A A5X, nova bolsa brasileira especializada em derivativos e contratos futuros, anunciou a captação de R$ 200 milhões em uma rodada de investimento Série C. Desde sua fundação, em 2023, a companhia já levantou R$ 385 milhões. O aporte, segundo comunicado enviado a jornalistas, foi integralmente realizado pelos atuais acionistas.
De acordo com a empresa, os recursos têm dois objetivos centrais: cumprir os requisitos de capital regulatório e financiar a operação até o breakeven, ponto em que as receitas passam a cobrir os custos. A A5X prevê iniciar suas atividades em 2026, utilizando infraestrutura tecnológica licenciada da LSEG (London Stock Exchange Group), uma das principais fornecedoras globais de sistemas para mercados financeiros.
A base acionária da A5X reúne nomes relevantes do mercado local e internacional, como ABN AMRO Clearing, Ideal CTVM, IMC, Jump Trading Group, Optiver e XTX Markets. Em março, o CEO e fundador da companhia, Carlos Ferreira, esteve com o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, apresentando o projeto e discutindo avanços regulatórios necessários para ampliar a competição no setor de infraestrutura de mercado.
Como a A5X se posiciona
Segundo sua página institucional, a A5X nasce com a intenção de “transformar o setor de bolsa brasileiro” e melhorar a experiência dos investidores por meio de tecnologia, governança e simplicidade operacional. A empresa se apoia em cinco pilares estratégicos:
- Eficiência
- Solidez
- Inovação
- Transparência
- Compromisso
A proposta envolve oferecer uma plataforma de alta performance, com baixa latência, governança robusta e regras claras — aspectos que, segundo a companhia, podem estimular um ambiente mais competitivo e moderno para negociação de derivativos.
A abertura do mercado: CSD BR e Base Exchange avançam em paralelo
A movimentação da A5X ocorre em um cenário raro no mercado brasileiro: pela primeira vez em décadas, três projetos simultâneos avançam com o objetivo de competir com a B3 ($B3SA3) em diferentes frentes — A5X, CSD BR e Base Exchange.
Embora cada iniciativa tenha estrutura e escopo distintos, todas apontam para um mesmo fenômeno: a possibilidade de descentralização do mercado de negociação e pós-negociação no país.
A seguir, o panorama detalhado das outras duas frentes.
CSD BR alcança R$ 4 trilhões em operações e mira se tornar bolsa em até três anos
A CSD BR já atua no mercado financeiro como uma companhia de infraestrutura regulada por Banco Central, CVM e Susep, prestando serviços de registro, depósito e liquidação de ativos.
Segundo o Broadcast, a empresa atingiu R$ 4 trilhões em estoque de operações, volume que, segundo o CEO Edivar Queiroz, cria “bases sólidas” para avançar rumo ao credenciamento como bolsa de valores.
A expectativa é que a CSD BR possa se tornar uma nova bolsa brasileira em até três anos, desde que avance nos processos regulatórios necessários.
Entre seus acionistas estratégicos estão:
- BTG Pactual,
- Santander,
- CBOE (Chicago Board Options Exchange) — uma das maiores bolsas de opções do mundo.
Documentos corporativos consultados descrevem que a companhia trabalha no fortalecimento da infraestrutura tecnológica e nos critérios de segurança e governança de dados para atender às exigências de uma operação de bolsa.
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Base Exchange, conhecida como a “bolsa do Rio”, entra na fase final do processo regulatório
A Base Exchange, iniciativa da Flowa — empresa originalmente fundada no Rio de Janeiro e sucessora da Americas Trading Group (ATG) — é conhecida no mercado como “a bolsa do Rio”. O projeto está em fase avançada de avaliação por CVM e Banco Central, que conduzem análises paralelas de autorização.
Em comunicados enviados à imprensa, a CVM deve iniciar — ou já iniciou — a etapa de testes sistêmicos, que envolve:
- simulações operacionais,
- entrevistas com gestores,
- validação do motor de negociação,
- avaliação dos sistemas de governança e de riscos.
O Banco Central, por sua vez, analisa a documentação técnica da operação, e os testes das duas autarquias devem ocorrer de forma simultânea.
A Base Exchange possui mais de 150 funcionários, sendo cerca de dois terços alocados exclusivamente no desenvolvimento da plataforma. Sua controladora já responde por aproximadamente 10% do ADTV (volume médio diário negociado) da B3, demonstrando experiência prática na integração com corretoras e no processamento de ordens de alta frequência.
O projeto tem apoio financeiro do Mubadala, fundo soberano de Abu Dhabi, o que, segundo documentos internos, garante fôlego para sustentar os custos recorrentes durante o processo regulatório.
A Base Exchange vem estruturando um modelo de mutualização, que prevê a entrada de seis a oito participantes estratégicos — entre eles bancos, HFTs e fundos institucionais — para assegurar liquidez desde o lançamento. Parte desse modelo já foi testado com um banco brasileiro e uma gestora em simulações completas de integração.
Para facilitar o acesso das corretoras, a Base desenvolve conectores para os três principais sistemas de pós-negociação utilizados no Brasil:
- Sinacor
- Dimensa
- Inoa
Isso permitiria que corretoras mantenham seus sistemas legados, reduzindo custos de migração e aumentando a autonomia no processo de execução de ordens, hoje centrado na infraestrutura da B3.
A tecnologia da Base Exchange é projetada para permitir ciclos de liquidação mais curtos, como D+1 e até D+0, o que pode reduzir risco sistêmico e exigência de garantias.
O modelo de precificação ainda não foi divulgado publicamente, mas é descrito como simples e inspirado no mercado australiano, reconhecido por incentivar maior diversidade de agentes e distribuição mais horizontal de incentivos entre participantes.






