O Carrefour Brasil (CRFB3) já começa a sentir os efeitos da crise da sua matriz francesa com o agronegócio brasileiro. A rede de supermercados já enfrenta uma crise no abastecimento de carnes em suas lojas após a suspensão em massa por parte de fornecedores ligados ao setor de agropecuária.
A decisão de bloquear o fornecimento de carnes à rede varejista ocorre em retaliação à medida anunciada pela matriz francesa do Carrefour, que decidiu suspender compras de carnes provenientes do Mercosul, incluindo do Brasil, para suas lojas na França.
A suspensão das entregas já afeta cerca de 150 lojas do Carrefour no Brasil, segundo levantamento dos jornais Folha de S.Paulo e O Estado de S.Paulo.
O mercado estima que o desabastecimento total em alguns pontos de venda pode ocorrer em até três dias, dado que as mercadorias envolvem produtos resfriados ou congelados.
O próprio Carrefour Brasil já confirmou a interrupção no fornecimento por parte de grandes indústrias, mas garantiu que não há desabastecimento em suas gôndolas.
A empresa lamenta a situação e reforçou o compromisso com o agronegócio brasileiro. Segundo a companhia, o boicote impacta diretamente os consumidores, e por isso está em diálogo com os fornecedores para retomar o abastecimento.
Na sexta-feira (22), a Masterboi anunciou oficialmente que suspendeu o fornecimento de carnes à rede, e fontes indicam que a JBS (JBSS3) também bloqueou vendas ao Carrefour no dia anterior.
A Minerva Foods (BEEF3), outro grande nome do setor, segue a mesma linha, enquanto BRF (BRFS3) e Marfrig (MRFG3), gigantes do ramo de aves e suínos, ainda não comentaram sobre sua postura.
Relatos apontam que entre 30% e 40% das gôndolas das lojas do grupo já apresentam falta de carne, e cerca de 50 caminhões carregados com mercadorias destinados às redes Carrefour, Atacadão e Sam’s Club tiveram suas entregas suspensas até sábado (23).
Na manhã desta segunda-feira (25), as ações do Carrefour é uma das maiores queda dos Ibovespa. Por volta das 11h15, os papéis recuam 2,11%, cotados a R$ 6,50.
EQI Research avalia impactos negativos da cirse do Carrefour Brasil
A EQI Research avaliou como negativas as notícias envolvendo o Carrefour Brasil em meio à crise de desabastecimento de carne bovina causada por questões políticas e comerciais.
Segundo a casa de análises, o impacto nas ações do varejista ainda é incerto, mas a situação pode trazer consequências relevantes para suas operações.
“É difícil mensurar os reais impactos sobre as operações, pois não sabemos exatamente quantos dias de estoque o varejista possui para rodar normalmente diante do desabastecimento, tampouco se será capaz de encontrar novos fornecedores“, apontou a EQI Research.
A participação das carnes bovinas no total das vendas da rede no país é estimada em 4% a 5%, o que, segundo a análise, já seria um percentual relevante. Contudo, a EQI Research destacou que o problema pode se estender além disso.
“Achamos que o impacto pode ser muito mais abrangente por afetar o fluxo de consumidores nas lojas da rede. Vemos a possibilidade de clientes buscarem outras redes que lhes ofereçam cestas de produtos sem restrições. Lembrando também que o final do ano é um período extremamente importante para as vendas dos supermercados”, ressaltou.
Ainda de acordo com a EQI, o Brasil responde por cerca de 40% do lucro operacional do grupo global do Carrefour, o que amplia o peso da situação. “Portanto, vemos a retaliação brasileira com bastante força para pressionar a decisão da matriz global“, concluiu a análise.
A raiz da crise
O impasse começou quando o Carrefour França, pressionado por sindicatos de agricultores franceses, anunciou que deixará de comprar carne bovina, suína e de aves do Mercosul. A decisão, divulgada na quarta-feira (20) pelo CEO global Alexandre Bompard, foi justificada como uma ação em prol da proteção dos agricultores locais e alinhada a preocupações ambientais.
No comunicado oficial, Bompard afirmou que a medida é uma resposta ao “desespero e raiva” dos agricultores franceses em relação ao projeto de acordo de livre-comércio entre o Mercosul e a União Europeia. Ele destacou que o pacto pode inundar o mercado francês com produtos de carne que não atendem aos padrões locais.
Após o Carrefour, o Grupo Les Mousquetaires, dono da rede de supermercados Intermarché, seguiu na mesma direção e anunciou um boicote às carnes sul-americanas.
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Repercussão no Brasil
A decisão gerou forte reação no Brasil, tanto no setor agropecuário quanto entre líderes políticos, que pediram um boicote às lojas do Carrefour no país.
Na quinta-feira (21), o ministro da Agricultura reforçou o descontentamento, declarando à GloboNews que “se a carne brasileira não serve para os consumidores franceses, também não serve para os consumidores do Carrefour no Brasil”.
A suspensão do fornecimento por parte de um grupo de 44 associações do agronegócio brasileiro busca pressionar o Carrefour por uma retratação. Inicialmente, o bloqueio tem sido liderado por produtores de carne bovina, mas o impacto já se estende a outras categorias, como aves e suínos, que estão revisando suas relações com a varejista.
O presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira, se pronunciou sobre a crise hoje de manhã. O parlamentar comentou que caberá ao Congresso Nacional, possivelmente ainda nesta semana, a análise de um projeto que trata de “reciprocidade econômica” entre os países, exigindo isonomia nas relações comerciais.
“Nos incomoda muito o protecionismo europeu, principalmente da França com o Brasil. E deverá ter nesta semana, por parte do Congresso Nacional, em sua pauta, a lei da reciprocidade econômica entre os países”, declarou Lira.
O deputado alagoano ainda relatou que não é possível que o CEO de uma empresa tão grande como o Carrefour não se retrate de uma declaração sobre não importar as proteínas animais vindas da América do Sul.
Ainda na manhã desta segunda, Fávaro deu outra entrevista à GloboNews. O ministro da agricultura afirmou que a ação do Carrefour é um “protecionismo desproporcional”.
“O Brasil tem uma agricultura de larga escala, de volume, segurança de fornecimento. A reação é desproporcional. Tanto que todos os outros países da comunidade europeia já compreenderam a situação e são favoráveis ao acordo”, disse o ministro.
“Se, para o povo francês, o Carrefour não serve comprar carne brasileira, que o Carrefour também não compre carne brasileira para colocar nas suas gôndolas aqui no Brasil. É uma questão de soberania nacional”, concluiu.
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