As pessoas físicas, muitas delas recém-chegadas na bolsa de valores, têm sustentado os ganhos nos últimos tempos. Ontem, o temido dia da grande correção, não foi diferente.
Essa por si só já foi uma surpresa, dado que era inesperado o comportamento das pessoas físicas.
A equipe de análise da Wisir Research chegou a mencionar que muitos poderiam não aguentar as perdas. Eles acabariam se desfazendo de posições. Até por conta da falta de experiência.
A surpresa maior partiu dos estrangeiros, que vinham vendendo Brasil. Eles se juntaram às pessoas físicas e foram às compras.
O motivo é que a bolsa de valores está barata em dólar.
Com a alta da moeda americana, existe uma tendência de que os estrangeiros voltam a investir nos ativos do Brasil.
Essa tendência é reforçada pela perspectiva de desaceleração da economia americana. Na ponta da venda, estiveram os fundos de investimentos locais.
Dados
A Wisir levantou que os fundos venderam ontem 43.833 lotes de índice, que correspondem a cerca de R$ 4,6 bilhões.
Os estrangeiros compraram 33.300 (cerca de R$ 3,5 bilhões).
Já as pessoas físicas compraram 5.900 lotes (aproximadamente R$ 630 milhões). O restante, empresas e bancos, compraram lotes menores.
Sem circuit breaker
Desta forma, é possível que, por causa das pessoas físicas e dos estrangeiros, não tenha ocorrido o temido circuit breaker no último pregão.
Agentes do mercado chegaram a citar a possibilidade de circuit breaker antes de o pregão abrir.
O circuit breaker ocorre quando o Ibovespa apresenta queda superior a 10% e todas as operações são interrompidas por 30 minutos.
O Ibovespa encerrou com queda de 7%, confirmando a expectativa de ajustes das ações às perdas que ocorreram em todo o mundo no feriado prolongado de Carnaval.
Em termos porcentuais, foi a maior queda desde 18 de maio de 2017, com o estouro da delação da JBS, o “Joesley Day”, quando a bolsa recuou 8,8%.
Tá, e aí?
Para o assessor da EQI Investimentos Elias Wiggers, o movimento observado de investidores mantendo suas posições, assim como do ingresso de recursos do exterior, para aplicação na bolsa brasileira, visando “aproveitar as oportunidades de baixa”, demonstra o “nível de maturidade” que o mercado adquiriu.
“As pessoas estão com muito mais acesso à informação, muito mais conscientes do mercado e, de certa forma, melhor assessoradas”, avaliou, pontuando que há um aumento significativo do número de assessores de investimento no Brasil.
“Isso só tem fortalecido o mercado e acaba realmente deixando as pessoas muito mais confortáveis, com uma visão de longo prazo. Independente da estratégia, se de curto, médio ou longo prazo, o que importa é que as pessoas estão conseguindo se manter fiéis às estratégias”, afirmou.
Sobre o movimento da Quarta-feira de Cinzas, Wiggers avaliou: “quem tem estratégia de curto prazo está realizando e quem tem de longo prazo está aproveitando para comprar. Disso é feito o mercado. Sempre há espaço para todos (se posicionarem)”.