Para falar sobre o boom das commodities e a sua importância no mercado brasileiro, a Money Week recebeu Paolo Di Sora, gestor da RPS Capital, e Rodrigo Barbosa, CEO da Aura Minerals.
Ambos falaram sobre algumas commodities que são muito importantes para o investidor e para o mercado brasileiro. A seguir, confira alguns pontos dessa conversa.
O boom das commodities: quais as perspectivas para o mercado brasileiro?
A crise energética ao redor do mundo fez o petróleo superar os US$ 80. Além disso, o carvão também bateu máximas históricas. Isso desperta preocupações sobre o que se pode enxergar a respeito do cenário futuro para as commodities.
Para Paolo Di Sora, a primeira coisa a fazer é separar os diversos tipos de commodities. Começando pelo petróleo, a crise deve-se principalmente a uma questão estrutural, que é o baixo investimento do lado da oferta no setor de energia como um todo.
“Nos últimos anos, vimos uma queda nos investimentos em energia, principalmente na velha economia (energia suja). O mundo está vivendo um momento de baixo investimento e, ao mesmo tempo, há um ambiente de recuperação de demanda bastante forte. Particularmente no caso do petróleo, isso se deve à retomada da economia por causa do controle da pandemia. Comércio reabrindo e pessoas voltando a andar de carro. Ainda há uma demanda a se retomar por querosene de aviação (setor que ainda não voltou totalmente). Ou seja, a demanda está numa dinâmica de recuperação, com oferta relativamente controlada,” comenta o gestor.
Fatores climáticos
Além disso, há vários fatores climáticos atacando a disponibilidade de energia no mundo todo. No Brasil, temos a crise hídrica, que fez com que as termoelétricas brasileiras voltassem a operar a 100%. Com isso, o Brasil está importando energia do mundo para rodar essas usinas. Isso está inclusive pressionando a disponibilidade de gás no mundo, e estamos vendo o mesmo problema de disponibilidade de energia na China. Soma-se a isso as medidas macroeconômicas para tentar reduzir a emissão de carvão no país.
O mesmo acontece na Europa. Segundo Paolo, por lá já se vê uma retomada forte da economia e com problema de oferta de gás. Tudo isso faz com que as commodities energéticas estejam hoje com preços bastante elevados no mundo. E a expectativa é de que isso perdure por algum tempo. “Talvez não com a mesma intensidade”, afirma o gestor, “pois o preço do gás natural subiu muito. No entanto, acho que não há expectativa de queda nos preços mundiais enquanto as incertezas sobre as condições climáticas no mundo não se dissiparem. Em relação a isso, não esperamos que algo aconteça no curto prazo.”
Sobre as incertezas, Paolo acrescenta ainda a questão do inverno no continente europeu. “Não saberemos de fato a intensidade do inverno até que ele aconteça, principalmente nos primeiros três meses do ano. Por isso, o prêmio de incerteza deve continuar”, conclui.
Por aqui, a mesma coisa. Apesar das chuvas das últimas semanas, o Brasil ainda está com os reservatórios muito baixo, e não saberemos os reflexos disso até que o verão realmente aconteça.
Para Paolo, o problema de disponibilidade de energia não é algo que vá se dissipar no curto prazo. Isso porque os investimentos nesse setor demandam tempo e muito capital. Portanto, esse período de transição no qual estamos terá mais volatilidade de preços até que façamos a transição das fontes de energia. E isso ainda levará muitos anos para acontecer.
Alta das commodities e o impacto para as empresas
Em relação às operações da Aura Minerals, Rodrigo Barbosa diz que o impacto foi sentido de duas formas diferentes. A primeira foi no preço da energia elétrica utilizada nas instalações da planta industrial. A segunda, no custo do combustível, pois a empresa possui uma movimentação grande de minérios, o que é feito por meio de caminhões.
Para o CEO, um ponto importante a analisar é que o Brasil teve uma alta dos combustíveis acima da média mundial. Isso acabou pressionando mais os custos da Aura no Brasil do que em outros países nos quais opera.
No entanto, pelo fato de ouro ser uma commodity de exportação e dolarizada, o câmbio, muitas vezes, acaba compensando as margens comprimidas pelo aumento dos custos.
Minério de ferro e aço e as incertezas mundiais
Em 2021, vimos uma grande volatilidade nas empresas de commodities a partir de meados de junho. Desde então, algumas dúvidas sobre políticas monetárias no mundo e desaceleração do crescimento na China e Estados Unidos despertaram o alerta no mundo de forma geral.
Porém, Paulo se mostra otimista com o boom das commodities e acha que estamos diante de um ciclo de alta mais longo. Em relação à demanda, existem certas dúvidas sobre a economia chinesa. No entanto, para o gestor, o governo chinês deseja um preço estável, para que não haja uma deterioração no patrimônio da população, que está muito baseado em imóveis. Por isso, ele acredita que haverá um controle no sentido de não colapsar a oferta de imóveis por lá.
Saindo da China, o que se percebe é um boom das commodities em relação à demanda. Nesse sentido, Paulo destaca uma forte transferência de renda para as classes C e D no mundo, por meio de políticas fiscais mais inclusivas.
Para o gestor, isso é positivo, pois essas classes consomem mais commodities nas suas cestas de produtos. Além disso, o setor imobiliário também está crescendo em outros países. Por causa da pandemia, as pessoas passaram a investir mais em suas casas.