Apesar de alguns especialistas em política internacional criticarem a visita do presidente Jair Bolsonaro para a Rússia, em um momento delicado entre a potência militar e a Ucrânia, o movimento pode apresentar um lado positivo diante de tudo isso.
Bolsonaro deve chegar em Moscou, capital da Rússia, na manhã desta terça-feira (15). O encontro com o presidente russo Vladimir Putin está agendado para amanhã, quando terá uma conversa particular (com apenas os dois intérpretes). Após isso, terá uma entrevista coletiva e um almoço entre eles. Além disso, o chefe do executivo brasileiro vai se reunir com o presidente da Câmara Baixa do Parlamento (Duma).
Uma das pautas principais para a visita é conversar sobre a questão dos fertilizantes, que é tão importante para o agronegócio brasileiro. Antes de embarcar para a Europa Oriental, Bolsonaro afirmou, em uma entrevista ao programa de rádio do ex-governador do Rio de Janeiro Antony Garotinho, que o motivo dele ir para a Rússia era porque o Brasil precisava de fertilizantes.
De acordo com o Ministério da Agricultura, cerca de 20% de todo o fertilizante importado tem origem russa. Este item é tão importante para o agronegócio, que ele representa 65% de todos os produtos que vêm da Rússia para o Brasil.
Em dezembro, o governo russo anunciou restrições às exportações de fertilizantes nitrogenados por meio de cotas de exportação pelo período de seis meses. Eles argumentaram que o objetivo das restrições é evitar escassez no mercado interno.
Outro ponto importante da visita do presidente Bolsonaro à Rússia é para tratar sobre as exportações brasileiras para o mercado russo.
Segundo a plataforma Comex-Stat, do MDIC, soja e café responderam por mais de 30% das exportações do Brasil à Rússia em 2021. Além disso, o país euro-asiático anunciou que abrirá uma cota de 300 mil toneladas de carne (200 mil toneladas de carne bovina e 100 mil toneladas de carne suína) com tarifa zero de importação por seis meses, que pode ser utilizado pelo Brasil.
Dessa forma, a viagem de Bolsonaro para a Rússia pode ter a função de ampliar os laços comerciais entre os países, principalmente na questão dos fertilizantes para os brasileiros e commodities agrícolas para os russos.
Viagem é um desafio diplomático
Além da questão comercial, a viagem do presidente Bolsonaro para a Rússia pode ser encarada como um desafio diplomático diante da tensão entre os russos e os ucranianos em suas fronteiras.
Para a Bloomberg Línea Brasil, o professor de Relações Internacionais da FGV-SP Pedro Brites disse que o objetivo da viagem é mostrar ao mundo que Bolsonaro ainda pode ser recebido por potências internacionais.
Os Estados Unidos até pressionaram o governo brasileiro para evitar a visita diante do risco de guerra, mas a diplomacia quer mudar a sua imagem de um país mais isolado.
Vale lembrar que o Brasil tem poucos parceiros internacionais, principalmente após a derrota de Trump nos EUA, de Macri na Argentina e de Netaniahu em Israel, e com as falas sobre a China no início do governo. Brites destaca que os principais líderes mundiais têm uma cisma muito grande com o presidente brasileiro.
Com isso, a viagem à Rússia pode ser considerada um movimento para ganhar algum prestígio internacional em um ano eleitoral, salienta o professor da FGV.
Putin anuncia retirada de parte das tropas na fronteira
Na manhã desta terça-feira (15), o governo russo anunciou o início da retirada de parte das tropas que se exercitavam perto das fronteiras da Ucrânia. A divulgação foi realizada por agências de notícias da Rússia e pelo Ministério da Defesa.
Embora não tenha apontado o número de quantos soldados foram autorizados para voltar às suas bases permanentes, o comunicado indica apenas eles devem sair Dos distritos militares Ocidental e Sul, em áreas próximas ao território ucraniano.