Só em um país exausto da intervenção do estado na economia seria capaz de levar à presidência um outsider como Javier Milei. É assim que a vitória do anarcocapitalista Milei é definida por Marcelo Duclos, jornalista autor do livro “Milei – A revolução que eles não esperavam”.
“A Argentina é um país que pagou muito caro por ter seguido o caminho do dirigismo estatal, do controle econômico pelo estado levado ao extremo”, afirma. “Existe uma relação linear entre o intervencionismo de estado extremo e o fato de um outsider se converter em presidente”, afirmou durante a Money Week, evento da EQI Investimentos.
Duclos ensina que, na Argentina, existem dois partidos: o peronismo e o radicalismo. “Historicamente, as eleições são dominadas pelo Partido Justicialista e pela União Cívica Radical. Quando se abandona o bipartidarismo e aparecem mais candidatos, todos os que surgem são apadrinhados pelos peronistas ou pelo partido radical. São dois partidos que poderiam estar mais a centro-esquerda ou centro-direita, de acordo com a conjuntura. Mas sem seguir qualquer corrente ideológica ou filosófica”, explica.
Nesse cenário, Milei aparece nos meios de comunicação, desafiando o discurso politicamente correto. Ele criticava com veemência a justiça social, alegando que ela gerava pobreza, o que atraiu uma base de seguidores, especialmente entre os jovens. Com o crescimento de sua popularidade, surgiram também detratores. Duclos observa que uma parte da sociedade começou a perceber a existência de um pensamento que antes era evitado.
No livro, escrito em coautoria com o advogado Nicolás Márquez, a trajetória de Milei é descrita em 320 páginas. Márquez se encarrega da biografia de Milei, enquanto Duclos aborda sua ideologia, fundamentada na Escola Austríaca.
Javier Milei e a Escola Austríaca
A Escola Austríaca de Economia, fundada no fim do século 19 por Carl Menger, defende que a liberdade individual é crucial para o progresso econômico, com decisões sendo tomadas pelos próprios indivíduos, e não pelo Estado ou por uma autoridade central.
Milei cita frequentemente economistas dessa escola, como Ludwig von Mises, Friedrich Hayek e Murray Rothbard, que influenciam suas ideias. Ele utiliza conceitos como o de “ordem espontânea”, de Hayek, que propõe que o mercado, sem intervenção, se organiza de maneira eficiente.
O presidente argentino defende o liberalismo econômico e a redução do papel do Estado, princípios centrais da Escola Austríaca. Ele acredita que a mínima interferência estatal permite que as pessoas tenham controle sobre suas decisões econômicas e se opõe a políticas de subsídios e controle de preços, argumentando que essas medidas distorcem o mercado.
A Escola Austríaca também critica fortemente a emissão de moeda e a manipulação das taxas de juros pelos bancos centrais. Milei compartilha dessa visão, sendo um crítico aberto ao Banco Central da Argentina, que ele acusa de gerar inflação pela emissão excessiva de moeda. Como solução, propõe a dolarização da economia, eliminando o controle estatal sobre a política monetária para conter a inflação.
Os austríacos veem ainda o livre mercado e a concorrência como motores de inovação e eficiência, o que Milei defende de forma entusiástica. Ele advoga por menos regulações e barreiras ao empreendedorismo, acreditando que essas medidas trarão crescimento econômico e desenvolvimento para a Argentina.
Milei não é personagem
Duclos defende que Milei não é um personagem político inventado pelo marketing e sim uma figura autêntica que, exatamente por isso, chegou à presidência.
“Não houve a criação de um personagem, isso foi algo tão autêntico que muitas pessoas valorizaram, porque a política está sempre tão planejada, com grupos focais, pesquisas, o que convém dizer, o que não convém dizer… Milei rompeu com todas essas questões. Isso explica o segredo de seu sucesso”, avalia.
Ele se diz alinhado aos pensamentos de Milei e conta que planejava escrever sobre liberalismo econômico há mais de 20 anos. Como jornalista, Duclos critica a imprensa argentina, que acusa de ser crítica demais a Milei por interesses financeiros.
Para ele, mesmo sendo alvo de muitas críticas, o modelo econômico de Milei poderá ter suas vantagens constatadas em breve, especialmente nos estados argentinos que se alinharem ao novo modelo proposto.
“Milei propõe um sistema de incentivos para grandes investimentos aos governadores. Alguns governadores assinam e subscrevem, e os opositores dizem que não. Começou uma revolução onde, por exemplo, as províncias que acompanham as decisões inteligentes começarão a florescer, enquanto as que decidem manter o modelo corporativo mostrarão que não melhoram e que o vizinho sim melhora”, acredita. “Milei é o primeiro presidente libertário do planeta. A Argentina está escrevendo história”, defende.
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