Há 4 anos, o circuit breaker era acionado repetidas vezes na bolsa de valores brasileira por conta da pandemia de Covid. Vamos relembrar esta história? Acompanhe.
Em 2020, os mercados de ações de todo o mundo sofreram perdas históricas, sobretudo nos três primeiros meses do ano.
Em meio a uma venda maciça de papéis, o derretimento dos mercados financeiros foi provocado pela pandemia de coronavírus. Além de uma tragédia sanitária, ela foi também uma tragédia econômica global.
Nenhum mercado de ações, de nenhum país, ficou indiferente aos impactos. E isso não poderia ser diferente no Brasil.
Ibovespa e circuit breaker
No dia em que o Brasil registrou o primeiro caso oficial de contaminação, em 26 de fevereiro de 2020, a reação geral foi de pânico. E o Ibovespa fechou o dia despencando 7%.
Essa foi a primeira grande queda de uma sequência inédita na história da B3.
Em apenas oito pregões, em março de 2020, o circuit breaker, também conhecido como “botão do pânico”, foi acionado seis vezes.
1º circuit breaker: Na segunda, dia 9 de março, a queda foi reflexo do recuo dos preços do petróleo. Os contratos futuros negociados em Londres e Nova York caíram 30%. No dia, o Ibovespa acionou o circuit breaker pela primeira vez no ano. E recuou 12% em um único dia.
2º circuit breaker: Na quarta, dia 11, logo após a Organização Mundial de Saúde (OMS) reclassificar a crise sanitária como pandemia, houve o segundo circuit breaker da semana. Às 15h15, o Ibovespa caiu mais de 10%.
Circuit breaker: dois no mesmo dia
3º e 4º circuit breaker: No dia seguinte, o mercado continuou em clima de pânico. E tivemos um circuit breaker logo na abertura do pregão. Com Ibovespa derretendo mais de 10%.
Logo após a retomada das negociações, o mercado não segurou a forte pressão nas vendas. E o botão do pânico foi acionado pela segunda vez. O Ibovespa tinha queda livre de 15%. Nesse segundo momento, os negócios foram parados por uma hora.
5º circuit breaker: No dia 16 de março, logo na abertura, o Ibovespa desabou 12,52%. E o circuit breaker foi acionado por 30 minutos.
6º circuit breaker: Por fim, em 18 de março por volta das 13h, o Ibovespa cai novamente mais de 10%.
Ao final de março de 2020, o Ibovespa registrou uma retração de 30%, a maior queda mensal dos últimos 22 anos.
Em sentido contrário, o dólar comercial fechou o mês de março em alta de 15,96%, indo aos R$ 5,1960.
Circuit breaker: mercados globais
A primeira grande queda significativa foi em 9 de março. Nesse dia, antes da abertura, o mercado futuro do índice Dow Jones experimentou uma queda de 1.300 pontos, levando a bolsa a suspender as negociações por 15 minutos.
No mesmo dia, o S&P 500 caiu 7,6% e os preços do petróleo recuaram 22%.
O ASX 200, da Austrália, perdeu 7,3%, maior queda diária desde 2008 e o FTSE 100, de Londres, despencou 7,7%, sofrendo sua pior queda desde a crise financeira de 2008.
Além disso, em vários mercados asiáticos, como Japão, Cingapura, Filipinas e Indonésia, as ações caíram mais de 20%.
Três dias depois, na quinta-feira, a data foi marcada por uma queda global das bolsas.
Maior queda desde 1987
Para se ter uma ideia, os mercados acionários dos EUA sofreram com a maior queda percentual desde a queda da bolsa de valores de 1987.
Os mercados acionários da Ásia-Pacífico também fecharam em baixa, caindo para mais de 20%.
Do mesmo modo, os mercados acionários europeus fecharam em baixa de 11% enquanto o Dow Jones fechou em baixa de 10%.
O Nasdaq Composite caiu 9,4% , e o S&P 500 caiu 9,5%, às quedas ativaram o o botão de circuit breaker pela segunda vez naquela semana.
Para lidar com o pânico, bancos e reservas em todo o mundo cortaram suas taxas de juros, taxas bancárias e taxas de fluxo de caixa, além de oferecer apoio sem precedentes a investidores e mercados.
O que é circuit breaker
O circuit breaker é um mecanismo utilizado pela bolsa de valores para interromper as negociações quando a queda do principal índice ultrapassa 10%. No caso do Brasil, o índice é o Ibovespa.
Ele foi criado em 1997 e desde então essa ferramenta já foi acionada 22 vezes. Ocasiões que sempre coincidem com períodos de crise, tanto aqui como lá fora.
Durante a interrupção dos negócios, nenhum ativo pode ser transacionado, incluindo derivativos e títulos de renda fixa.
- Além de circuit breaker, aprenda a investir com os materiais gratuitos da EQI Investimentos.
