Uma das gigantes varejistas brasileiras, o Grupo BIG, deve estrear na Bolsa de Valores este ano.
O pedido de IPO (Oferta Pública Inicial) foi feito à CVM (Comissão de Valores Mobiliários) em outubro do ano passado. Mas, nos próximos meses, a estreia deve ocorrer.
Com a transformação em companhia aberta, o Grupo BIG tem nos planos ampliar ainda mais sua atuação, hoje focada muito no Nordeste e Sul do país. Assim, a companhia pretende buscar recursos para investir principalmente em expansão, conversão e reforma de lojas.
Ao estrear na Bolsa, o Grupo BIG entra para um grupo de gigantes do setor alimentício na Bolsa, como Grupo GPA (PCAR3), Grupo Mateus (GMAT3) e o próprio Carrefour (CRFB3).
História do Grupo BIG
O Grupo BIG já mudou de mão algumas vezes.
Em 1995 a rede norte-americana Walmart chegou ao Brasil, com foco inicial de se desenvolver na região Sudeste, com formato de hipermercados. Dez anos depois, já mais madura, a empresa começou a competir de fato com líderes do mercado local, como Carrefour e Grupo Pão de Açúcar. Mas a atuação no Brasil sempre foi marcada por dificuldades.
A partir de 2004, o Walmart começou a ampliar regionalmente sua atuação. Comprou o líder do Nordeste Bompreço, e em 2005, adquiriu a operação brasileira do grupo português Sonae Distribuidora no Sul. Assim, o Walmart incorporou as bandeiras BIG, Nacional, Maxxi Atacado e Mercadorama.
Em 2018 veio uma nova mudança. O Fundo de Investimento Advent comprou 80% do Walmart Brasil, e os 20% restantes ficaram com o Walmart INC. Sem desembolsar dinheiro no negócio, o fundo se comprometeu a investir R$ 2 bilhões até 2021.
Em 2019, foi decidido abrir mão da marca Walmart no país e transformar a empresa em Grupo BIG.
Venda para o Carrefour
Em março de 2021, um novo capítulo no processo: o Grupo Carrefour (CRFB3) anunciou que comprou o Grupo BIG. O valor foi bilionário: R$ 7,5 bilhões. A estimativa é que a combinação crie um grupo com vendas brutas de cerca de R$ 100 bilhões.
A complementariedade dos negócios vai ampliar a base de clientes do Carrefour de 45 milhões para 60 milhões de clientes.
O pagamento da transação será realizado 70% em dinheiro e 30% por meio de emissão de novas ações do Carrefour. O acordo inclui um adiantamento de R$ 900 milhões ao Grupo BIG, e um pagamento adicional condicionado à valorização das ações do Carrefour.
Assim que for concluída a operação, o Grupo Carrefour terá 67,7% de participação no Grupo Carrefour (ante 71,6% de hoje). A Península Participações terá 7,2%, enquanto Advent e Walmart terão juntos 5,6%.
Com a aquisição, o Carrefour administrará a bandeira Sam’s Club, através de um contrato de licenciamento com o Walmart.
A conclusão do negócio depende de aprovação dos acionistas do Carrefour e do Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica). A expectativa do Carrefour é obter o aval até 2022.
Desde 2019, a empresa tem revitalizado suas lojas, seja por meio de reformas de hipermercados e atacarejos ou conversões de hipermercados em atacarejo ou clube de compras. “Apesar das diversas melhorias, ainda possuímos um longo caminho a percorrer para explorar todo o potencial das nossas lojas em todos os formatos”, destaca o Grupo BIG.
O modelo de negócios da empresa
O Grupo BIG afirma que é líder em varejo alimentar no Nordeste e no Sul do Brasil e o terceiro maior do país, em termos de receita bruta, conforme publicação da Abras do ano de 2019, sendo o único com controle local e presença nacional.
O Grupo BIG opera nos dois segmentos de negócios: atacado e varejo.
O segmento de atacado é composto pelos formatos atacarejo (Maxxi Atacado) e clube de compras (Sam’s Club).
Já o segmento de varejo pelos formatos hipermercados (BIG e BIG Bompreço), supermercados (Superbompreço, Nacional e Mercadorama); soft discount (TodoDia) e postos de combustíveis.
A empresa ainda presta serviços financeiros para seus clientes. Em 2020, lançou seu e-commerce, e ainda possui uma parcela relevante dos imóveis nos quais as lojas estão instaladas.
A empresa está presente em 18 Estados e Distrito Federal, distribuída em 181 municípios e forte presença nas regiões Nordeste e Sul do país. São cerca de 50 mil funcionários.
Planos de crescimento
O plano de crescimento do Grupo BIG se baseia, principalmente, na abertura de lojas de atacarejo e de clube de compras. Tanto em localidades anteriormente ocupadas pelos hipermercados quanto em novas localidades.
