Diante do cenário de nova política tarifária criada por Donald Trump, em sua segunda passagem pela presidência dos Estados Unidos, os investidores ficam apreensivos sobre o dólar, principalmente os que possuem uma carteira mais dolarizada. Atualmente, o real subiu 1% frente o dólar, ao passo que em dezembro, a moeda norte-americana chegou a R$ 6,30, e isso tem causado bastante preocupação.
Marink Martins, especialista em investimentos internacionais da EQI+, fez uma análise sobre quais as perspectivas que há pela frente. Ele disse que em qualquer mesa de sempre vai haver uma certa divergência no que diz respeito à direção da moeda norte-americana. “Até mesmo porque tem aquela famosa frase de que o câmbio foi feito para humilhar os economistas. Isto é, numa janela curta de tempo, na verdade, ninguém sabe para onde o dólar vai”, disse ele.
Martins disse ainda que o dólar é uma variável importante, mas sujeita a muita complexidade. De acordo com ele, o gráfico que mostra o real effective exchange rate do dólar, possui um dado técnico que se chama REER. Ele é uma medida do dólar contra uma cesta de moedas, e medida essa que leva em consideração o diferencial de inflação do dólar americano, da inflação americana para a de outros países, mas também leva em consideração o comércio bilateral dos Estados Unidos com os países que têm as suas moedas nessa cesta.
“Então, o que esse gráfico mostra agora é que o dólar, nesse patamar atual, ele está praticamente tão caro quanto esteve entre 1984 e 1985. Foi um período marcado pelo Acordo de Plaza e um evento importantíssimo na história econômica, um momento em que o dólar estava caríssimo”, completou ele.
Momento desfavorável para muita alocação em dólar
Então, o momento não é muito favorável ao dólar. Martins completa dizendo que, após o acordo de Plaza e o dólar foi reprecificado, e acabou por se desvalorizar, abrindo espaço para um bull market em vários lugares do mundo, em particular no Japão e em Hong Kong, e até mesmo no Brasil, em 1986. “Falo tudo isso, pois o dólar hoje está no mesmo patamar em termos de Real Effective Exchange Rate. O dólar está caro”, disse.
Dito indo, ele completa dizendo que é sempre bom ter uma diversificação, podendo manter compromissos. Mas de uma forma geral, o que o gráfico do momento sugere é que este não é o tempo atual para estar super alocado em dólar.
O que foi o Acordo de Plaza?
Assinado em 22 de setembro de 1985, o Acordo de Plaza foi um pacto entre as cinco maiores economias avançadas da época — Estados Unidos, Japão, Alemanha Ocidental, França e Reino Unido — com o objetivo de corrigir os desequilíbrios cambiais globais e conter o fortalecimento excessivo do dólar norte-americano. O acordo foi fechado no luxuoso hotel Plaza, em Nova York, de onde herdou o nome.
Nos anos anteriores ao acordo, o dólar havia se valorizado fortemente frente a outras moedas, impulsionado por altas taxas de juros adotadas pelos EUA para conter a inflação. Essa valorização, embora favorável ao controle inflacionário interno, prejudicava a competitividade das exportações americanas e agravava o déficit comercial do país.
Para reverter esse cenário, os cinco países signatários do Acordo de Plaza comprometeram-se a coordenar políticas econômicas e intervir nos mercados cambiais para promover a desvalorização do dólar. Na prática, os bancos centrais passaram a vender a moeda americana e comprar suas próprias moedas nacionais.
Os efeitos foram rápidos: o dólar caiu cerca de 40% frente ao iene e ao marco alemão entre 1985 e 1987. A medida ajudou a reduzir o déficit comercial dos EUA, mas teve consequências distintas entre os parceiros. O Japão, por exemplo, viu sua moeda se valorizar significativamente, o que contribuiu para uma bolha de ativos que explodiria no início da década de 1990.
O Acordo de Plaza é considerado um marco na história da cooperação econômica internacional. Foi sucedido em 1987 pelo Acordo do Louvre, que buscava estabilizar as taxas de câmbio após a forte correção provocada pelo pacto anterior.