Até onde o preço do petróleo pode chegar? Esta é uma das principais perguntas do momento, diante da escalada da Guerra na Ucrânia.
Desde o início da invasão russa, o barril do petróleo, tanto o Brent quanto o WTI, passou a subir de maneira significativa. Nesta terça-feira (8), por exemplo, o Brent é negociado acima dos US$ 130 o barril.
Aline Cardoso, gestora e analista de renda variável da EQI Asset, acredita que o preço pode se manter nesse patamar se toda a produção russa for retirada do mercado. Ela lembra que, no ano, a commodity já subiu 46%.
Mas, apesar do cenário adverso, ela explica, as ações ligadas a empresas de petróleo tendem a ser beneficiadas. Porém, há ressalvas.
“Petrobras (PETR3; PETR4) é um pouco complicada, porque não há garantias de que vá conseguir repassar esse aumento de preço para o combustível”, salienta.
Além disso, ela explica, a situação da estatal fica mais complicada porque, por precisar importar petróleo leve para misturar com o óleo pesado que produz, ela sofre com a alta da commodity.
Além do petróleo, empresas produtoras de grãos também podem se beneficiar com a guerra, já que a Ucrânia produz boa parte do trigo e do milho consumidos no mundo.
“Ações ligadas a ouro também podem ser uma boa opção”, complementou. A onça-troy vem sendo negociada acima de US$ 2 mil, patamar semelhante ao da pandemia.
O banco JP Morgan vê um cenário bem mais difícil. De acordo com a Bloomberg, observa que as commodities registram as maiores altas desde 1974. E se ocorrer uma interrupção da oferta russa de óleo, o valor do Brent pode atingir US$ 180 até o fim do ano.
Cotação do ouro
Cotação do petróleo Brent
Guerra na Ucrânia: cenário adverso
Na segunda-feira (7), por exemplo, o Brent encerrou o pregão com elevação de 4,32%, a US$ 123,21 por barril. Já o WTI, negociado na Bolsa de Nova York, subiu 3,21%, a US$ 119,40.
Já nesta terça-feira, (8), ainda não existem sinais de arrefecimento dos preços da commodity. O Brent para maio chegou a subir 7%, a US$ 131,83; e o WTI para abril, sobe 7,35%, a US$ 128,18.
Esse cenário de aversão ao risco ocorre porque a Rússia é considerada uma superpotência no que diz respeito ao fornecimento de petróleo e gás. O país é um dos principais exportadores dos dois insumos. Para ter uma ideia, 25% de todo o gás consumido pela Europa é fornecido pelos russos.
Com relação ao petróleo, o país também é fornecedor mundial do insumo. Mas esse cenário atual só começou com a chegada de Vladimir Putin ao Kremlin. Naquele período, em 1999, ele implementou uma política energética que tornou a Rússia a potência energética que é hoje. Inclusive fazendo com que os europeus se tornassem dependentes de suas exportações.
O peso da Rússia
A venda massiva de hidrocarbonetos russos começou com a expansão de uma vasta rede de transporte, tanto de gás quanto de petróleo. O gás é vendido por meio das estatais Gazprom e Transneft.
Já as vendas de petróleo estão divididas entre a estatal Rosneft e companhias privadas como a Lukoil, a Novatec e a Surgutneftegas. Todas as privadas são aliadas ao governo Putin.
Somada à Arábia Saudita, a Rússia controla 40% das vendas internacionais de petróleo. Portanto, estes dois países têm o poder de manter o mercado petrolífero nas mãos. E tanto russos como sauditas são parte da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep+).
E o Brasil?
Com essa escalada, o Brasil sofre consequências diretas nos preços dos combustíveis. Isto porque a Petrobras (PETR3; PETR4) vem, desde o governo Michel Temer, adotando uma política de preços alinhada ao mercado internacional. E tomou como base o barril tipo Brent, que sobe justamente em um ritmo mais intenso.
O presidente Jair Bolsonaro já deu declarações de que a atual política não deverá continuar. E acrescentou que, se for repassado ao consumidor, os combustíveis podem sofrer um aumento de até 50%, de acordo com ele. Inclusive, o governo já considera adotar subsídios aos combustíveis.
O papel dos EUA
Nesse cenário, também conta o papel do Estados Unidos. Afinal, eles são os maiores consumidores mundiais de petróleo e um dos maiores compradores da Rússia. E a guerra acabou deixando os norte-americanos em uma saia justa. Afinal, assim como a Europa, eles mantêm um grau de dependência do petróleo russo.
Diante desse cenário difícil, a maior economia do mundo se viu obrigada a se voltar a uma velho adversário: a Venezuela, outro grande exportador mundial de petróleo e também membro da Opep+.
No fim de semana, representantes de Washington procuraram o governo venezuelano a fim de encontrar uma solução e um possível acordo.
Em pronunciamento, o presidente da Venezuela, Nicolas Maduro, afirmou que as conversas foram cordiais. E ambos os países concordaram em achar uma solução para o futuro.
O presidente Joe Biden deve anunciar nesta terça-feira (8) uma proibição de importação de petróleo e energéticos russos.
Segundo matéria da CNN, o movimento do presidente norte-americano deverá ocorrer de forma unilateral. Ou seja: a decisão será tomada com ou sem o consentimento dos aliados europeus. Isto porque os países do Velho Mundo ainda não chegaram a um consenso sobre proibir ou não a importação de energéticos russos.
Em resumo, diante desse cenário, com a Guerra na Ucrânia, Vladimir Putin deixou o mundo em uma sinuca de bico, principalmente Europa e Estados Unidos. Pois se preparou por décadas para se tornar a potência energética que é hoje e deixar o Novo e o Velho Mundo dependentes de seu fornecimento de petróleo e gás. Este é o dilema do momento.