A história dos games teve início em 1958, quando as primeiras ideias foram criadas
e testadas por estudantes e especialistas em tecnologia. A década de 70 foi um período de extrema importância para o desenvolvimento dessa indústria, o que abriu espaço para que na década seguinte fossem criados grandes clássicos como Pac Man, que dispensa apresentações.
Com todo esse sucesso e a febre por games, os anos 90 não deixaram a desejar. O período foi marcado pela rivalidade entre Mario vs. Sonic e com os consoles domésticos, que superaram os antigos fliperamas. Também nessa época surgiram os primeiros jogos para celulares: o Tetris e, em 1997, o famoso jogo de cobrinha “Snake”, lançado pela Nokia.
Mais para frente, nos anos 2000, vimos nascer o Playstation 2. E mais tarde, em 2005 e 2006, houve uma sequência de grandes lançamentos ao mercado: primeiro, veio o PlayStation 3, lançado pela Sony. Após, a Microsoft lançou o XBox. Na sequência, a Nintendo chegou com uma grande novidade: o Wii, que misturava os games com interação física.
Foi a época da mais acirrada guerra de consoles, cada um apresentando um diferencial e com uma atratividade diferente para o público.
E a rivalidade entre os desenvolvedores e fabricantes de consoles continuou nos anos que seguiram: vieram o PlayStation 4, o Xbox 360 e o PlayStation 5, trazendo evoluções principalmente no que diz respeito a gráfico e som.
Até aquele momento, a indústria de games era vista como algo puramente recreacional, com pessoas gastando valores consideráveis em consoles e licenciamento de jogos com a única finalidade de se entreter.
Mas os últimos anos foram marcados por uma revolução do segmento com a alta do mercado de PCs, celulares, canais no Youtube e os grandes campeonatos pelo mundo.
Vimos uma verdadeira institucionalização do mercado gamer, com vários jogadores se profissionalizando e ganhando ótimos salários, grandes premiações e se tornando celebridades.
As transmissões de campeonatos entraram na programação de grandes canais de televisão e streamings, até chegar ao ponto de encher estádios de futebol com uma audiência extremamente relevante.
Uma revolução sem precedentes no mercado de jogos digitais dentro de uma indústria que hoje movimenta bilhões de dólares anualmente.
Em outras palavras, foi dado início a uma nova era, onde bons jogadores mesclaram a jogabilidade com altos índices de performance para gerar audiência e, por consequência, ganhar dinheiro.
Nasceu assim a modalidade do eSports, responsável por girar valores consideráveis de dinheiro e por tornar seus participantes verdadeiras celebridades.
O surgimento do Play to Earn
Mas a revolução na indústria de games estava longe de parar no surgimento dos eSports.
Um grande passo foi dado com o surgimento de uma nova modalidade, só possível com a união da tecnologia, descentralização e criptomoedas, o conjunto perfeito para o que conhecemos hoje como Play to Earn.
É importante entender o estágio em que estamos hoje, com a evolução da indústria e diferentes modelos de licenciamento de games nos últimos anos.
O que antes poderia ser avaliado apenas como uma questão de melhoria em gráficos e questões visuais, hoje já pode ser analisado com outro ponto de vista: como os modelos de negócios interferem na dinâmica tanto dos desenvolvedores quanto dos jogadores.
Se formos criar “períodos ou referências” para essas evoluções, podemos pontuar três principais modelos, que ainda coexistem:
- Pay to play: Aqui estão os pioneiros da indústria. Os jogadores compravam a via física do jogo, ou seja, uma cópia licenciada daquele conteúdo, em um modelo de distribuição que enfatiza a dependência das empresas que desenvolvem os jogos.
- Free to play: Modelo Freemium, atualmente o mais difundido nos jogos. Nesse formato, não é exigido nenhum custo para começar, mas há recursos que podem ser comprados para melhorar a experiência do jogador.
- Play to earn: Surge com as aplicações de tecnologias relacionadas a blockchain e contratos inteligentes. Aqui, os jogadores são remunerados com recompensas de acordo com o tempo dedicado e suas habilidades dentro dos jogos.
Para que um negócio seja realmente sustentável, precisa ter uma boa estratégia de monetização. Então vamos ver como ela acontece nesses 3 diferentes formatos:
- Pay to play: As receitas são geradas unicamente por meio de vendas dos jogos.
- Free to Play: A fonte de receita é a compras internas dentro do próprio jogo, junto com a publicidade, algo que se tornou cada vez mais relevante.
