O Banco Central do Brasil está, desde março deste ano, elevando de forma ininterrupta a Selic, taxa básica de juros da economia brasileira, que chegou, há poucas semanas, a 5,25%. Com isso, muitas pessoas acabam sendo atraídas para a renda fixa, focando seus aportes em títulos do tesouro, CDBs, CRIs e por ai vai. Há, porém, na renda variável ainda muitos papéis apresentando boas oportunidades com seus dividendos.
O provável é que, nas próximas reuniões do COPOM, o juros continue avançando – a inflação brasileira, medida pelo índice IPCA, está forte, acumulando alta de mais de 8% nos últimos 12 meses, e as autoridades monetárias devem dificultar o acesso ao dinheiro para freá-la. No último boletim Focus, o BC colocou a estimativa para a Selic em 7,25% ainda neste ano.
Mesmo com essa alta, se a inflação não for amenizada, o Brasil terá um cenário de juros negativo, com as pessoas que investirem em títulos na Selic vendo parte do seu patrimônio sendo mastigado pela a inflação.
E é em parte por isso que boa parte dos gestores e especialistas continuam optando pela renda variável, como ações na bolsa. Nesta, algumas empresas devem pagar um dividend yield, ou retorno sobre investimento ao ano, de quase o dobro do que a Selic oferece, possibilitando uma “fuga da inflação”.
Confira algumas das companhias que devem superar o rendimento da taxa Selic em 2020:
Vale (VALE3) pode distribuir dividendos de até 20% o preço da ação
A Vale (VALE3), maior empresa brasileira em valor de mercado, está apresentando em 2020 resultados sólidos, impulsionados pela retomada econômica mundial, pela disparada do preço do minério de ferro e também por mudanças internas que realizou.
“A Vale tem sido relativamente bem-sucedida em atender às principais preocupações dos acionistas nos últimos meses. Os dividendos estão bem encaminhados e vemos retornos de caixa relevantes para 2021, com yield de 15 a 20% no ano”, comenta o BTG Pactual em relatório sobre a mineradora.
Taesa (TAEE11)
Companhia do segmento de transmissão de energia elétrica, atua em todas as cinco regiões do país, com 36 concessões e 12,7 mil quilômetros de linhas.
É uma das maiores do seu setor quando o assunto é receita anual permitida e dedica-se exclusivamente à construção, operação e manutenção de ativos de transmissão.
“Ela conseguiu manter uma estabilidade positiva da sua receita, demonstrando a resiliência do seu modelo operacional e do setor em que atua, mesmo em momentos difíceis da economia”, conta o BTG Pactual. “Conseguiu elevar sua margem líquida de 48% para 81%, com uma margem EBITDA estável próxima a 80%”, completa.
Com o nível forte de eficiência operacional, a companhia, para o BTG, deve entregar um dividend yield de até 15,4% no ano.
Copel (CPLE6)
Essa concessionária estatal, que cobre 98% do Paraná, tem 4.756 MW de capacidade de geração.
Atualmente, sua política de dividendos é de um payout de 65% do lucro líquido caso o múltiplo de alavancagem, medida pela relação entre dívida líquida e Ebtida, fique abaixo de 1.5.
“Tudo indica que ficará abaixo. Do ponto de vista operacional, acreditamos que o 2T21 virá forte com recuperação de volumes de 12,2% na base anual”, afirmaram os analistas do BTG.
A expectativa é que a companhia entregue um dividend yield de 10% no ano.
Banco do Brasil (BBAS3) deve ser instituição financeira a distribuir mais dividendos
O Banco do Brasil (BBAS3) surpreendeu no segundo trimestre, com lucro líquido ajustado de R$ 5 bilhões – 10% acima do consenso do mercado. Com mais dinheiro entrando em caixa, o provável é que a instituição financeira aumente as suas distribuições aos seus acionistas.
O BTG Pactual fixou, em seu último relatório, a projeção de um dividend yield de 8,1% no ano.
ISA Cteep (TRPL4)
A ISA Cteep é a maior empresa privada de transmissão do setor elétrico brasileiro, atuando em 17 estados do país e responsável por cerca de 33% de toda energia elétrica transmitida pelo Sistema Interligado Nacional (SIN). Possui uma capacidade instalada de 65,9 mil MVA e 18,6 mil quilômetros de linhas de transmissão.
“Em junho, a ANEEL aprovou um aumento de 9,75% nas receitas de 2018 do contrato 059/2001, de R$ 2,4 bilhões para R$ 2,6 bilhões” explicou o BTG Pactual.
Com esse fluxo de caixa, o esperado é que a companhia continue a pagar dividendos consideráveis – a projeção do BTG para 2021 é de um yield de 6%.
Bradesco (BBDC4)
Outra instituição financeira que o BTG vê, provavelmente, como uma possível boa pagadora de dividendos em 2021.
Apesar de o resultado do segundo trimestre ter vindo um pouco mais fraco do que o esperado, com lucro líquido de R$ 6,3 bilhões, as taxas de serviços e ganhos com tesouraria estariam melhores do que o esperado.
Ainda haveria, para esse banco, apesar de sua diversificação, pouco espaço para investimentos com muito retorno.
O BTG Pactual projeta para o Bradesco um dividend yield de 5,8% ao ano.
BB Seguridade (BBSE3)
A BB Seguridade deve entregar, dentro das expectativas do BTG, um dividend yield de 6,3% em 2021.
Apesar de o resultado do segundo trimestre ter sido mais fraco do esperado, com maior sinistralidade, a receita da BrasilPrev e da BrasilSeg foram bem e os balanços devem normalizar no futuro, com menor impacto da Covid-19.
A BB Seguridade figurava na carteira de dividendos do BTG Pactual até agosto, mas foi retirada, principalmente, pelo aumento dos ruídos políticos.
Alupar (ALUP11)
A concessionária de transmissão e geração tem um receita anual permitida de transmissão de R$ 2,15 bilhões e 687 MW médios de capacidade de geração.
“A Alupar negocia a uma taxa interna de retorno implícita de 8.6% pois tem ativos ainda em construção. Porém, a maior parte dos projetos entra em operação esse ano e ano que vem, e esperamos um aumento nos dividendos”, comenta o BTG Pactual.
A expectativa do banco é que a companhia tenha um dividend yield de 5,6% ao ano em 2021.
Santander Brasil (SANB11)
O Santander vem surpreendendo em seus resultados – no segundo trimestre, o lucro líquido, de R$ 4,2 bilhões, ficou acima do consenso do mercado, e o banco não possui muito espaço para aplicar esse dinheiro, uma vez que é o menor com diversificação de receita entre os seus pares.
Além disso, o possível IPO da GetNet também deve trazer retorno para os acionistas da companhia.
O BTG Pactual projeta que o banco pagará, no ano, um dividend yield de 5%, o que pode, provavelmente, aumentar se o IPO sair do papel.
Engie (EGIE3) é ultimo lugar no top 10 dividendos
Outra companhia do setor elétrico, viu seus resultados operacionais melhorarem no segundo trimestre, produzindo mais energia, a despeito da crise hídrica no país – com o Sul do país, região em que mais atua, em melhor situação.
Apesar de ter sido retirada da carteira de dividendos do BTG, a Engie não foi descartada exatamente pelo seu desempenho – mas sim pelo que foi apresentado pela empresa incluída.
A companhia, recentemente, aprovou o pagamento de R$ 0,97 por ação, com um payout de 100% – o que os analistas acreditam que pode se perpetuar.