O rebaixamento da nota de crédito dos Estados Unidos pela agência Moody’s, a última das três grandes agências a rever negativamente o rating do país, gerou reações imediatas nos mercados financeiros globais. A decisão foi motivada pela contínua deterioração da dívida pública americana e pela adoção de políticas fiscais mais expansivas.
Segundo Alexandre Viotto, Head de Banking da EQI Investimentos, o movimento era esperado, mas ainda assim causou forte volatilidade. “A Moody’s seguiu o caminho das outras agências e rebaixou o rating dos EUA por causa da trajetória bastante negativa da dívida pública americana nos últimos anos”, explicou.
O mercado previa que o governo republicano adotasse uma abordagem mais austera, o que não se confirmou. “A expectativa era que Trump fosse mais restritivo nos gastos, mas vimos justamente o contrário”, afirmou Viotto.
Entre as medidas aprovadas está a isenção do imposto de renda sobre gorjetas recebidas por trabalhadores do setor de serviços, uma renúncia fiscal significativa para os cofres públicos.
Gastos militares e déficits trilionários ampliam o risco fiscal
Além da desoneração, o governo norte-americano elevou os investimentos em defesa. “Foram anunciados novos projetos de caças, como o F-47 e o F-55, além da atualização do F-22. Tudo isso aumenta ainda mais o déficit, num momento em que o mercado esperava contenção”, destacou Viotto.
Os cortes, por sua vez, foram limitados. “Houve pequenos ajustes no Medicare, mas nada que compensasse os novos gastos. A estimativa é que o déficit aumente de 3 a 5 trilhões de dólares nos próximos dez anos”, completou.
Para o chefe da mesa de câmbio da EQI Investimentos, o mercado ainda está assimilando o impacto do rebaixamento. “Nos episódios de rebaixamento por outras agências, geralmente os investidores saíram de ativos americanos em um primeiro momento, mas voltaram logo em seguida porque os preços ficaram atraentes”, afirmou Viotto em entrevista concedida ao portal Terra e também à Suno Notícias.
Câmbio global reage com valorização do dólar, apesar do rebaixamento
O aumento dos rendimentos dos títulos do Tesouro americano — as chamadas treasuries — levou os investidores a buscarem novamente esses ativos de segurança, gerando uma valorização do dólar. Isso ocorreu mesmo com a piora nas contas públicas dos Estados Unidos.
“É um movimento curioso, porque o esperado seria uma desvalorização do dólar diante do rebaixamento. Mas como os investidores correram para as treasuries, aumentaram a demanda por dólar, o que puxou a moeda para cima”, explicou Viotto. “No curto prazo, o dólar sobe. Mas a tendência de médio e longo prazo é de desvalorização, justamente pela piora fiscal.”
Viotto ainda destaca que o comportamento do mercado americano foge do padrão observado em outros países. “Mesmo com riscos fiscais elevados, o dólar e os títulos americanos seguem como os ativos mais seguros do mundo”, pontuou.
No Brasil, MP do setor elétrico tem efeito fiscal limitado
No cenário doméstico, o principal destaque da semana que impactou a moeda foi a publicação de uma Medida Provisória que amplia a quantidade de famílias beneficiadas pela tarifa social de energia elétrica — programa que concede descontos para consumidores de baixa renda.
Apesar do caráter eleitoral da medida, o impacto fiscal foi mais contido do que o previsto. “O governo compensou parte da renúncia ao reduzir subsídios para fontes de energia limpa, o que acabou equilibrando as contas”, explicou Viotto.
Segundo o especialista, o mercado interpretou a medida de forma positiva. “No saldo final, não houve deterioração relevante nas contas públicas, o que ajudou a manter o real estável”, finalizou.