A Oi (OIBR3 OIBR4) comunicou em fato relevante na noite de segunda-feira (15) que a proposta de aditamento ao plano de recuperação judicial (PRJ) incluirá a venda da Oi Móvel.
A operadora de telefonia definiu como valor mínimo de venda da unidade o montante de R$ 15 bilhões.
O Aditamento ao PRJ prevê ainda a segregação de mais 3 UPIs de infraestrutura passiva: UPI Torres, UPI Data Center e operação de redes de telecomunicações.
A UPI Torres reunirá os ativos e passivos relacionados às atividades de torres outdoor e indoor de transmissão e radiofrequência. O pagamento do preço mínimo atualizado é de R$ 1 bilhão em dinheiro.
Ao passo que a UPI Data Center reunirá os ativos e passivos relacionados às atividades de data center. O preço mínimo estabelecido foi de R$ 325 milhões, com ao menos R$ 250 milhões a vista.
Dessa forma, a Oi espera arrecadar R$ 22,8 bilhões com a da venda da divisão móvel, de data centers, torres e da unidade de infraestrutura.
Preço mínímo
Em teleconferência, o CEO da companhia, Rodrigo Abreu, informou que a fixação de um preço mínimo para a venda da telefonia móvel da Oi levou em conta a necessidade de ter a aprovação dos credores no aditamento do plano de recuperação, a ser examinado em assembleia marcada para agosto
“Para os credores aprovarem, era preciso ter uma receita mínima esperada. O valor foi estabelecido com base em nossa análise interna e de analistas de investimentos. Fizemos uma avaliação justa do preço mínimo e achamos que esse valor pode ser considerado por vários players”, afirmou.
Importante lembrar que as concorrentes Tim (TIMP4) e Telefonica Vivo (VIVT4) são candidatas a adquirir a operação móvel da Oi e podem até fazer uma compra conjunta.
Fibra ótica
Na apresentação a analistas, a Oi explicou que a partir desse ano está dando início à terceira fase do plano de recuperação apresentado em 2016.
O foco será a reestruturação da companhia, com a criação de duas divisões. Uma dedicada à infraestrutura em telecomunicações, batizada de Infra Co, que terá como prioridade a “massificação” do negócio de fibra ótica da companhia. E a outra divisão será a Oi Client Co, voltada para venda, marketing e atendimento.
Segundo a Oi, a decisão atende à necessidade de mudanças frente ao declínio da telefonia fixa e da banda larga baseada em cobre.
A separação estrutural, de acordo com a empresa, foi feita em diversos países no mundo, trazendo geração de valor ao acionista. De um lado uma empresa de rede neutra, focada em infraestrutura. E de outro uma empresa focada nos clientes e em serviços.
A previsão é de que a receita da Infra Co e da Client Co tenha crescimento de 23% e 21% respectivamente, entre os anos de 2021 e 2025, com margem Ebitda maior que 60% e 20%.
Ao nascer, a Infra Co já vai ter parte significativa do negócio de atacado da Oi. A previsão é de que outros players respondam por 30% das receitas.
Credores
O novo plano de RJ prevê que os recursos levantados com as vendas dos ativos sejam direcionados à antecipação de pagamentos de dívidas, o que também melhora as condições de negociação com credores e abre espaço para novas captações.
O plano prevê que credores trabalhistas que tenham a receber até R$ 50 mil serão pagos no prazo máximo de 30 dias da homologação do Aditamento ao PRJ. Isto se constarem da relação de credores do administrador judicial ou sejam objeto de decisão transitada em julgado.
Ao mesmo tempo, os recursos levantados com as vendas serão usados principalmente na expansão dos negócios de fibra ótica.
Bancos
A Oi também propõe no PRJ um desconto de 60% no valor de face das dívidas com bancos. As instituições receberiam os débitos em três parcelas, entre 2022 e 2024. “O que consideramos em primeiro lugar é que é preciso reconhecer o valor justo da dívida, que é bem longe do valor de face. Porque estaremos eliminando o risco dos bancos em 100% e haverá a monetização de todos os pagamentos agora”, argumentou Abreu.
