano não vê o atual governo do Brasil como democrático. Essa percepção é grave, complexa e, até o momento, segue sem resposta.”
O Brasil e a armadilha geopolítica
A estratégia americana diante da ascensão chinesa tem pressionado países como o Brasil a uma espécie de “escolha de Sofia”. A cada passo, o país é compelido a demonstrar lealdade a uma das potências — o que, em qualquer cenário, acarreta perdas.
“Estamos sendo forçados a escolher um lado, quando o melhor caminho para nós seria manter relações equilibradas com ambos. O Brasil não pode permitir que um lado interprete nossa postura como uma escolha contra ele”, alertou Waack.
Ele também destacou os impactos dessa lógica geopolítica na economia global. Segundo Waack, “essa dinâmica pode comprometer a produtividade mundial, especialmente se os Estados Unidos decidirem trazer as cadeias de produção para dentro de suas fronteiras por questões de soberania nacional. Se isso ocorrer, a produtividade cairá e, consequentemente, a inflação aumentará.”
Além disso, ele acrescentou que, “diante desse cenário, os bancos centrais elevarão os juros, levando a um ciclo de juros globais mais altos e prolongados. Nesse ambiente novo e incerto, o prêmio pelo risco deverá ser maior.”
Diário da nova ordem mundial
Diante de tantas incertezas, Waack sugere um exercício quase terapêutico: documentar o momento histórico que estamos vivendo.
“Escrevam um diário. Vamos precisar lembrar dessa fase. Estamos vivendo um momento que não volta mais, assim como foram os anos 1930. O mundo está mudando”.
“O momento que nos estamos passando na historia do mundo é inédito. Estamos realmente em uma fase histórica que vamos precisar lembrar sempre na nossa cabeça”.