Circuit breaker: as três etapas
Desse modo, de acordo com o Manual de Procedimentos da B3, o circuit breaker poderia ser acionado somente em três situações:
- etapa 1 : se o Ibovespa subir ou cair mais de 10% em relação ao fechamento do dia anterior, a negociação é interrompida por 30 minutos;
- etapa 2 : depois disso, se ele seguir derretendo e acumular queda de 15%, a negociação é interrompida por 1 hora;
- etapa 3 : caso a oscilação negativa chegue aos 20%. Os negócios são suspensos e só voltam quando em um período a ser definido pela Bolsa.
- Além de circuit breaker: aprenda a investir na bolsa de valores. Baixe a planilha fundamentalista de ações.
- Além de circuit breaker: conheça o seu perfil investidor.
Mais sobre circuit breaker: pregões históricos da Bolsa
Antes do circuit breaker: lições do crash de 1929
No ano 1929, a economia norte-americana encontrava-se em um momento de plena prosperidade, uma vez que os Estados Unidos tinham se tornado um dos principais credores na reconstrução dos países europeus destruídos durante a Primeira Guerra Mundial.
A indústria vivia um período de forte expansão com 206,7 mil indústrias. No comércio, o faturamento também havia disparado atingindo 1,25 bilhão de dólares naquele ano.
No mercado de ações, os preços dos papéis subiam em linha com as perspectivas econômicas otimistas para o país. O que contribuía para atrair uma onda cada vez maior de investidores e especuladores.
As causas do pânico na bolsa de Nova York
A principal causa do crash de 1929 foi a especulação de ativos, em um período de grande expansão que os Estados Unidos viviam após a Primeira Guerra Mundial.
Ao assumir uma posição hegemônica no mundo, o país vivia uma fase de forte aumento na produção industrial, melhoria do poder aquisitivo da população e liberalização do crédito que culminaram em uma explosão de consumo.
Nesse contexto, investidores, atraídos pela expansão das empresas, tomaram empréstimos para comprar ações e revendê-las com lucro.
Esse processo fez com que, entre 1925 a 1929, o valor das ações das empresas subissem de US$ 27 bilhões para US$ 87 bilhões.
No entanto, a situação passou a ficar nebulosa. A superprodução em muitas indústrias causou um excesso de oferta de aço, ferro e bens duráveis, provocando enormes excedentes.
Quando ficou claro que a demanda era baixa e não havia compradores suficientes para suas mercadorias, as indústrias começaram a reduzir a produção e o preço dos produtos, assumindo grandes prejuízos. Como reflexo imediato, o preço das ações começou a cair vertiginosamente.
Acionistas em pânico com o novo ambiente procuraram se desfazer dos papéis a todo o custo e o índice Dow Jones iniciou, então, seu mergulho rumo a uma queda vertiginosa.
Consequências do pânico na bolsa de Nova York
No total, a Bolsa de Nova York registrou perdas de aproximadamente R$ 30 bilhões, número dez vezes maior que o orçamento do governo do país na época.
O mercado só foi capaz de recuperar os patamares anteriores ao crash de 1929 25 anos depois, no final de 1954.
Antes do circuit breaker: Naji Nahas, o homem que quebrou a bolsa de valores do Rio
Naji Nahas é um dos personagens mais famosos do mercado de capitais brasileiro.
O empresário e especulador ficou conhecido por ter sido “o homem que quebrou a Bolsa de Valores do Rio de Janeiro” no ano de 1989.
Contexto da época
No final da década de 1980, o contexto econômico era de forte volatilidade. Os Planos Cruzado, Bresser e Verão não foram bem sucedidos no controle da inflação. A taxa de juros era alta, o câmbio, desvalorizado, e a economia brasileira ainda estava fechada para o resto do mundo.
Diante desse cenário, o frágil mercado de capitais brasileiro sofria muitas oscilações, dado o alto nível de incerteza sobre a economia e às políticas governamentais da época.
Em meio a essas circunstâncias, as principais bolsas de valores da época, paulista e carioca, disputavam um certo clima de rivalidade.
Para atrair mais investidores, o conselho de administração da Bolsa de Valores do Rio de Janeiro (BVRJ) aprovou, em 2 de julho de 1988, uma nova forma de financiamento para os que negociavam no mercado de ações: as operações D-Zero.
Desse modo, a liquidação poderia ocorrer instantaneamente após o fechamento de cada contrato, por meio de financiamentos bancários. E não mais depois de cinco dias úteis, como era feito até então.
Com as novas regras implementadas, o volume de negócios na BVRJ aumentou progressivamente, atraindo muitos especuladores.
Esse movimento ficou ainda mais forte após a então Bovespa, de São Paulo, implementar medidas restritivas com o objetivo de reduzir a especulação nos contratos de opções.
Entre os especuladores que migraram para a Bolsa do Rio em busca de maiores retornos estava Naji Nahas.
Como Naji Nahas operava
Além de atuar em operações de D-Zero, Nahas realizava ainda uma operação conhecida como Zé-com-Zé. Funcionava assim: ele comprava e vendia ações para si mesmo, através de “laranjas”. Desta forma, manipulava uma alta artificial das ações.