Também como parte deste plano a empresa vai focar no crescimento de vendas nas mesmas lojas em todos os formatos, inclusive impulsionados pelo crescimento do e-commerce.
“Em 30 de setembro de 2020 já tínhamos 93 hipermercados reformados e 7 convertidos em Maxxi ou Sam’s Clubs. Ainda possuímos 11 hipermercados a serem convertidos para os formatos de atacado, o que nos leva a acreditar em crescimento de vendas nas lojas a serem convertidas além de 13 lojas de hipermercados já fechadas em processo de conversão”.
Assim, a empresa foca principalmente nas seguintes estratégias para crescer:
- Crescimento do formato Maxxi por meio de conversões e novas lojas;
- Crescimento do formato Sam’s Club com a expansão orgânica por meio de conversões de hipermercados e abertura de novas lojas;
- Recuperação e sustentação dos hipermercados por meio da revisão do modelo de negócios;
- Recuperação dos supermercados através de novo posicionamento estratégico, com novo mix de produtos e melhoria na infraestrutura de loja;
- Fortalecimento das vendas digitais oferecendo uma solução omni-canal;
- Eficiência das áreas de suporte para aumentar a produtividade, reduzir os riscos e alavancar a rentabilidade do negócio;
- Potencializar a geração de valor por meio de ativos complementares, incluindo créditos fiscais, ativos imobiliários e serviços financeiros.
Números do Grupo BIG
No prospecto preliminar enviado à CVM em outubro de 2020, a empresa apresenta seus resultados financeiros relativos aos nove meses findos em 30 de setembro de 2019 e 2020.
A empresa passou de um prejuízo de R$ 80 milhões até setembro de 2019 para um lucro líquido de R$ 3,0 bilhões até o mesmo mês de 2020. Assim, a margem líquida foi de -0,5% para 19,5%.
A receita líquida subiu de R$ 14,9 bilhões (2019) para R$ 15,7 bilhões (2020).
As vendas nas lojas de varejo subiram 16%, para R$ 16,1 mil por metro quadrado e 5% no atacado, para R$ 31 mil por metro quadrado.
Detalhes do IPO
A oferta do Grupo BIG é primária e secundária. Ou seja, os recursos arrecadados vão para o caixa da companhia (primária) e para o bolso dos acionistas (secundária). Os preços e prazos do IPO ainda não foram divulgados.
Os recursos da oferta primária serão usados para abrir novas lojas de atacado e postos de combustível. E ainda converter lojas de unidades de varejo em lojas de atacado, reformar lojas atuais, e investir em sistemas de TI e outros projetos.
Na oferta secundária os acionistas Walmart e FIP Momentum, da gestora Advent International, vão vender suas participações.
O organograma societário mostra que o FIP Momentum possui 81,1% do capital social do Grupo BIG. A Brazil Holdings, do Walmart, tem os outros 18,9%.
O Walmart decidiu sair do Brasil após sentir dificuldades em replicar seu modelo de negócios. A americana diz que sentiu os efeitos de um mercado varejista altamente competitivo e extremamente promocional, além de questões internas, especialmente o fato de a gestão ser centralizada nos Estados Unidos.
A operação é conduzida por Itaú BBA, Bank of America, BTG Pactual (BIPAC11), Credit Suisse, Bradesco BBI e JPMorgan.
Pontos fortes da empresa
- Liderança regional no Nordeste e no Sul do país com presença no Sudeste e escala nacional competitiva;
- Companhia multiformato e democrática com vendas balanceadas entre as regiões Nordeste, Sul e Sudeste;
- Pioneirismo no formato de clube de compras;
- Capacidade de expansão, reformulação e renovação das lojas de varejo e atacarejo;
- Alinhamento estratégico com os acionistas, que contribuem significativamente com sua experiência nos setores de varejo e consumo no Brasil, bem como forte comprometimento com as melhores práticas de ESG.
Pontos fracos do Grupo BIG
- A companhia pode não conseguir manter e melhorar o reconhecimento de suas marcas ou pode receber avaliações desfavoráveis de consumidores, bem como pode ser alvo de publicidade negativa, o que poderia afetar adversamente suas marcas;
- A Companhia pode perder o direito de utilizar as Marcas Sam’s Club e operar o “Sam’s Club Brazil Business”;
- A companhia pode não conseguir proteger os seus direitos de propriedade intelectual ou utilizá-los de forma eficaz, bem como manter o direito ao uso de propriedade intelectual de terceiros;
- Problemas nos sistemas de tecnologia da informação da companhia, incluindo no âmbito da transição de sistema de tecnologia da informação do Walmart US para a companhia, ou a incapacidade do Grupo BIG de acompanhar a velocidade do desenvolvimento da tecnologia, poderão impactar adversamente suas operações.