- Play to Earn: Os desenvolvedores do jogo costumam ser remunerados pela venda de NFTs relativas aos itens dos jogos (personagens, itens de jogabilidade, etc.) e pelas taxas de transação desses NFTs dentro de marketplaces próprios criados dentro das plataformas dos jogos.
A grande diferença do Play to Earn é que se trata de um modelo de negócio que funciona para remunerar não apenas os desenvolvedores dos jogos, mas também os gamers, que têm a possibilidade de jogar um jogo e potencialmente ganhar criptomoedas cumprindo as missões e desafios estabelecidos dentro do ecossistema.
O termo se popularizou principalmente a partir de 2021 por conta de um jogo chamado Axie Infinity, que, dada a repercussão mundial gerada, deu o pontapé inicial para diversos outros jogos e bilhões de dólares movimentados no mercado.
As diferenças
Diferentemente dos jogos tradicionais, no Play to Earn a remuneração dos jogadores é feita em criptomoedas.
Também é um diferencial a possibilidade de um gamer manter, durante a jornada dentro do jogo e depois fora dele, os itens, skins e objetos que agregam valor.
Nos games tradicionais, esses ativos (itens, skins e onjetos do jogo) só tinham valor dentro do game em questão. Contudo, com a chegada do Play to Earn, todos esses itens foram transformados em NFTs e passaram a ser considerados ativos, passando a ter valor no mundo real.
O modelo Play to Earn dá aos jogadores a possibilidade de transacionar esses itens utilizando tecnologias de blockchain, o que permite aos gamers transações diretas desses ativos entre si, o que chamamos de P2P (Peer-to-Peer).
Como o mercado de games continua em franca expansão, é bem possível que esse novo conceito de play to earn ainda esteja longe de qualquer modelo/versão final.
A indústria de games como um todo ainda tem paradigmas a serem quebrados.
O principal é a divisão dos ganhos com a comunidade de jogadores. Isso porque nenhuma grande empresa do mercado hoje quer deixar de lucrar.
Entretanto, é claro que os players dessa indústria estão de olho nesse novo modelo e com certeza não vão ficar de fora, à medida que a internet de valor se expande e o conceito de Web 3.0 ganha mais força.
Certamente, o futuro dos games com a integração de modelos Play to Earn será extremamente promissor, senão obrigatório, num contexto de capitalismo 4.0.
O futuro
Diante de toda essa evolução, entendemos que o Play to Earn veio para ficar, sendo um modelo de monetização de games com potencial de movimentar trilhões de dólares nos próximos anos.
Com base em todas essas informações, atreladas aos fatores históricos e evolutivos
da indústria dos games, o que podemos esperar para os próximos anos são diversas aplicações com objetivos de serem descentralizadas, com foco no usuário. E, claro, compartilhando parte da economia do jogo com aqueles que ajudam a mantê-lo atraente para novos jogadores. Nesse sentido, há alguns aplicativos que já estão disponíveis em fase beta que podem dar uma ideia mais clara do potencial que este mercado tem: em um futuro não muito distante, poderemos ver atividades de nossa vida cotidiana serem “gamificadas”, com a real possibilidade de serem remuneradas, como por exemplo:
Move to Earn (StepN)
Bike to Earn (rbicycle.io).
Exercise to Earn (Wirtual).
Meditate to Earn (Proof of Meditation).
Rap to Earn (Cipher).
Sing to Earn (Seoul Star).
Drink to Earn (Hivemapper).
Eat to Earn (Poppin).
Sleep to Earn (Sleep Future).
Learn to Earn (LetMeSpeak).
Paint to Earn (PaperHands).
Govern to Earn (Elastic DAO).
Read to Earn (ReadON).
Watch to Earn (SocialVerse).
É claro que o desenvolvimento dessas soluções só é possível por causa da disponibilidade de tecnologias em blockchain.
Primeiro, porque por meio delas é possível transmitir itens de valor entre jogadores sem intermediários, resguardados por código compartilhado entre uma rede de computadores, ou nós.
Além disso, é justamente a capacidade de estabelecer uma prova de propriedade através de NFTs que estão abrigados em uma blockchains específicas (Ethereum, Solana, etc) que faz com que esses itens dos jogos sejam algo verdadeiramente único, com noção de valor e, por consequência, um ativo digital com valor intrínseco.
Fato é que as tecnologias em blockchain, juntamente com o conceito de Web 3.0, sem dúvidas vão revolucionar diversas indústrias, incluindo a de games.
O Play to Earn, na nossa visão, é apenas o começo de um novo movimento denominado como “Vida to Earn”, onde os usuários serão protagonistas de uma nova economia que os remunera por suas ações e interações.
Por: Helena Margarido e Paulo Ricardo Oliveira