Na última reunião com os analistas da EQI, falávamos sobre as estimativas para a inflação neste ano até que surgiu uma questão, no mínimo, intrigante: um estrangeiro conseguiria viver de renda no Brasil?
O debate foi longe, tanto que me senti desafiado a fazer as contas e mostrar se até um cidadão da Suíça, país que lidera o ranking de riqueza média por habitante no mundo, teria tranquilidade financeira por aqui.
Isso significaria manter o padrão de vida que teria lá fora, sobrevivendo com folga ao equilibrar dos pratos no cotidiano de milhões de brasileiros, principalmente nas grandes cidades.
Afinal, um suíço viveria de renda no Brasil?
Pois bem, vamos aos números: na média, um suíço possui 687 mil dólares de patrimônio (financeiro e imobilizado), o que equivale a R$ 3,8 milhões ao câmbio atual.
A imagem abaixo exemplifica isso ainda melhor. À esquerda, com a Suíça na liderança, as barras pretas representam o patrimônio médio, em dólares, de um adulto entre 15 países selecionados. Já à direita, a barra azul ilustra o patrimônio mediano.

Mas atenção: isso é a média. Ou seja, se a Suíça tivesse apenas dois habitantes, um com R$ 7,6 milhões e outro com nada, a média seria equivalente à metade (R$ 3,8 milhões).
No entanto, como na Suíça a desigualdade é muito menor, a mediana sugere que ao menos metade dos suíços seria milionária no Brasil.
E isso é muito ou é pouco? Daria para viver de renda?
Vamos assumir que um suíço de 60 anos tenha se aposentado e se mudado para o Brasil, convertendo todo o seu patrimônio em dinheiro, a ser investido aqui.
Se considerarmos que ele conseguiria investir consistentemente seu patrimônio até o final de sua vida a uma taxa — já descontada a inflação — de aproximadamente 5,7% ao ano, esta seria a renda mensal com investimentos:
~R$ 5.100 por mês de poder de compra (assumindo que viveria até os 100 anos).

Para efeito de comparação, nosso amigo suíço viveria com a renda de uma família de classe média/média-baixa no Brasil, segundo a tabela acima, definida pelo Ipea.
Usando São Paulo como referência, viveria na periferia, deixaria metade da renda em aluguel e com o resto pagaria o mínimo para viver, fazendo contas para evitar o acúmulo de dívidas.
Não sei você, mas eu não chamaria isso de “viver de renda”.
Então, quanto o nosso amigo suíço deveria ter para viver como um cidadão de classe alta no Brasil, que vive bem, come bem e viaja todos os anos, inclusive para o exterior?
Usando os R$ 21 mil por mês como referência, nosso amigo suíço deveria acumular o equivalente a no mínimo R$ 4,1 milhões ou US$ 755 mil – patrimônio maior do que a média em seu país de origem.
Ou seja, aquele papo de que qualquer suíço é rei no Brasil… não é bem verdade.
Mas a parte triste da história vem agora.
Segundo estudo de 2022 do Credit Suisse, um brasileiro mediano possui patrimônio equivalente a apenas US$ 3.700 ou ~R$ 20 mil na cotação atual.
O que equivaleria, na prática, à renda de apenas um mês de uma família de classe alta – tamanha a desigualdade por aqui.
Com esse patrimônio – é triste dizer –, metade dos brasileiros conseguiria renda equivalente a apenas R$ 100,00 com o saldo na conta.
Não paga nem o gás.
Agora, se você me acompanha é bem provável que seja uma exceção e não a regra, portanto, aqui ficam minhas reflexões:
- Mire em um suíço como ponto de partida, mas não esteja satisfeito. Investindo bem é possível chegar lá mais rápido;
- No Brasil, para sustentar sua família até o final da sua vida, trabalhe e invista para ter a renda passiva equivalente à de uma família de classe média-alta/alta;
- Simule os cenários para a sua realidade. Eu gosto de revisitar os meus planejamentos mensalmente, mas esse ajuste de rota pode ser feito ao seu modo. Crie metas, defina como e quando “parar”… Quanto antes refletir sobre isso, mais tempo de vida com qualidade você ganha.
Calculadora Viver de Renda
Pensando nisso, eu criei uma planilha que simula em três cenários até quando duraria a sua renda passiva mensal de acordo com a sua idade, em que momento pretende viver de renda, quanto poupará até lá, quanto já possui…
Essa planilha pode ser o seu ponto de partida. Para entender se está mais próximo do brasileiro médio, do suíço ou dos nossos colegas de Luxemburgo, quem sabe.


Nosso amigo suíço, quem sabe, teria ficado por lá ao ver esse estudo…