Ele acrescentou que esta é a abordagem principal e o plano tem que ser aprovado por todas as classes de credores. “O que importa é que a maioria das classes aprove o plano. Iremos propor algo que seja equitativo para todas.”
Prejuízo no primeiro trimestre
A Oi reportou também prejuízo líquido de R$ 6,254 bilhões no primeiro trimestre de 2020. No mesmo período de 2019, a companhia apresentou lucro líquido de R$ 679 milhões.
Já o Ebitda (lucro antes juros, impostos, amortização e depreciação) da operadora para o primeiro trimestre de 2020 foi de R$ 1,89 bilhões. Os números refletem uma queda de 27,4% sobre a base anual, com R$ 2,615 bilhões no primeiro trimestre de 2019.
Ao mesmo tempo, a receita líquida total entre janeiro e março de 2020 também apresentou queda, em 6,9%. Passando de R$ 5,08 bilhões no primeiro trimestre de 2019 para R$ 4,7 bilhões no mesmo período de 2020.
O resultado financeiro líquido da Oi totalizou despesas de R$ 6,476 bilhões no trimestre, em comparação a uma despesa de R$ 2,16 bilhões no trimestre anterior. Nos três primeiros meses de 2019, o resultado financeiro foi de R$ 202 milhões.
Posição de caixa
A operadora encerrou o primeiro trimestre de 2020 com um saldo de caixa de R$ 6,31 bilhões, apresentando um incremento de R$ 4,01 bilhões no trimestre.
Nesse sentido, segundo a companhia os principais fatores que contribuíram foram:
- entrada de parte do montante resultante da venda da participação na Unitel, no montante de R$ 3,3 bilhões;
- emissão de debêntures privadas no montante líquido de R$ 2,5 bilhões;
Além disso, houve a finalização do processo da venda do imóvel de Botafogo, no valor de R$ 121 milhões. A venda seguiu em linha com o previsto no Plano de Recuperação Judicial.
OIBR3 em seis meses

Fonte: TradingView
Endividamento
A dívida bruta consolidada da Oi registrou um saldo de R$ 24,44 bilhões no primeiro trimestre de 2020. Alta de 34,1% em relação ao registrado no trimestre anterior.
Do mesmo modo, no comparativo anual, o aumento do endividamento foi de 49,3% ou R$ 8,068 bilhões.
Segundo a companhia, a elevação no trimestre e no ano são decorrentes, sobretudo, da forte desvalorização do Real vs o Dólar em ambos os períodos.
Ao final do primeiro trimestre de 2020, a parcela da dívida em moeda estrangeira representava 63,6%.
Já a dívida líquida totalizou R$ 18,131 bilhões no trimestre, 74,2% maior quando comparada ao mesmo período de 2019.
Balanço forte
Em relatório sobre os resultados da Oi no primeiro trimestre de 2020, o Bradesco destacou o anúncio da parceria com a Mob Telecom para aumentar sua banda larga de fibra ótica. Para o banco, a parceria visa fazer da Oi o fornecedor nacional de rede de transporte e transmissão de dados, oferecendo sua infraestrutura exclusiva para estabelecer as bases necessárias para implantação de 5G no Brasil.
Na opinião do Bradesco, isso significa uma oportunidade significativa no médio prazo.
Com relação à receita de atacado da companhia, que atingiu R$ 274 milhões no primeiro trimestre, alta de 6,9%, o relatório destaca que os números foram impactados pelo serviço de telefonia fixa e banda larga de cobre, que estão caindo na casa dos dois dígitos.
No entanto, o serviço de fibra ótica tem crescimento acelerado e já chegou a aproximadamente 1 milhão de assinantes. Com isso, pode ter uma importância significativa para os resultados consolidados.
“Finalmente, a Oi está em sua melhor posição nos últimos anos, com uma clara estratégia e um balanço muito mais forte após a venda da Unitel, que em nossa opinião não se reflete no preço de suas ações” diz o relatório.
O banco reforça o rating ‘Outperform’ e preço alvo de R$ 1,80 para a OIBR3, que é negociada hoje na bolsa a R$ 0,91, queda de 7,14%. A OIBR4 está em R$ 1,28, queda de 4,48%.
(com Marcia Furlan)