Em 1997, uma grave crise econômica se abateu sobre as principais economias emergentes da Ásia.
Entretanto, o que inicialmente era restrito aos tigres asiáticos, rapidamente se espalhou para outros países e por conta disso ficou conhecido como a primeira crise da economia globalizada.
Atingida parcialmente pela crise asiática, a crise russa, que se iniciou um ano depois, também refletiu em economias e mercados de vários países.
O que foi a crise asiática?
Em 1997 a crise asiática marcou um período de forte recessão econômica que atingiu boa parte dos países da Ásia, sobretudo os chamados tigres asiáticos, conjunto de países emergentes do Sudeste Asiático.
A Tailândia foi o primeiro país onde a crise explodiu, em julho de 1997, após emprestadores estrangeiros se darem conta do enorme déficit em conta-corrente do país e do rápido aumento da dívida externa.
Entre outubro e novembro de 1997, em meio a uma forte crise econômica, Indonésia e Coreia do Sul requisitaram apoio financeiro junto ao FMI.
Enquanto a Indonésia registrava uma desvalorização de 30% na sua moeda, a Coreia do Sul solicitava empréstimo de US$ 57 bilhões, o maior já concedido pelo FMI até então.
Já Tailândia e Malásia viram o Produto Interno Bruto cair mais de 10% no ano.
A crise que iniciou na Ásia, rapidamente ganhou escala global, afetando então economias de vários continentes.
Em 27 de outubro, a Bolsa de Valores de Hong Kong registrou queda recorde ao cair 1.211 pontos em um só dia, recuando 5,8%.
O pânico gerou efeito dominó em várias bolsas mundiais. Em Nova York, a Bolsa encerrou as operações uma hora antes do normal, com o índice Dow Jones desvalorizando 7,18%, a maior queda desde o crash de 1987.
Em São Paulo o recuo foi de 14,97%, a quarta maior baixa na história da Bolsa brasileira e o pior desempenho entre todas as Bolsas do mundo.
A partir de então, foi criado o mecanismo de paralisação automática dos negócios em caso de queda abrupta do Ibovespa.
Desse modo, o dia 28 de outubro marcou a primeira vez que o circuit breaker foi acionado, e, após paralisação de uma hora, o Ibovespa acabou fechando em alta de 6,59%.
Ainda no mesmo ano, o circuit breaker foi acionado mais duas vezes: em 7 de novembro, caindo 6,38% e em 12 de novembro, derretendo 10,20%.
Crise Russa
Logo após a crise asiática, semelhante evento atingiu a Rússia em meados de 1998.
Para ser mais exato, a crise financeira russa, também chamada crise do rublo, atingiu seu ápice em 17 de agosto de 1998, quando o governo decretou moratória.
Entre os fatores que desencadearam a crise estavam queda da produtividade, alta taxa de câmbio fixo entre o rublo e as moedas estrangeiras e déficit fiscal crônico.
Vale destacar ainda que a crise financeira asiática e o declínio na demanda por petróleo bruto já haviam afetado severamente as reservas cambiais russas.
Em maio de 1998, em um esforço para sustentar a moeda e conter a fuga de capital, o Banco Central da Rússia triplicou sua principal taxa de juro, de 50% para 150% ao ano.
Em julho do mesmo ano, o pagamento mensal dos juros da dívida russa subiram para um montante 40% maior do que a arrecadação mensal de impostos do país, de modo que a dívida só poderia ser financiada pela emissão de mais dívida.
Um pacote financeiro do Fundo Monetário Internacional (FMI) e do Banco Mundial, de US$ 22,6 bilhões, foi aprovado em 13 de julho para apoiar reformas e estabilizar o mercado russo. A Rússia havia se tornado então a maior tomadora de recursos do FMI.
A incapacidade do governo russo de implementar um conjunto coerente de reformas econômicas levou a uma grave erosão na confiança dos investidores, que fugiram do mercado vendendo rublos e ativos russos (como títulos), que também pressionaram para baixo o rublo.
Estima-se que entre 1 de outubro de 1997 a 17 de agosto de 1998, o Banco Central gastou aproximadamente US$ 27 bilhões de suas reservas em dólares para controlar o câmbio.
A inflação russa em 1998 atingiu 84% ao mesmo tempo em que o PIB contraiu 5,3%.
Muitos bancos, incluindo Inkombank, Oneximbank e Tokobank, fecharam como resultado da crise.
O colapso financeiro resultou em uma crise política, mergulhando o país em uma turbulência ainda maior.
Só na primeira semana de agosto, a Bolsa de Moscou perdeu 24% de seu valor.
Em 17 de agosto de 1998, em meio ao descontrole econômico e financeiro, o governo russo decide desvalorizar o rublo e declarar moratória sobre o pagamento da dívida externa.
A repercussão da crise não ficou restrita à Rússia e muitos países foram impactados. Em Wall Street, o índice Dow Jones caiu 4,2%, a terceira pior queda em 11 anos.
O Ibovespa acionou o circuit breaker cinco vezes entre agosto e setembro daquele ano.
Dessa forma, em 21 de agosto, 04, 10 e 17 de setembro as atividades na Bolsa brasileira foram paralisadas.
Só no pregão do dia 10, a Bovespa, hoje B3, foi obrigada a acionar o circuit breaker por duas vezes, fechando o dia em queda de 18,17%.