Devido às eleições e às incertezas quanto à retomada do crescimento econômico, há grandes expectativas para 2022 por parte dos investidores e do mercado de forma geral.
Sobre o tema, a Money Week conversou com Mansueto Almeida, economista-chefe do BTG Pactual, e Ettore Marchetti, CEO da EQI Asset. A seguir, confira alguns dos principais pontos desse bate papo.
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Juros em alta: o que é e para que serve o teto de gastos?
Segundo Mansueto, o teto de gastos é fruto do trabalho de muita gente. Nesse sentido, desde a Constituição de 1988, sempre que se falava de ajuste fiscal no Brasil, o que acontecia era aumento de carga tributária.
Dessa forma, em todos os ajustes fiscais que o país fez depois 1988, nunca se cortou despesa. Em vez disso, a carga tributária era aumentada. Vale lembrar que, de 1970 até 1994, a carga tributária do Brasil era de, aproximadamente, 25% do PIB. No entanto, essa carga tributária passou a 33% do PIB, e o país continuou com um buraco fiscal.
Por isso, a ideia em 2016 foi tentar, pela primeira vez, um ajuste fiscal que contemplasse não mais um aumento de impostos, mas sim o corte de despesas. Esse corte ocorreria de forma gradual. Ou seja, estabeleceu-se que, nos próximos 10 anos, a despesa do governo federal só poderia crescer de acordo com a inflação.
Mudança radical nas contas públicas
Para Mansueto, essa foi uma mudança radical nas contas públicas. Isso porque, de 1997 até 2015, a despesa não financeira do governo federal (gastos com educação, saúde, segurança, entre outros) crescia a uma taxa real de 6% ao ano. Como o Brasil não crescia a 6% ao ano, a participação do governo na economia aumentava a cada ano.
“A ideia do teto era obrigar o governo a fazer escolhas. Uma vez que ninguém queria aumentar mais a carga tributária, era preciso agir no sentido de fazer o Brasil ter crescimento real com gasto público zero. Essa é a lógica do teto de gastos.”
Para o economista, o processo está funcionando. Isso porque, mesmo com os gastos extras provocados pela pandemia, o governo atual terminará a gestão com gasto não financeiro menor do que o do governo anterior. Essa será a primeira vez que isso acontecerá em um ciclo de quatro anos de governo.
Expectativas do investidor
No entanto, Mansueto faz um alerta: “Desde 2014, o Brasil está com as contas no vermelho. Para conseguirmos enxergar a dívida pública em uma trajetória de queda, precisamos ter superávit primário (receita menos despesa) na casa de 1,5% a 2% do PIB”.
Nesse sentido, ainda estamos longe do equilíbrio das contas. De acordo com o economista, encerraremos 2021 com déficit de cerca de 1% do PIB.
“O que importa para o investidor é que ele consiga enxergar que, no médio prazo (de três a quatro anos), o Brasil deve ter um superávit primário que coloque a dívida em uma trajetória de queda. Por isso, a importância da continuidade do ajuste fiscal para os próximos governos”, conclui.
Preocupação com a inflação
Para Ettore, uma das maiores preocupações dos investidores é com o atual nível inflacionário, algo que não ocorria há muitos anos. Nesse sentido, a alta dos preços não impacta somente a economia doméstica, mas também as cadeias de produção de forma global.
“Ao ver os juros subindo e já próximos a dois dígitos, o investidor sempre nos pergunta se a combinação entre juros altos e baixo crescimento não poderia atrapalhar o crescimento do país”, comenta o CEO.
Sobre isso, Mansueto concorda que juros mais altos afetam o crescimento. Para ele, apesar de não ser o ideal, é dessa forma que age a política monetária restritiva. Ou seja, os juros são aumentados justamente para trazerem a inflação para a meta.
Como o mercado interpreta os juros em alta
Para o economista, o mais preocupante não é a alta dos juros, mas sim o fato de o mercado interpretar que eles não cairão no futuro. Nesse sentido, afirma: “O que ocasiona crescimento no longo prazo não é a taxa de juros, e sim o crescimento da produtividade. Ou seja, a política monetária é importante para trazer a inflação para a meta. Quando se aumenta a taxa de juros, é natural que o crescimento seja menor. Porém, é muito melhor fazer isso antecipadamente do que postergar. Se o Banco Central posterga a alta dos juros mesmo com a inflação subindo, podemos ficar em uma situação muito pior. Isso porque, quanto mais demorar, mais alto deverá ser o ajuste nos juros, o que pode ocasionar recessão”.
Em outras palavras, o aumento de juros é necessário para conter a inflação, e dará ao Brasil um 2022 com menor crescimento. Porém, é importante que esse aumento fique circunscrito a 2022. Para o economista, o governo precisa mostrar que 2022 será um ano de juros altos por causa da política monetária. Nesse sentido, é preciso fazer com que o mercado entenda que, uma vez feito o ajuste fiscal, o crescimento da economia já retoma em 2023.