A Caixa Econômica Federal está em negociações com investidores internacionais em busca de parcerias para a oferta de financiamento imobiliário.
Carlos Vieira, presidente-executivo do banco estatal, revelou em entrevista ao portal Inteligência Financeira que diversos bancos do continente asiático e um país europeu têm sido abordados para esta possível colaboração.
No entanto, as discussões envolvem preocupações dos investidores, especialmente em relação à proteção contra oscilações cambiais. Vieira acredita que, uma vez que essas questões cambiais sejam resolvidas, a parceria poderá avançar de maneira eficaz.
Essa iniciativa faz parte dos esforços da Caixa para lidar com a contínua evasão de recursos da caderneta de poupança, principal fonte de financiamento imobiliário no Brasil. O aumento dos resgates na poupança em 2023, que superaram as aplicações em R$ 88 bilhões, motivou a busca por alternativas.
Vale dizer que a poupança desempenha um papel significativo no financiamento do mercado imobiliário no Brasil por meio do Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo (SBPE). Esse sistema é um conjunto de regras e instituições financeiras que operam para canalizar os recursos da poupança para o financiamento habitacional.
A dinâmica funciona da seguinte forma:
- Os bancos captam recursos da poupança por meio dos depósitos feitos por indivíduos em contas específicas de poupança. Esses depósitos são remunerados por uma taxa fixa, além de uma parte variável que é atrelada à Taxa Referencial (TR) e à taxa Selic, caso esta esteja abaixo de 8,5% ao ano.
- Uma parte dos recursos captados na poupança é direcionada para o financiamento imobiliário. Esse montante é regulamentado e deve ser utilizado pelos bancos em empréstimos para aquisição, construção, reforma ou ampliação de imóveis residenciais.
- Os bancos utilizam os recursos provenientes da poupança para conceder empréstimos a indivíduos interessados em comprar imóveis. Esses empréstimos geralmente possuem condições atrativas, como taxas de juros mais baixas em comparação com outros tipos de crédito.
- Os mutuários pagam mensalmente suas prestações, que incluem a amortização do saldo devedor e os juros. Esses pagamentos contribuem para a geração de novos recursos na poupança, pois parte dos rendimentos das contas de poupança é repassada para os mutuários, formando um ciclo contínuo de captação e reinvestimento.
Com a combinação de juros elevados e a crescente busca por investimentos alternativos, a poupança perdeu recursos de maneira consistente.
A Caixa, responsável por cerca de 70% do financiamento imobiliário no país, passou a buscar, assim, outras fontes de financiamento, incluindo captações com instrumentos de mercado como Letra de Crédito Imobiliário (LCI), Certificado de Recebíveis Imobiliários (CRI) e Letra Imobiliária Garantida (LIG).
Embora essas captações tenham custos mais elevados, a Caixa, por ora, optou por não repassar integralmente esse aumento para o custo do crédito imobiliário.
A taxa de balcão para financiamento imobiliário pelo SBPE (Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo) permanece em 9,99% ao ano.
Outra frente em que a Caixa está atuando é na redução dos depósitos compulsórios junto ao Banco Central. A instituição busca convencer o BC a diminuir essa exigência, o que liberaria recursos extras para empréstimos imobiliários. Vieira estima que uma redução do compulsório representaria um acréscimo de R$ 50 bilhões a R$ 60 bilhões para o financiamento imobiliário.
Apesar de admitir maior seletividade na aprovação de pedidos de financiamento imobiliário, o presidente da Caixa assegura que há recursos disponíveis para sustentar o ritmo dos financiamentos até o terceiro trimestre deste ano.