A partir de outubro, pequenos investidores terão acesso aos Fundos de Investimento em Direitos Creditórios (FIDCs). A Resolução 175 da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) expandirá a fronteira de investidores pessoas físicas no mercado de capitais para uma área com produtos mais sofisticados e complexos, como os FIDCs.
Os FIDCs ainda são pouco conhecidos por investidores em geral, uma vez que não havia uma demanda para acessar o produto especificamente, devido à regulação vigente. Os fundos atualmente são restritos a investidores qualificados ou profissionais, que têm R$ 1 milhão e R$ 10 milhões, respectivamente, investidos ou alguma certificação aceita pela CVM.
De 2014 a 2020, o patrimônio dos 595 FIDCs lançados e negociados era de R$ 143 bilhões. Ricardo Binelli, sócio e diretor responsável pela gestão de produtos de crédito estruturado na Solis Investimentos, conta que, no período, os fundos chegaram a um retorno aproximado de 150% nominalmente.
“A redução do ganho foi muito pequena. O CDI na época rendeu metade disso. O retorno, proporcionalmente, foi muito relevante”, relembra. “É um produto a se investir em crédito privado com segurança.”
Apesar da mudança, a oferta de FIDCs, por ora, deve ser feita por meio de fundos de fundos (FoFs), que também terão maior liberdade para aplicar nesse tipo de investimento.
“Somos entusiastas do varejo investir em cotas de FIDC: além de confiarmos no produto, sabemos que vai gerar uma cobertura de informação muito maior sobre o produto, o que é muito positivo para o ativo. Com a geração de conhecimento e aprendizado, isso deve mitigar muito mais os riscos dos investidores na hora da decisão”, pontua Binelli, que reforça que o caminho inicial deve ser mesmo pelos FoFs.
Com a expansão ao varejo, especialistas esperam que a classe cresça cerca de 20% ao ano daqui para frente e dobre de tamanho em cinco anos.
Pequenos investidores com acesso a FIDCs: entenda a proposta
Desde a sua criação, há mais de 20 anos, o FDIC esteve restrito aos investidores qualificados. Para o varejo, a única possibilidade de acesso era por meio de fundos com limitação de até 20% de exposição.
As novas regras da CVM, que passam a valer em outubro, já são discutidas há anos, principalmente após a resolução do Comitê Monetário Nacional (CMN) e do Banco Central para melhorar o ambiente de crédito no país.
Agora, desde que o FIDC atenda o rol de requisitos impostos pela CVM, as limitações deixarão de existir. Uma das condições impostas pela autarquia é a de que o varejo possa acessar apenas as cotas seniores. Os fundos também deverão ser avaliados por agências de rating (classificação).
Renda fixa: por dentro dos Fundos de Investimento em Direitos Creditórios (FIDCs)
Os FIDCs, Fundos de Investimento em Direitos Creditórios, configuram uma modalidade de investimento que pertence à renda fixa. O produto consiste em fundos formados por títulos negociáveis com os valores que as empresas têm a receber, que podem ser cheques pré-datados, parcelas de cartões de crédito, aluguéis ou duplicatas.
Os FIDCs garantem o retorno da diferença entre o valor pago e recebido pela dívida e um rendimento que pode ser prefixado ou pós-fixado.
Na prática, uma loja vende para um fundo suas dívidas a receber, por um valor menor. Quando o pagamento for feito pelos clientes, ele não irá mais para a loja, mas sim para os investidores que possuem cotas do fundo.
Os FIDCs são uma alternativa ao crédito tradicional e proporcionam capital de giro imediato para as empresas. O fundo gera um fluxo previsível de pagamentos de juros para os investidores.
Há uma diferença entre as cotas do fundo: a sênior tem um menor risco atrelado, com preferência de pagamentos e resgates; já a subordinada, seja mezanino ou júnior, absorve a inadimplência, portanto é a primeira afetada em casos de calote – mas também pode ter rendimentos maiores.
Com a queda da Selic, iniciada em agosto pelo Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom), a renda fixa deve passar a valer menos. Contudo, o FIDC, por trabalhar com a taxa média de juros, deve, ainda assim, pagar mais do que aplicações da renda fixa tradicional.
“Na lógica da diversificação dos investimentos, mesmo com juros baixíssimos, deve haver uma aplicação sem grandes riscos atrelados”, pondera Binelli.
Por que investir em FIDCs por meio de FoFs
Os FIDCs são específicos e diferentes, além de pouco conhecidos no mercado em geral, portanto quem deseja captar dinheiro por meio do fundo vai buscar um universo de conhecedores. Segundo Ricardo Binelli, essa busca não costuma ser por meio do investidor pessoa física.
“O investidor, da mesma forma, não terá o conhecimento suficiente para aportar no produto sem saber o que poderá lhe oferecer – e isso não acontecerá de uma hora para a outra”, diz.
Nesse momento inicial, na leitura da Solis, o investimento ainda é para quem entende sobre. Mas não é por isso que o investidor pessoa física deve ficar de fora: para isso, um fundo de fundos pode ser uma boa alternativa.
“Em um fundo de fundos, a gestora cria ferramentas de liquidez para o pagamento de resgate ao investidor. As ofertas chegam até a gestora naturalmente – muitas vezes, o que há de melhor no mercado”, esclarece.
Vale a pena investir em FIDCs?
Ricardo Binelli diz que os FIDCs entregam uma relação risco e retorno muito boa. Isso porque a rentabilidade tende a ser melhor, pensando em operações de renda fixa tradicionais.
“Empresas muito grandes captam recursos próximos à taxa básica de juros. Os FIDCs negociam seus recebíveis a uma taxa média, portanto têm matéria-prima para remunerar. Os fundos têm mais condições para pagar prêmio, além do benefício da proteção e da baixa volatilidade”, avalia.
Os FIDCs também abrem caminho para preencher uma lacuna grande no mercado hoje: há uma movimentação expressiva para que o crédito seja levado ao mercado de capitais.
A desbancarização dos investimentos também acontece no caso do crédito, aponta Binelli. “Atualmente, 75% do crédito está na mão de cinco grandes bancos no Brasil – e as empresas precisam disso para crescer. O BC já sabe que o crédito precisa ficar mais barato para isso, e os bancos não têm aumentado essa oferta. Quanto mais falarmos de FIDCs, mais esse produto vai evoluir e ser visto.”