O mercado de crédito privado brasileiro apresentou crescimento em 2024, atingindo R$ 563 bilhões em emissões até outubro, um aumento de 42% em relação ao ano anterior, segundo relatório do BTG Pactual (BPAC11). Porém, os bancos ficaram mais cautelosos após o terceiro trimestre do ano (3TRI24).
Este avanço foi impulsionado pelo aumento das emissões de debêntures tradicionais e incentivadas, além de certificados de recebíveis imobiliários (CRI) e do agronegócio (CRA). Apesar do aquecimento, o setor enfrenta desafios com spreads reduzidos e aumento nos pedidos de falência.
Com captações líquidas de R$ 312 bilhões para fundos de renda fixa nos primeiros dez meses de 2024, o patrimônio líquido desses fundos atingiu R$ 3,74 trilhões. O aumento da taxa Selic e o fraco desempenho de outras classes de ativos, como ações e Fundos Imobiliários (FIIs), atraíram investidores para produtos de renda fixa, estimulando a demanda por crédito privado.
“A aceleração das emissões (com demanda muito grande por parte dos fundos de renda fixa) reduziu os spreads, o que pode levar a retornos menos atraentes para novos créditos”, diz trecho do relatório.
O relatório destaca, no entanto, a postura mais conservadora de instituições financeiras, como Santander (SANB11) e Itaú (ITUB4), que optaram por reduzir suas exposições no segmento de crédito corporativo, priorizando rentabilidade.
O Itaú, por exemplo, focou em cartões de crédito, pequenas e médias empresas (PMEs) e crédito ao consumidor, enquanto o Banco ABC (ABCB4) aumentou sua carteira por meio de títulos corporativos.
Crédito privado: aumento na renda fixa
O relatório diz ainda que o Banco Central (BC) observou um aumento nos pedidos de falência, especialmente entre grandes empresas, reflexo de condições macroeconômicas considerada desafiadoras. Apesar disso, o crédito via mercado de capitais cresceu quase 3,4 vezes desde 2018, superando significativamente o crédito bancário corporativo.
“Devido ao seu histórico de altas taxas de juros, o Brasil sempre foi conhecido como o país da renda fixa. Porém, com a queda da taxa Selic para menos de 3% durante a pandemia, a renda fixa perdeu espaço para outros produtos, como ações e fundos macro/multimercados”, diz trecho do relatório.

Mas o relatório lembra que e demanda por produtos de renda fixa começou a se recuperar com o forte aumento da taxa Selic após a pandemia, brevemente interrompida no início de 2023, quando os spreads de crédito corporativo subiram após o caso de fraude envolvendo a grande varejista Americanas (AMER3) e alguns outros eventos, como a recuperação judicial da Light (LIGT3).
Com isso, os spreads foram mais impulsionados pela redução da oferta de crédito, uma vez que grandes bancos como o Bradesco e o Santander adotaram posturas mais cautelosas em relação ao crescimento da carteira.
“Desde então, os yields atraentes oferecidos pelos produtos de renda fixa, combinados com o fraco desempenho de outras classes de ativos (como ações e FIIs), alimentaram a forte demanda por produtos de renda fixa, uma tendência que se acelerou este ano e deve permanecer forte”, diz o BTG.
Condições neutras
Após a temporada de resultados do terceiro trimestre (3TRI24), o BTG diz que alguns bancos estão ajustando seu apetite por crescimento no segmento corporativo. O Santander viu sua carteira total de empréstimos cair 0,5% t/t (os empréstimos corporativos caíram ainda mais, 7% t/t).
O Itaú também mencionou que o crescimento da carteira deve se concentrar em cartões de crédito, PMEs e crédito ao consumidor. Enquanto isso, o Banco ABC, um banco de médio porte focado no segmento corporativo, vem aumentando sua carteira expandida principalmente por meio de títulos desse segmento.
“Portanto, ficamos surpresos ao ver a pesquisa do BCB sobre as condições de oferta de crédito no 3TRI24 (realizada em meados de outubro) mostrar que as instituições financeiras, de modo geral, ainda avaliam as condições futuras de crédito como “neutras”, embora um pouco mais negativas que na pesquisa anterior”, diz trecho do relatório.
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