De acordo com a Comissão de Valores Mobiliários (CVM), o megainvestidor chegou a ter mais de 100 laranjas que compravam e vendiam ações para o próprio Nahas, com o objetivo de inflar a cotação dos papéis.
Desse modo, Nahas operava sem precisar usar seu próprio dinheiro. Logo, alavancava o mercado e direcionava-o conforme seus interesses – no caso, manter as ações em alta.
Em meio a essa forte especulação, autoridades ligaram o alerta sobre uma provável “bolha” especulativa.
O presidente da Bovespa na época, Eduardo da Rocha Azevedo, convencido de que o esquema do investidor não se sustentaria, solicitou aos bancos que cancelassem os empréstimos feitos a Nahas.
Diante da recusa generalizada, a empresa Selecta, controlada por Nahas, emitiu um cheque sem fundos de cerca de NCz$ 39 milhões (moeda da época) para o pagamento de operações de compra de ações.
A devolução do cheque abalou as estruturas do mercado. E muitas corretoras que intermediavam as transações ficaram com prejuízos. Eles foram estimados em US$ 500 milhões.
Cinco delas tiveram que ser fechadas pelo Banco Central.
O circuit breaker não existia na época
Após a notícia ter chegado nos jornais, o pânico tomou conta do mercado e as negociações da BVRJ ficaram suspensas (o mecanismo de circuit breaker só seria criado em 1997).
Assim que as negociações retomaram, muitos papéis mergulharam em queda livre, perdendo mais de 1/3 do valor.
- Além de circuit breaker, saiba mais: Naji Nahas: como um único homem quebrou a bolsa de valores do Rio.
Antes do circuit breaker: Collor provoca maior baixa e maior alta já registradas na bolsa
Desde a metade da década de 1980, a inflação era um dos problemas mais graves a serem enfrentados pelos gestores públicos.
Para se ter uma ideia, no ano em que Collor foi eleito, o Brasil registrou uma inflação anual de 1.972%.
Quando Collor assumiu a presidência, decidiu também implantar seu próprio plano de recuperação econômica e combate à inflação.
Estava criado o Plano Brasil Novo, mais popularmente chamado de Plano Collor. Em 16 de março de 1990, por meio de um pronunciamento do próprio Collor, ele foi apresentado aos brasileiros.
Entre as principais medidas estava a mudança da moeda, de Cruzados Novos para Cruzeiros, sem corte de zeros. Também o início do processo de privatização das estatais.
Entretanto, o item mais marcante da pauta de mudanças e que ainda está na memória da população brasileira foi o confisco da poupança.
De acordo com as novas regras estabelecidas pelo plano, de todo o montante depositado na poupança, apenas 50 mil cruzados novos poderiam ser convertidos em cruzeiros e resgatados, sendo que o restante ficaria bloqueado por 18 meses.
As consequências dessas medidas drásticas foram as piores possíveis. Além de não melhorar os rumos da economia, o feito impactou diretamente no mercado de capitais brasileiro.
Antes do circuit breaker: como a bolsa reagiu
Três dias após o lançamento do novo plano, no pregão de 19 de março de 1990, a Bolsa de Valores do Rio de Janeiro (hoje extinta) não registrou uma única negociação.
Ao mesmo tempo, na Bovespa (hoje B3) somente nove negócios foram transacionados. E o Ibovespa recuou 12,1% no dia.
Um dia após, em 20 de março, uma terça-feira, o pânico tomou conta da Bolsa de Valores. A Bolsa derreteu 20,97%, superando a queda de 16,1% de outubro de 1987, quando ocorreu o crash da bolsa de Nova York.
Já no dia 21 de março, o Ibovespa registrou a maior queda da história da Bolsa brasileira. Recuou 22,27%. Em apenas três dias, a Bolsa registrou mais de 55,34% de desvalorização.
Entretanto, mesmo com a forte desvalorização entre março e abril de 1990, o Ibovespa reverteu a tendência e retomou o viés de alta, terminando o ano de 1990 com uma valorização acima de 308%.
- Antes do circuit breaker, leia também: Collor provoca maior baixa e maior alta já registradas na bolsa.
- Antes de circuit breaker, veja mais sobre investimentos na bolsa: conheça a planilha para investir 1 milhão.
Mais sobre Circuit Breaker, acompanhe outros pregões que ficaram na história
- Crise asiática e crise russa abalam mercados mundiais
- Bolsa vai do pânico à euforia com câmbio flutuante
- O estouro da bolha das ‘pontocom’
- O terror de 11 de setembro abala os mercados
- Pré-sal e investment grade causam euforia no mercado
- Calote em hipotecas nos EUA derruba bolsas no mundo todo
- Joesley Day e o risco de dois impeachments em menos de um ano
- Bolsa subia após facada em Bolsonaro
- Moro desembarca do governo e bolsa reage mal
Gostou de saber mais sobre circuit breaker? Acompanhe o dia a dia dos investimentos na bolsa de valores. Converse com um assessor. Abra uma conta na EQI Investimentos.