Assista a Money Week
Compartilhar no LinkedinCompartilhar no FacebookCompartilhar no TelegramCompartilhar no TwitterCompartilhar no WhatsApp
Compartilhar
Home
Notícias
Trump apresenta “receita” contra o Covid-19, mas médicos recomendam cautela

Trump apresenta “receita” contra o Covid-19, mas médicos recomendam cautela

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, foi do Twitter, nesse sábado (21), publicar o que acredita ser a “receita” para acabar com a pandemia do Covid-19. A comunidade médica, entretanto, em sua maioria, ainda está esperando testes conclusivos, que podem durar meses.

“HIDROXICLOROQUINA E AZITROMICINA, juntos, têm uma chance real de ser uma das maiores mudanças na história da medicina. O FDA (o equivalente à Anvisa nos EUA) moveu montanhas – Obrigado! Espero que ambos sejam colocados em uso IMEDIATAMENTE. AS PESSOAS ESTÃO MORRENDO, MOVEM-SE RAPIDAMENTE E DEUS ABENÇOE TODOS!”, escreveu, usando muitas letras maiúsculas.

Trump de olho nas eleições

Analistas norte-americanos acreditam que Donald Trump está correndo com uma solução inexistente ainda de olho nas eleições presidenciais de novembro de 2020.

Trump estaria querendo se apresentar como o “salvador do mundo” e capitalizar isso politicamente.

Entretanto, cientificamente, é preciso cautela para aprovar medicamentos para tratar qualquer doença. Ainda mais, nesse caso, sendo uma adaptação.

Publicidade
Publicidade

Os estudos estão sendo feitos em várias frentes, em todo o mundo. A hidroxicloroquina é um deles. A vantagem é que é um medicamente conhecido há bastante tempo e a comunidade científica já conhece seus efeitos no corpo humano.

Também no Brasil

Não é só Trump. No Brasil, essa corrida por um medicamento eficaz também está acontecendo.

Segundo a CNN Brasil, o médico Pedro Batista Júnior, diretor-executivo da Prevent Sênior, disse que uma paciente com mais de 60 anos, internada em estado grave na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Hospital Sancta Maggiore, em São Paulo, “melhorou após tratamento com hidroxicloroquina em combinação com um antibiótico”.

“Foi apresentada uma melhora na quantidade de oxigênio que o organismo consegue absorver. O pulmão pode estar ficando menos inflamado”, disse Batista Jr. em entrevista exclusiva à CNN na tarde desta sexta-feira (20).

A hidroxicloroquina é um medicamento usado contra malária e doenças autoimunes, como lúpus. Já são décadas de conhecimento desse medicamente, o que poderia, em tese, facilitar e acelerar a busca por uma cura.

Mas o seu uso experimental contra o Covid-19 tem ocasionado uma corrida irresponsável às farmácias.

“A droga deve ser indicada pela equipe médica avaliando os riscos para o paciente”, alertou Batista Jr.

Anvisa não recomenda

A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) enquadrou a hidroxicloroquina e a cloroquina como medicamentos de controle especial, depois da corrida às farmácias.

“A medida é para evitar que pessoas que não precisam desses medicamentos provoquem um desabastecimento no mercado. A falta dos produtos pode deixar os pacientes com malária, lúpus e artrite reumatoide sem os tratamentos adequados”, diz a agência.

O órgão diz que recebeu “relatos de que a procura pela hidroxicloroquina aumentou depois que algumas pesquisas indicaram que este produto pode ajudar no tratamento da Covid-19. Apesar de alguns resultados promissores, não há nenhuma conclusão sobre o benefício do medicamento no tratamento do novo coronavírus”.

Ou seja, não há recomendação da Anvisa, no momento, para a sua utilização em pacientes infectados ou mesmo como forma de prevenção à contaminação pelo novo coronavírus.

Comunidade científica

Na última quarta-feira (18), a revista Nature, uma das mais prestigiadas da comunidade científica, publicou um artigo, com o título “A hidroxicloroquina, um derivado menos tóxico da cloroquina, é eficaz na inibição in vitro da infecção por SARS-CoV-2”.

O artigo detalha os caminhos até chegar ao foco de investigação de hoje.

“Recentemente, relatamos que dois medicamentos, o remdesivir (GS-5734) e o fosfato de cloroquina (CQ), inibiram eficientemente a infecção por SARS-CoV-2 in vitro. Um relato de caso recente mostrou que o tratamento com remdesivir melhorou a condição clínica do primeiro paciente infectado por SARS-CoV-2 nos Estados Unidos, e um ensaio clínico de fase III de remdesivir contra SARS-CoV-2 foi lançado em Wuhan em 4 de fevereiro de 2020”, começa.

“No entanto”, segue, “como remédio experimental, não se espera que o remdesivir esteja amplamente disponível para o tratamento de um número muito grande de pacientes em tempo hábil. Portanto, dos dois medicamentos em potencial, o CQ parece ser o medicamento de escolha para uso em larga escala devido à sua disponibilidade, registro de segurança comprovado e custo relativamente baixo. À luz dos dados clínicos preliminares, o CQ foi adicionado à lista de medicamentos em estudo nas Diretrizes para o diagnóstico e tratamento do Covid-19”.

Nele, de forma bem clara, mostra-se que qualquer conclusão agora é precipitada.

“CQ tem sido muito utilizado no tratamento da malária e da amebíase. No entanto, o Plasmodium falciparum desenvolveu ampla resistência a ele e, com o desenvolvimento de novos antimaláricos, tornou-se uma opção para a profilaxia da malária. Além disso, uma overdose de CQ pode causar intoxicação aguda e morte”.

“Nos últimos anos, devido à utilização pouco frequente de CQ na prática clínica, sua produção e oferta de mercado foram bastante reduzidas, pelo menos na China. O sulfato de hidroxicloroquina (HCQ), um derivado da CQ, foi sintetizado pela primeira vez em 1946 pela introdução de um grupo hidroxila na CQ e demonstrou ser 40% menos tóxico do que a CQ em animais. Mais importante, o HCQ ainda está amplamente disponível para tratar doenças autoimunes, como lúpus eritematoso sistêmico e artrite reumatoide. Como o CQ e o HCQ compartilham estruturas e mecanismos químicos semelhantes, agindo como uma base fraca e imunomodulador, é fácil evocar a ideia de que o HCQ pode ser um candidato potente para tratar a infecção por SARS-CoV-2”, afirma o artigo.

Para concluir que “se o HCQ é tão eficaz quanto o CQ no tratamento da infecção por SARS-CoV-2 ainda carece de evidências experimentais”.

É preciso descobrir qual a dosagem segura para inibir a infecção, algo que comunidade científica ainda não sabe. É exatamente baseado nisso que a Anvisa tomou sua decisão.

LEIA MAIS
Governo dos EUA e empresas de tecnologia podem usar dados de GPS para combater coronavírus

Hospital que testou Bolsonaro terá que divulgar lista de infectados pelo coronavírus