O Ibovespa antes das eleições de 2026 vive um momento sem precedentes. Na última terça-feira (11), o principal índice da bolsa brasileira renovou seu recorde histórico, alcançando a marca de 157 mil pontos.
Com uma valorização acumulada de mais de 20% em 2025 e 15 pregões consecutivos de alta, o mercado brasileiro chama a atenção de investidores nacionais e estrangeiros. Mas o que explica esse desempenho excepcional em meio a um cenário político e econômico desafiador?
Matheus Szabileski e Helder Barbosa, assessores de investimentos da EQI, participaram de uma live exclusiva para decifrar esse momento único do mercado. Durante a transmissão do programa Conversa de Investidor, os especialistas apresentaram análises detalhadas sobre o comportamento da bolsa e as perspectivas para os próximos anos, com foco especial no período pré-eleitoral.
O paradoxo da bolsa brasileira: máximas históricas em meio às incertezas
Um dos principais questionamentos levantados durante a live foi: como o Ibovespa antes das eleições consegue romper máximas históricas enquanto o cenário econômico e político brasileiro apresenta desafios significativos? A resposta está no fluxo de capital estrangeiro e na atratividade dos múltiplos da bolsa brasileira.
Helder Barbosa, especialista em renda variável com quase três anos e meio na EQI Investimentos, explicou que o mercado brasileiro registra um saldo positivo de R$ 24 bilhões em entrada de capital estrangeiro em 2025.
“O investidor estrangeiro tem uma visão um pouco mais simplista do aspecto político e econômico. Quando o S&P começa a saturar a nível de preço sobre lucro, eles começam a migrar esse capital para mercados emergentes”, afirmou o especialista.
A leveza da bolsa brasileira também contribui para sua volatilidade positiva. Matheus comparou o mercado a “uma bolinha pequena que, sem muita força, se mexe bastante”.
Helder complementou revelando um dado impressionante: “Tem dias de negociação do S&P 500 que eles negociam em volume financeiro a nossa bolsa inteira em um único dia”. Com menos capital investido no Brasil, o fluxo estrangeiro consegue movimentar significativamente os preços dos ativos.
Indicadores fundamentalistas apontam espaço para valorização
Apesar das máximas históricas, os indicadores fundamentalistas revelam que ainda há espaço para crescimento. O preço sobre lucro (P/L) do Ibovespa, excluindo Petrobras (PETR3; PETR4) e Vale (VALE3), está em 9,6 – o mesmo patamar da mínima registrada durante a pandemia. A média histórica desde 2005 é de 11,9, indicando que os ativos brasileiros ainda estão descontados.
“Por esse indicador, ainda temos um espaço interessante para estar valorizando a bolsa”, destacou Helder. As projeções da equipe de analistas da EQI são otimistas: considerando apenas o retorno do P/L para 10 (abaixo da média histórica), o potencial de valorização seria de 7,12% ainda em 2025, 18,19% em 2026 e 34,96% em 2027.
O especialista também apresentou um cenário mais conservador, com projeções 10% abaixo do previsto, mas que ainda assim demonstra retornos interessantes para o período de três anos. A Taxa Selic em seu maior nível em duas décadas (15% ao ano) representa um desafio, mas a expectativa de início do ciclo de cortes entre janeiro e fevereiro de 2026 funciona como um importante catalisador para a continuidade da alta.
Oportunidades setoriais e a questão dos dividendos
Uma das mensagens mais importantes da live foi destacada por Helder: “A bolsa está no topo histórico, mas temos várias ações que não estão, ou seja, ainda dá para aproveitar muitas oportunidades”. Essa observação é fundamental para investidores que temem estar entrando no mercado em um momento de topo.
A valorização expressiva do Ibovespa foi impulsionada principalmente por ações de grande peso no índice, como Vale, que subiu significativamente no período. No entanto, diversas empresas de outros setores ainda não acompanharam esse movimento, apresentando oportunidades de entrada com desconto mesmo diante do índice em máxima histórica.
No mercado de dividendos, a possível ameaça de tributação está gerando um movimento interessante. Helder explicou que, historicamente, quando surge esse risco, “as empresas tendem a pagar mais dividendo para queimar caixa, para evitar tributações desnecessárias”.
A EQI selecionou dez empresas com maior probabilidade de pagar grandes dividendos no próximo ano, incluindo Cesp (AURE3), Copel (CPLE6) e Isa (ISAE4) – companhias que já possuem histórico consistente de distribuição de proventos.
Fundos imobiliários e o ciclo de juros
O mercado de fundos imobiliários (FIIs) acumula alta de 15% em 2025, representando uma importante recuperação após o ano negativo de 2024. Helder chamou atenção para uma oportunidade específica: o setor de lajes corporativas está muito defasado em relação à média do IFIX, com desvalorização de 2,3% em outubro, enquanto o índice geral subiu 0,12%.
Com a expectativa de início do ciclo de cortes de juros em fevereiro de 2026, os fundos de tijolo, especialmente lajes corporativas, começam a fazer mais sentido para os investidores.
“Você deixa de estar aplicando num fundo imobiliário associado a renda fixa e passa a estar aplicando em um fundo imobiliário de economia real, de fato imóveis de tijolo”, explicou o especialista.
Brasil lidera valorização entre mercados emergentes
O desempenho do Ibovespa antes das eleições ganha ainda mais relevância quando comparado globalmente. Em termos dolarizados, o índice brasileiro (representado pelo ETF EWZ) acumula valorização de 51% no ano, superando a média dos mercados emergentes de 34%.
Esse movimento não é isolado: bolsas de outros países emergentes, como Coreia do Sul (87%) e África do Sul (60%), também apresentam forte valorização.
“Claramente o capital está migrando para esse tipo de mercado. Então não é nenhuma particularidade política regional aqui do Brasil – é realmente um fluxo muito mais abrangente”, analisou Helder.
Esse contexto reforça que, apesar das preocupações com as eleições de 2026 e os desafios fiscais domésticos, o Brasil está inserido em um movimento global de realocação de capital para mercados emergentes.
Como se posicionar estrategicamente?
Para investidores que questionam se ainda é momento de entrar em renda variável, Helder foi direto: “Não esperaria ter um corte de juros no início do ano que vem porque você sofre o risco de deixar de participar de uma bela alta”.
A recomendação é iniciar a alocação de forma gradual, começando com 5% para perfis mais conservadores.
O especialista destacou a importância do comportamento dos investidores. “Se o mercado financeiro fosse estritamente racional, seria mais fácil fazer dinheiro. Vemos as emoções ocorrerem também no mercado”, afirmou. Por isso, ter um assessor de investimentos pode fazer diferença de 3% a 5% ao ano na rentabilidade, principalmente por ajudar a manter a racionalidade em momentos de volatilidade.
Para investidores mais sofisticados, a EQI recomenda uma alocação de até 30% em renda variável, considerando o cenário macroeconômico atual. Mesmo com a possibilidade de correções de curto prazo após 14 dias consecutivos de alta, a tendência de médio e longo prazo permanece positiva, sustentada pelo ciclo de cortes de juros esperado para 2026 e pelos múltiplos ainda atrativos das empresas brasileiras.
Confira a live completa da Conversa de Investidor:
Leia também:





